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O quadrinista do hip hop, Ed Piskor

O quadrinista do hip hop, Ed Piskor

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“Eu acho que as histórias reais, sobre pessoas de verdade que fizeram coisas extraordinárias, são realmente inspiradoras e mais interessantes de serem contadas do que enredos de ficção”

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Ed Piskor.

O quadrinista e historiador do hip hop norte-americano ED PISKOR, acaba de lançar no Brasil o livro “Hip Hop Family Tree“, traduzido para o português como “Hip Hop Genealogia“. O livro HQ sai pela editora VENETA e já está a venda nas principais livrarias do país.

Abaixo você confere um bate-papo com o autor do livro, publicada originalmente no portal Vitralizado.

ENTREVISTA POR RAMON VITRAL.

Vitralizado: Você lembra do instante em que teve a ideia de criar Hip Hop Genealogia?
Ed Piskor: Eu tive a ideia no dia 1º de janeiro de 2012 e comecei a trabalhar imediatamente naquele mesmo dia. Eu queria fazer algo relacionado ao imaginário do universo Hip Hop há anos e anos. Acordei nas primeiras horas do ano novo e decidi me ocupar na criação de uma história cronológica do Hip Hop e do Rap.

Vitralizado: Suas referências e citações são muito precisas. Quanto tempo você passou pesquisando para a criação da série?
Ed Piskor:
A cada semana eu finalizava cerca de duas páginas. A maior parte do tempo eu gastei na fase de criação do texto, o que também inclui as minhas pesquisas. Eu determinava quais momentos eu queria cobrir, depois gastava um tempão pesquisando cada um desses momentos, fosse em registros textuais ou gravações de rádio e, ocasionalmente, conversando com algumas pessoas.

IMG3-22 O quadrinista do hip hop, Ed PiskorVitralizado: O lançamento do primeiro volume mudou de alguma forma a dinâmica do seu relacionamento com os artistas presentes na obra?
Ed Piskor:
Eu fui procurando por vários músicos que gostaram dos livros e quiseram ajudar nas edições seguintes. As reações foram extremamente legais ao redor do mundo.

Vitralizado: Um outro livro seu que foi publicado aqui foi o The Beats, também uma obra de não-ficção com elementos biográficos. Você tem um gosto particular pelo gênero?
Ed Piskor:
Eu acho que as histórias reais, sobre pessoas de verdade que fizeram coisas extraordinárias, são realmente inspiradoras e mais interessantes de serem contadas do que enredos de ficção.

Vitralizado: Um dos aspectos mais interessantes de Hip Hop Genealogia é a adaptação do seu estilo pessoal às características do período sobre o qual está narrando. Foi muito difícil estabelecer a ambientação de cada um desses contextos?

Ed Piskor: É com certeza desafiador. Mas colocando as coisas em perspectiva é muito mais difícil viver construindo um telhado ou subindo paredes, então você nunca vai me ouvir reclamando do meu trabalho com quadrinhos. É a coisa mais legal que posso fazer com as minhas roupas no corpo.

Vitralizado: Gosto muito das páginas finais do livro, quando você compara quadrinhos e Hip hop, chamando ambos de “produtos culturais bastardos que ganharam respeito crescente com o passar dos anos”. Você lembra do instante que fez essa constatação? Ainda vê muitas relações entre esses dois
Ed Piskor:
Não havia muitas pessoas falando sobre quadrinhos enquanto eu crescia. Acho que já tinha uns 20 anos quando conheci alguém com quem pude conversar sobre HQs. O Rap sempre foi o estilo musical mais popular do lugar de onde vim, mas era completamente ridículo escutar rap das antigas, era preciso estar sempre por dentro do que estava acontecendo. Desde o começo eu sempre soube que os meus interesses eram diferentes da maioria, daí essa leitura dos quadrinhos como crianças bastardas da indústria cultural. Quanto mais me envolvia nesse projeto mais relações eu via entre Hip hop e quadrinhos, fosse por capas de álbuns, grafites, projetos paralelos de alguns artistas e outras coisas do tipo.

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Vitralizado: Ainda sobre essa relação entre quadrinhos e música. Vivemos em um mundo cada vez mais de nichos com alguns poucos blockbuster e sucessos dominando a cultura mainstream. Você costuma pensar na forma como artistas buscam sobreviver nesse contexto?
Ed Piskor:
Na verdade não costumo pensar muito sobre isso. Eu sei que sempre estarei de boa por que estou sempre bastante disposto. Enquanto existir papel eu estarei fazendo quadrinhos – e vendendo por conta própria caso seja necessário.

Vitralizado: E sei que o Havery Pekar foi muito importante para a sua carreira. Você pode falar um pouco sobre ele?
Ed Piskor:
O Harvey tinha essa mesma predisposição que eu mencionei anteriormente. Ele também era ótimo em perceber o instante perfeito para falar sobre um assunto antes de todo mundo.

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Vitralizado: Os EUA estão às vésperas de uma eleição presidencial com candidatos de extremos. Há algum quadrinho de teor político que chama sua atenção hoje em dia?
Ed Piskor:
Na verdade nada chama muito a minha atenção, com exceção de alguns trabalhos específicos, como as coisas sendo publicadas no The Nib. Acho que meus irmãos quadrinistas estão tão na seca por leitores e compradores que não querem ofender ninguém.

Vitralizado: E o que você tem lido/visto/escutado ultimamente? Tem alguma obra que você consumiu recentemente e recomenda?
Ed Piskor:
Eu gostei bastante de Stranger Things no Netflix. O estilo da narrativa, algo que tem sido tão importante para mim ultimamente, me fez lembrar o Tintin do Hergé e o Príncipe Valente do Hal Foster.