Beats & Life: Apollo Brown
ESPALHA --->
Erik Stephens (36), conhecido como APOLLO BROWN (Apollo numa referência ao Deus da música na mitologia grega e Brown em referência a James Brown), é um dos produtores que vem aquecendo a cena do rap nos últimos tempos com produções do tipo boombap, estilo característico do rap clássico dos anos 90 e que continua em alta, mesmo com o trap dominando a cena mainstream.
O artista já trabalhou com nomes como Ras Kass, Planet Asia, O.C., Guilty Simpson, Ghostface Killah, dentre outros MCs e beat tapes produzidas. Apollo faz parte do selo MELLO MUSIC GROUP, fundado em 2007, no qual foi convidado para fazer parte, em 2010. O selo nasceu durante a produção de uma compilação com diversos artistas, como Oddisse e Rapper Big Pooh (Little Brother).
Nascido no estado de Michigan, no centro-oeste norte-americano, se mudou para cidade de Detroit em 2003. Lá passou a se interessar pela cultura hip hop, quando ouviu o álbum “Breaking Atoms” do grupo Main Source, lançado em julho de 1991. Começou a produzir em 1996, usando samplers de discos de soul music, característica que ficaria marcante em suas produções. “Eu amava a música e eu queria ser uma parte dela, a música é minha vida, é algo que, quando tudo mais falhar haverá sempre música e eu sempre quis ser parte dela”, declara o produtor, que costuma ouvir músicas alternativas dos anos 70 e 80 e usa o software Cool Edit 2000, lançado nos anos 90 pela empresa Adobe Audition. Apollo trabalha com a versão mais antiga do programa e também usa a controladora Roland XP-50.
Sobre não usar softwares e aparelhagem mais modernos Apollo declarou ao portal Acclaim: ”Estou preocupado em fazer uma boa batida ,isso que importa… Eu odeio quando dizem que aquela batida é melhor que a sua e não usaram MPC. O que importa isso? A tecnologia é grande. Todo dia tem em um novo software. Eu uso o mesmo programa desde 1996. Eu uso material velho, porque é isso que eu gosto e é isso que funciona pra mim”. Ainda sobre este assunto o produtor declarou ao portal KevinNottingham: “Minha configuração não muda. Eu ainda tenho o mesmo computador. Eu ainda tenho os mesmos quatro alto-falantes soprados e ainda tenho o mesmo teclado, que funciona apenas 16 teclas, porque ele teve danos causados pelas inundações. Ainda tenho tudo a mesma coisa. A única coisa que é diferente é o meu mouse, porque meu outro quebrou. Tive de comprar um novo mouse, mas eu estava trabalhando mesmo com ele quebrado. Minha configuração é muito básica, simples, e é isso que eu vivo: simplicidade.”
Em suas batidas, são perceptíveis o ruído de disco de vinil e dificilmente ouvimos beats tocados ou com sintetizadores e efeitos. Sobre a procura do sampler Apollo explica: “Apenas a sensação, o sentimento da música, o sentimento das notas… Quando estou procurando um sampler e estou ouvindo um disco, procuro por palavras chaves como ‘chorar’ ou ‘solitário’, ‘depressão’, ‘ternura’… Coisas que estão no meio, que eu sei que poderiam ter um sentimento.”
Entre 2004 e 2006 Brown ficou sem produzir por problemas pessoais. Quando voltou, entrou no selo Mello Music Group e produziu sua primeira beat tape chamada “Skilled Trade“, lançada em 2007. Com o seu trabalho em alta, o produtor participou e foi campeão de uma das maiores batalhas de beatmakers do mundo, o Big Tune Red Bull (confira abaixo), que fez com que seu nome ganhasse notoriedade.
Depois disto, Apollo Brown começou a produzir músicas para diversos MCs como Danny Brown, Kool G Rap, Roc Marciano, Kenn Star, Hassaan Mackey, dentre outros. Até que em 2009 lançou mais um álbum de beats chamado “Make Do“, com 37 faixas. Porém, seu primeiro projeto oficial veio em 2010 com o “The Reset“, que contou com participações de John Robinson, Declaime, Med e Black Milk.
