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Mesclado: o samba pede passagem

Mesclado: o samba pede passagem

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Foto: Equipe F.D.E.

                  Grupo continua apostando no batuque como fonte de inspiração para seus raps

Nas décadas de 80 e 90, as equipes de baile dominavam a cena black em São Paulo e tinham programas populares em algumas rádios. Foi nesse contexto que a educação musical de grande parte da juventude das periferias foi moldada. Sessões de funk, balanço, samba, samba-rock, rap e as famosas melodias – músicas românticas feitas por artistas negros brasileiros e norte-americanos – eram a trilha dos finais de semana da função.

O grupo MESCLADO é fruto dessa geração, formado por DJ Tony-Di, Jel e Man13, o trio conta sua história com muito ritmo. Em U-Rap Bamba, seu terceiro disco, o Mesclado faz a já tradicional mistura de elementos acústicos, samples, scratches e programações para passar a vibração dos bailes de periferia. DJ Tony-Di fala um pouco desse lance instrumental:

“O trabalho tem uma abertura com os músicos que tocam com a gente, mas o lance do sample é o resgate, sacou? Não é falta de opção, é um olhar voltado para a música brasileira do passado. Daria pra gente utilizar muitos mais samples, mas no Brasil é muita burocracia pra liberação, direitos autorais. Sempre que o artista vai pegar uma liberação os caras só pensam em cifras. Nosso disco é essa mistura, mesmo as músicas que têm samples possuem algo tocado.”

Man13, um dos MCs do Mesclado, também comenta: “a gente tem um entrosamento. A produção fica a cargo do Tony, mas ele também dá ideias, escreve algumas coisas. Ficou muito material de fora do último disco, utilizamos muita coisa nesse trabalho atual.”

OUÇA “MINHA FAVELA”, FAIXA DO DISCO U-RAP BAMBA

Luta e celebração
A vida de quem se vira nos guetos e mesmo assim busca inspiração para se divertir vem carregada com a experiência de seus integrantes. “A questão é essa: abordamos o social e o político, sem ter vergonha de falar de amizade, amor, família, sobre a beleza da mulher brasileira. A gente tenta falar com muito cuidado pra não tornar tudo vulgar”, afirma Man13.

Apesar do groove e peso do rap, o samba e a reverência aos mestres da nossa música popular guiam o álbum do grupo.

“Rap bamba é uma referência aos mais velhos. Vem da gíria antiga do samba, uma maneira de elogiar quem tinha talento, é uma homenagem aos sambistas da velha guarda. Também é sobre o bom malandro, aquele que conseguia destaque na sua profissão, chamava a atenção das mulheres. Em relacão ao CD, falamos da diversidade de estilos brasileiros no rap”, comenta DJ Tony-Di.

OUÇA “DINHEIRO AO MUNDO CAPITALISTA”

Levantando bandeira, mas sem perder ginga
“Viemos dessa mescla. Viemos do samba, samba-rock, MPB. O que seria da capoeira sem a ginga? Na hora de produzir o disco, pensamos nisso também. Vejo muito sotaque americano no rap brasileiro, percebo isso e fico me perguntando: o que está acontecendo? Gosto da música americana, mas acho que as pessoas tentam fugir da origem, da cultura brasileira. O rap não pode cair nesse truque”, sentencia Tony-Di.

Man13 concorda com o DJ. “O Flavor Flav, do Public Enemy, já falou que temos tudo pra fazer um novo rap com as influências que temos aqui no Brasil”, comenta o MC.

Mesmo trabalhando na divulgação de O Rap Bamba, o grupo continua fazendo planos. “Temos músicas guardadas pro próximo trabalho. Pensamos nesse futuro próximo”, finalizam.

[+] Clique aqui e conheça os discos anteriores do Mesclado.

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