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Contextos: A fusão de Alcalde

Contextos: A fusão de Alcalde

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Emerson Alcalde durante a Copa do Mundo de Poesia, na França.

Do hip hop ao fluxo, poeta propõe diálogo entre culturas periféricas

Como dizem os mais velhos, EMERSON ALCALDE é cria do hip hop. Envolvido nas movimentações dos saraus dos subúrbios e competições internacionais, como a Copa do Mundo de Poesia (França), sua veia de agitador cultural e mediador criou uma experência inusitada: o poeta iniciou uma aproximação com o funk para expandir seu campo de ação. Num movimento contrário aos padrões e estratégias de marketing e oportunismo, Alcalde não foi buscar alianças com artistas consagrados para ganhar ibope.

O slammer da periferia de São Paulo, que também está na correria para divulgar seu CD de poesias, trilhou o caminho inverso: acolheu a molecada que curte o pancadão em seus eventos. Não poderíamos esperar algo diferente vindo de uma pessoa que valoriza a palavra. Emerson Alcalde escolheu o diálogo, mas pagou um preço caro por isso. Muitos integrantes do hip hop criticaram a proposta.

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O poeta posa para foto ao lado de Caique Frozone, um dos campeões da Batalha do Passinho do Romano.

Tudo começou quando o poeta foi convidado para ser coordenador de projetos do CEU Três Pontes, localizado no Jardim Romano. No início, Alcalde promoveu eventos ligados apenas ao hip hop, entretanto, não conseguiu levar um grande público ao espaço.

Numa de suas tentativas, depois de algum tempo trabalhando no CEU, Emerson viu um garoto dançando de maneira um tanto diferente. Curioso, foi perguntar ao dançarino o que era aquilo. “Cheguei no moleque e disse: o que você está fazendo? Ele disse: é o passinho do romano”, relembra.

“Todo mundo conhecia conhecia esse passinho, já estava em vários lugares do Brasil”. De acordo com o que contaram ao poeta, tudo começou tudo ali perto, no Jardim Romano, com um cara chamado Magrão, mano que misturava em sua dança o pancadão, hip hop, forró. “Todo mundo ria”, conta.

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Duas gerações, dois estilos. Hip hop encontra a galera do fluxo.

“Magrão acabou morrendo num acidente de moto. Como homenagem, a molecada me contou que começou a dançar como Magrão. A dança invadiu as redes sociais e até hoje vemos a garotada no mesmo pique do romano”.

Essa movimentação fez com que Alcalde iniciasse uma conversa com os adeptos do pancadão. Desse encontro surgiu a Batalha do Passinho do Romano, evento que, depois de quatro eliminatórias, teve sua disputa final no dia 13 de dezembro, no CEU Três Pontes. Os vencedores foram Caique Fraone, na categoria adulto, e Matheus Albuquerque, na infantil.

Com representantes dos elementos hip hop no corpo de jurados, que também tinha uma professora de balé e um coordenador de esporte, Alcalde enfrentou uma enxurrada de críticas, mas hoje celebra o sucesso do evento que acolheu a molecada acostumada ao pancadão que rola nos fluxos e apresentou o conhecimento tão falado e valorizado pela cultura de rua.

B.boy Banks, artista que, juntamente Todyone, apoiou a ideia de Emerson Alcalde. Assista ao vídeo.

“Quando tive a ideia de fazer a batalha, fui ouvir algumas músicas do estilo funk pancadão. Eram músicas pesadas, cheias de palavrão. Não poderia rolar isso numa escola. Então procurei umas duas ou três mais suaves e algumas instrumentais. Inspirado na cena do Rio de Janeiro, criei a Batalha do Passinho do Romano”, conta o poeta.

Emerson Alcalde espalhou cartazes pelo bairro, mas não imaginava que iria lotar o CEU no primeiro dia do evento. Para manter a troca de experiências, Alcalde misturou exibição curta-metragens, poesia e, finalmente, a batalha.

O que o poeta também não previu foi a desconfiança do pessoal do rap, que pensou que o pancadão tomaria o espaço do canto falado. Outro problema enfrentado por Emerson Alcalde e sua equipe foi a rejeição de uma grande parte do movimento. “Muitos disseram que iríamos sujar a imagem do hip hop”, relembra. A discussão reverberou nas redes sociais, grande parte dos comentários era contra o diálogo entre a galera do fluxo e os integrantes do hip hop.

No sábado (13/12), logo após a final da Batalha do Passinho do Romano, Alcalde disse que valeu a pena enfrentar os mais furiosos e desconfiados. Hoje, o poeta afirma que conseguiu apresentar o hip hop aos jovens do pancadão. “Ver esta periferia, o extremo leste, lotando o teatro e ouvindo um poema marginal, um rapper consciente, um b.boy explicando e apresentando a cultura hip hop, isso foi extremamente gratificante. Foi pra isso que criei este evento”, afirma sem nenhum tom professoral, mas com a certeza de quem cumpriu sua missão.