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Helião: “o amor pelo RZO foi decisivo”

Helião: “o amor pelo RZO foi decisivo”

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10410315_605352802909671_578282442417273702_n Helião: "o amor pelo RZO foi decisivo"
Por Yara Morais

Bocada Forte: Voltando no início da carreira, na primeira formação do RZO, como o Rap surgiu na sua vida?
Helião:
Desde muito criança eu sempre quis ser músico porque a música sempre esteve presente em minha família. Lembro quando, por volta dos 6 anos, minha mãe, preparando comida na pia e no fogão, cantava Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Martinho Da Vila, Beth Carvalho, enquanto eu batucava na mesa. Depois, mais pra frente, toquei atabaque no terreiro. No começo dos anos 80, morei na casa da minha tia, na Zona Sul, e toquei baixo na banda de rock “Prisioneiros Do Apocalipse”, do meu tio. Tocávamos Led Zeppelin, Uriah Heep, AC/DC, Iron Maiden, Black Sabbath… Depois voltei para Pirituba, toquei e cantei samba num pequeno grupo de amigos na Favela Da Mandioca. A gente tocava Zeca Pagodinho, Fundo De Quintal e Originais Do Samba, entre outros. Por volta de 1983 ouvi o primeiro Rap nacional de Mike, Pepeu e Dj Bacana, chamava-se “A Melô Do Bastião”. Isso pra mim foi o mapa da mina, pois já era bom de composição e não encontrei dificuldade em escrever meus primeiros Raps. Era bem mais fácil, pois não dependia de banda, era comprar as bases instrumentais na “Galeria 24 De Maio”, compor e cantar.

Bocada Forte: Qual a diferença de bagagem musical da primeira formação do grupo, para a formação atual (da volta)?
Helião: Muita diferença. O Rap hoje, além de ainda ser forma de expressão, também é música e eu compartilhei e aprendi com pessoas que entendem muito de música, como por exemplo, o Zeca Do Cavaco (Escola De Samba Vai-Vai), Ronaldinho (Fundo De Quintal), Daniel Ganjaman, Davi Corcos, um power trio formado por Jucy Melodi, Dan Levadas e Willian Batida, Racionais Mc’s, Banda Black Rio, Lino Krizz, Leandro Lehart, além do meu grupo RZO, pois nunca perdemos o contato nesses 10 anos.

Bocada Forte: Que fato mais pesou para essa volta?
Helião:
Muitas coisas contribuíram. No meu caso, o amor pelo RZO foi decisivo para lutar pela volta.

Bocada Forte: Sabemos que a Negra Li é um dos grandes potenciais do grupo. O que vocês acham desse espaço que as mulheres vêm conquistando no Rap?
Helião:
Tenho muitas influências, e o Rap norte americano é uma delas. Nos anos 90 escutava Lil Kin, EVE, Queen Latifah, Lady Of The Rage, Salt and Pepa entre outras. O vocal feminino no Rap já soava incrivelmente pra mim e passou a ser um objetivo muito bem realizado com a chegada de Negra Li. Mais tarde, tivemos a honra de Dina Di. É fundamental que tenhamos mulheres na linha de frente do Rap Nacional, sempre vou incentivar porque ainda acho que tem poucas.

Bocada Forte: As letras e pensamentos do Rap tiveram modificações ao longo dos anos. Vocês acreditam que, mesmo com isso, é possível fazer sucesso com letras feitas a partir de problemas sociais, ou seja, falando da periferia, da política e, de tudo aquilo que era o foco do Rap em meados anos 90?
Helião:
Sim! É lógico que não é só o tema influi, a música tem que ser bem produzida, bem tocada, bem cantada. Mas, acredito que ainda temos grande parte dos problemas dos anos 90.

Bocada Forte: Existe entre vocês certo receio ou apreensão em relação aos novos Raps que estão compondo? Afinal, o sucesso da volta do RZO mostrou a força e a atualidade das músicas antigas do grupo.
Helião:
Não. Na verdade estamos ansiosos para lançar as novas canções porque elas tem passado por nosso controle de qualidade, que é muito exigente. É lógico que temos espírito inovador, então temos que sair da zona de conforto. Antigamente dava muito trabalho produzir músicas, porque sonhar é fácil, difícil é materializar o sonho. Mas a músicas novas estão com a cara do RZO.

Bocada Forte: Acham que o impacto numa nova cena com um novo público e manter parte do público formado nos anos 1990 é um imenso desafio?
Helião:
Não é um imenso desafio. Não existe nada fácil, mas sabemos a fórmula e temos as ferramentas. Só precisamos de um tempo pra desenvolver os projetos que estão em andamento.

Bocada Forte: Qual o seu maior ídolo, tanto na vida, quanto dos palcos?
Helião:
Não sou religioso, mas meu maior ídolo é Jesus. Agora no palco, gosto de muitas tendências, muitas bandas, cantores e cantoras. Atualmente trabalho com um dos meus ídolos, Racionais Mc’s.

Bocada Forte: O que o público de vocês pode esperar desse retorno?
Helião:
Poxa vida, como é satisfatório para um artista ter seu público! Fomos bem recebidos nesse retorno. Eu amo nosso público porque estou sempre me vendo ao lado deles, também sou público e tenho meus ídolos. Queremos o RZO presente na vida deles, a princípio um CD novo, muitos shows e logo mais um DVD bem produzido com a participação de nossos amigos.

Bocada Forte: Como foi o primeiro show do retorno? O que cada um de vocês guardou na memória depois de subir ao palco?
Helião: O primeiro show foi na Virada Cultural, no centro de São Paulo. Mas, pra mim, não soou como primeiro show porque não foi bem executado, além de não ter a presença de Negra Li. Ali vi que a volta ia dar muito trabalho porque, tecnicamente, RZO é um som difícil de interpretar. Então, trabalhamos dois meses pro show no Opinião, de Porto Alegre. Ali sim, eu entendi o que parceiros e amigos me falavam nesses 10 anos: “Vocês não sabem a força que tem”.

Bocada Forte: Uma música do RZO que mais define o RZO.
Helião:
Tem muitas, mas, “Você Já Sabe”, define muito o momento que vivemos agora.