A Lírica Bélica do 38MilManos
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38MILMANOS. O nome pode soar um pouco estranho, perto do que se encontra no cenário atual do rap brasileiro, mas é ai que está a diferença. A rapaziada não está nem aí pro que você está pensando sobre isso. Com um estilo de rap que não encontramos mais nos dias de hoje, a pegada gangsta e crua de relevância da rapaziada é algo complicado de se achar, lembrando das idéias do rap que deu origem ao que eu e provavelmente você conhecemos. O 38milmanos é oriundo da Zona Leste de São Paulo e do ABC Paulista e se encontra em sua segunda formação: Luiza, Leonardo, Stéfano e DJ Elvis.
Fundado em 2010, o grupo acaba de disponibilizar seu segundo trabalho, intitulado de “Mentes Perigosas“, um disco com 8 faixas, com participações de D’Monte MCs, ElieEfe Decreto e produção de Leonardo Kativeiro Thugs e Nocivo Shomon. Trocamos uma ideia com a rapaziada para saber mais sobre alguns temas e sobre a caminhada. Confira agora no BF!
Bocada Forte – Como surgiu e porque o nome 38milmanos?
Stéfano: 38milmanos nasceu na mente de um irmão que já não está entre nós, Ulisses. Ele queria muito um grupo de rap e me convidou de cara pra montar um (Ele não curtia o nome 38milmanos, nome este que eu daria ao grupo que faço parte também que veio a se chamar DPR – Do Protesto a Resistência). Infelizmente a vida não nos deu tempo pra firmar o grupo juntos, me juntei a outros dois manos que já não fazem mais parte do grupo (Popó e Marcio) montamos o projeto, na falta de um nome mais apropriado ficou este. O grupo se formou em 2010 logo após a morte do Ulisses. Eu considerei por muito tempo um tributo e não um grupo de rap. Acho que me vi com um grupo de rap quando voltei em 2015 depois de um ano afastado. O nome 38milmanos é um trocadilho com a música do Racionais apoiado por mais de 50milmanos. Com a arma 38 Taurus, a mais difundida na periferia né. Sobra da antiga artilharia da polícia, onde foi parar? Na mão do favelado.
Leonardo: A Taurus né?! Quem não conhece o TrêsOitão? Além do trocadilho, tem uma mensagem atrás disso. A arma foi inserida de uma forma bem “interessante” nesse mundão.
Bocada Forte – O som de vocês tem a idéia e pegada do rap dos anos 90 que deu ênfase ao cenário, com protesto e foco em revolução. Como é trampar esse estilo que no Brasil perde cada vez mais força devido as diversas “vertentes” que temos hoje dentro do rap?
Luiza: É uma luta constante, mas é gratificante, pois vemos muitas pessoas se identificando e usando nossas letras como incentivo pessoal. Afinal, creio que esse será sempre nosso intuito, independente da vertente mais em alta de cada época que virá. Alertas, informação e reforma pessoal. Cada um que sintetiza nossa mensagem, já é um sinal que nosso trabalho está no caminho certo.
Stéfano: Salve meu mano, escutei pela primeira vez uma música de rap em 91, a ideia era sobre a realidade da massa pobre, sobre o abuso policial, sobre a falta de infraestrutura etc. Estamos em 2016 e na minha opinião tá tudo igual, os temas que procuro abordar nas minhas linhas nada mais são o reflexo daquilo que vejo a minha volta, as mesmas fitas de 91. Infelizmente boa parte do rap esta mais preocupada com a carreira, com o business e se esqueceu do propósito da música rap. Esta difícil fazer um som falando verdades que tentam colocar por debaixo do tapete, mas nossa missa é mostrar a ferida até que ela seja curada!
Leonardo: Salve! É Libertador! Como se não fizéssemos parte da massa. Os tempos passaram e os problemas de hoje, são os que vivi a anos atrás. Falta de informação ainda é o problema central. Ou melhor, excesso de informação torta, causa essas “vertentes” e se torna o problema central. Somos responsáveis pelo que falamos e da forma que falamos. Mentes Perigosas veio para resgatar da memória essa “vertente” mais reta do fato. É uma luta, mas sempre foi assim né!?
Bocada Forte – Vocês acabam de colocar na rua o disco “Mentes Perigosas”, nos fale sobre o processo de criação desse trabalho que ficou bem loko.