Em 2010 Brown lança o álbum “Gas Mask“ com The Left ao lado de Journalist 103 e DJ Soko. O álbum foi elogiado pela critica, ficando como melhor álbum do ano segundo portal KevinNottingham (atual HipNOTT). Na sequência, em 2011, o artista lança o álbum de beats chamado “Clouds“. Mas foi em 2012 que lhe esperava grandes trabalhos marcantes. De início veio “Color Brown Part II” (ouça abaixo), em parceria com ULLVevano, seguido por outros dois belos trabalhos: um com o lendário rapper O.C., da banca D.I.T.C., no álbum “Trophies” – que venceu o prêmio de melhor álbum do ano pelo portal HipHopDX. O álbum, que foi gravado em 16 horas e finalizado em 4 horas, marca a carreira do produtor com um MC da geração old school.
No mesmo ano, com o rapper Guilty Simpson, Apollo Brown lançou o ótimo álbum “Dice Game“. Então, em abril de 2013, surge a oportunidade de trabalhar com um MC da banca Wu-Tang Clan. “The Brown Tape“, com Ghostface Killah, chegou em 2013 causando repercussão na cena. Ghost disponibilizou as acapelas e Apollo produziu em cima delas. Nas palavras do próprio ao portal OkayPlayer: “Basicamente criei as batidas em cima da voz, ao contrário do que a maioria faz (criar o beat e depois o MC escrever a letra). Foi provavelmente uma das coisas mais difíceis que fiz… Foi uma loucura fazer”.
Também em 2013, o produtor não parou de produzir. Ao lado dos rappers Verbal Kent e Red Pill formou o grupo UGLY HEROES:
“As pessoas sempre me perguntavam porque eu deixei de trabalhar com O.C., Ghostface Killah e Guilty Simpson e agora vou trabalhar com MCs desconhecidos. Pra mim é tudo sobre fazer música boa. Eu não sou uma daquelas pessoas que estão presas no status e outras coisas. O que eu queria é fazer um trabalho. Eu só trabalho com quem eu sou fã. Apesar de não ser mcs conhecidos como Oc e Ghostface isso não importa pra mim.”
No ano seguinte, de 2014, foi extremamente produtivo, inciando com o lançamento do EP “Abrasions: Stitched Up“, ao lado de Planet Asia. Na sequência emendou mais uma beat tape chamada “Thirty Eight” e, no mesmo ano, lançou o EP “Ugly Heroes” e o excelente álbum “Blasfhemy“, junto com o rapper Ras Kass. O trabalho demorou 5 meses para ser finalizado. “Eramos fãs um do outro. Trabalhar com Ras Kass foi fácil, cara. Ambos tínhamos um objetivo comum em mente para fazer boa música, e foi isso que fizemos.”
Em meio a grande proliferação de produtores na cena, Apollo Brown não costuma vender beats. Ao invés disto prioriza fazer trabalhos pontuais com os MCs: “Não quero trabalhar com qualquer um. Não basta enviar as batidas. Eu quero conhecer a pessoa que estou trabalhando. Não é apenas um ponto de vista empresarial, mas uma relação pessoal.” Enquanto isso, a tradição de lançar beat tapes é mantida pelo produtor, que diz gostar de ouvir instrumentais. Em 2015 lançou a beat tape “Grandeur” (ouça abaixo). Meses depois, Apollo uniu-se ao rapper Big Pooh e lançou o EP “Words Paint Pictures“. Quando perguntado sobre qual MC ainda não trabalhou e com quem gostaria de fazer um projeto algum dia, ele é enfático sempre nas entrevistas: “Jay Eletronica“. Sobre projetos fora do hip hop, o produtor explica: “Já fiz algumas coisas de R&B… Eu definitivamente quero fazer um álbum de soul. É só eu encontrar o cantor certo. Esse é o problema agora. Um monte de cantores são bons”.
Em 2016, Brown volta a trabalhar com seu grupo Ugly Heroes e lança o álbum “Everything in Between” (ouça abaixo). Perguntado sobre qual a maior lição que aprendeu em sua carreira: “Seja verdadeiro. Permaneça fiel a si mesmo. Não se conforme. Faça a música que você quer fazer. Não faça a música que está em alta na TV, no rádio ou o que as pessoas dizem ‘agora essa é a música do momento’. Você faz a música que esta em seu coração. Eu aprendi, ao longo dos anos, que existe público para todos os gostos”, declarou ao portal Grindin.
Na edição do Rhythm Roulette, do canal Mass Appeal, Apollo Brown mostra como trabalha para produzir um beat. Assista!
Interaja conosco, deixe seu comentário, crítica ou opinião