Mano Brown e a Roda Viva – Parte 1
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O portal Bocada Forte registrou os bastidores da participação do líder dos Racionais MCs no programa Roda Viva.
É sempre assim. Qualquer acontecimento que envolve o rapper Mano Brown, dos Racionais MCs, causa grande expectativa. Num dia frio e chuvoso de setembro, às 19 horas, uma funcionária da TV Cultura busca informações na recepção da emissora. A jovem negra quer saber se tem alguma chance de ver seu ídolo de perto e, quem sabe, trocar alguma ideia.
Nos corredores e salas do prédio, todas as atenções estão voltadas para Zé Maria, pesquisador de longa data na cena cultural, conhecedor do acervo da TV Cultura e do Museu da Imagem e do Som (MIS). Este senhor é um dos responsáveis pela pesquisa de imagens do filme “Pelé Eterno” e do DVD “1000 trutas, 1000 tretas”, dos Racionais. Zé Maria é a ponte entre Mano Brown e a emissora de TV. Sua amizade com o MC começou no ano de 2004. Este laço de lealdade trouxe a aproximação do rapper com a diretoria do programa Roda Viva. Uma parte dos funcionários sabe disso, no restaurante, cozinheiras, seguranças, faxineiros, estagiários, entre outros profissionais, perguntam se poderão se aproximar de Mano Brown. Zé Maria diz que tudo depende da hora que ele chegar, se tiver tempo, o rapper troca uma ideia.
Na produção do Roda Viva, a preocupação é outra. Conhecem bem o outro lado da relação entre Brown e a grande mídia, não querem falhar. Vicente Lomonaco, editor do programa, aborda a importância do integrante do grupo de Rap mais importante do país.
“Nesta edição o programa traz um perfil diferente do que está acostumado a trazer, acredito que podemos mostrar o Mano Brow para a classe e o perfil dos telespectadores do Roda Viva, pois acredito que há muita gente que não o conhece”, afirma Lomonaco em entrevista concedida ao portal Bocada Forte.
O diretor Marcelo Bairão, diz que o Roda Viva sempre se caracterizou pela diversidade de personalidades das mais variadas áreas, segundo ele, Mano Brown é um representante do Rap e de uma parcela da sociedade brasileira, é a voz das pessoas oprimidas, das pessoas que vivem na periferia, uma pessoa importante e que precisa ser entrevistada, assim como várias personalidades da vida brasileira e de outros setores. “Pra nós é muito interessante que ele tenha aceitado, ele é meio avesso à impressa, mas eu soube que ele até é fã do Roda Viva, é bom que as pessoas conheçam as ideias dele”, conclui Bairão.
Quase na hora
21h40. Os Racionais chegam junto com os grupos Rosana Bronks e U-Time e os parceiros Primo Preto, Black Blue e João Wainer, entre outros. Pergunto para Mano Brown se ele conhece o trabalho dos entrevistadores desta edição do programa. O rapper fala que não conhece ninguém, que não tem intimidade com ninguém que está ali. “Não quero que o Roda Viva seja um especial do Mano Brown e Racionais MCs. Não quero ninguém me alisando”, sentencia.
Sobre a decisão de ir ao programa, Brown diz: “achei que já estava na hora, vou falar o que eu sei e o que eu não sei, dizer o que eu sinto”. Procuro saber se ele está nervoso ou apreensivo. O rapper responde: “eu faço a minha cara, eles fazem a cara deles, esta é a cena, sempre foi assim, é uma entrevista, mas tem que ser confronto”.
Maspingon e Negreta, integrantes do Rosana Bronks, acham importante a participação de Mano Brown no Roda Viva, para eles, depois que as pessoas ouvirem Brown, terão outra ideia do que é o Rap, sem distorções.
O presidente da TV Cultura e apresentador do Roda Viva, Paulo Markun, expõe sua expectativa. “Eu espero que seja a comprovação daquilo que a gente vem fazendo há 21 anos. O Roda Viva é um programa plural, um programa que não tem uma posição definida sobre nada, salvo, a idéia que a democracia ajuda. A liberdade de você se expressar e de ouvir a opinião de pessoas que são influentes na sociedade, no total sentido da palavra, pode ser um passo adiante pro Brasil. Nós já tivemos aqui gente de todas as áreas, gente de todos os campos. Quem não veio ao Roda Viva, ou não veio porque, de alguma forma, o programa considerou que não a pessoa não tinha o que dizer, pois, tem muita gente que está na capa das revistas e nas manchetes dos jornais e não tem o que dizer, ou não aceitou o convite. O Mano Brown aceitou, é uma honra pra nós”.
Mano Brown está sério, pensativo, mas quando seus companheiros se aproximam, ele se descontrai, fala de futebol, da situação do Santos, dos escândalos do Corinthians. O rapper se esquiva dos flashs, o cinegrafista da TV Cultura tem dificuldade para registrar os movimentos de Brown, cada nova intervenção é sabotada pelo MC, mas quando um jovem funcionário ou funcionária pede para tirar uma foto com ele, não tem jeito. Mano Brown cola ao lado da pessoa e faz um sinal positivo, sem nenhum problema.
22h30. Aos poucos, convidados, platéia, entrevistadores e entrevistado se dirigem ao estúdio. O programa vai começar. Estamos no dia 27 de setembro de 2007.
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