Luiza: Assim como o Leonardo, entrei na parada como fã e acabei recebendo o convite para fazer parte do grupo, logo após minha gravação da ”Filha da Luta”. O convite foi inesperado e já tinha por assim dizer, ouvido os trampos que o Stéfano lançaria. Fiquei de cara e sabia que era de um trampo desse que estávamos precisando na rua. É um trampo que tem um peso emocional muito forte por trás de tudo, e coloca o 38MIL onde é e sempre será nosso lugar, das ruas pras ruas.
Stéfano: Mano, este disco teve um processo de uns 4 ou 5 meses e durante o trabalho nele o grupo mudou. A formação sofreu uma drástica transformação. A saída dos outros dois integrantes me deixou bastante abalado, não sabia o que fazer com as letras já construídas que eu j estava imaginando a pegada deles. Convidei alguns manos e a Luiza (integrante agora do grupo) para fazer algumas participações, e acabou que destes inúmeros convites surgiu a nova formação! O disco na minha opinião saiu incompleto, poucos sons com a Luiza. Eu precisava soltar algo na rua pra sentir o 38MIL vivo novamente, deu certo. Estamos com algumas musicas prontas já só faltam ajustes…
Leonardo: Eu comecei o processo de criação como fã e terminei como integrante. Nem preciso dizer o quanto foi surreal. Além disso, nesse período, minha vida pessoal virou e participar desse processo fez com que eu me apoiasse em algo. Se o propósito e resgatar, o 38mm me resgatou. Esse disco tem um propósito, é só escutar cada verso, cada rima. Tem mensagem boa lá! Vivência do ontem, hoje e amanhã. Foi feito com coração. Choro calado muitas vezes.
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Bocada Forte – E como está sendo essa parada de integrar algo que antes era somente admiração?
Luiza: Na real, é incrível. Fazer parte de algo que sempre achei muito bom, é um ponto positivo pra minha “evolução”. É satisfatório fazer parte de algo que consideramos. As vezes, até hoje não cai a ficha (risos). É indescritível pra mim.
Leonardo: Surreal. Como sempre digo, o 38mm me resgatou, me trouxe os elementos certos (mente) no momento que eu mas precisava desses 2.8 de idade. Sou eternamente grato ao grupo por manter minha mente ativa e tenho como obrigação repassar isso da melhor forma possível. Fazer parte do que se admira, te da uma responsa maior.
Bocada Forte – No país em que o plenário político é praticamente um circo de horrores, como vocês enxergam a atual situação do Brasil nos dias de hoje?
Luiza: Nos enxergo em uma situação calamitosa e triste. Onde vemos o barco afundar todo santo dia e permanecemos nadando para não afogar. Sonho com o dia em que pararemos de lutar para sobreviver, e sim, viver dignamente como em tese, teríamos o direito. Uma das nossas formas de resistência é a nossa música e ecoaremos até onde for possível para resgatar o pensar de quem for possível. Infelizmente, estamos bem afastados de diminuir a luta e o estado de alerta.
Stéfano: Brasil é o mesmo desde abril de mil e 500 né! Eu não acredito neste sistema político mano! Cansei de tentar expressar isso! Eu não voto, procuro nem ver jornais. Escrevo, gravo, debato, tudo na intenção de tentar mudar a forma de pensar dos menor, pois tenho fé que o futuro pertence a eles, nossas crianças vão mudar o mundo!
Leonardo: A política só vai mudar quando duas estruturas básicas estiverem alinhadas. Informação e Sistema. A população ainda se mata, as classes ainda se dividem, a grande massa ainda é matéria prima para sobrevivência estatal. E pior, boa parte dessa população está de chapéu. Acredito que isso muda, essa geração está conhecendo os prazeres da informação rápida. Nosso papel e resgatar essas idéias, fortalecer o exército. O bolo podre venceremos!
Bocada Forte – A tecnologia ajuda na propagação de informação ao povo, ou atrapalha de certa forma?
Stéfano: Irmão a tão falada inclusão social ainda é mal interpretada e mal utilizada, quando se fala em inclusão eu penso em preparo, demonstração, direcionamento… Não vi isto acontecendo! Vejo redes sociais lotadas de humanos sem perspectiva despejando suas ansiedades abertamente. Igual foi com a televisão! Me da impressão que é mais uma cartada manja!?
Luiza: Bom, eu creio que são ferramentas que ajudaram e ajudam e muito a expansão do conhecimento. Seja ele para o que for. Em questão de ajudar ou atrapalhar, depende de como as pessoas a utilizam e sintetizam. Porém, para nós, é uma ferramenta de grande alcance.
Leonardo: A tecnologia sempre ajuda. Ela te da agilidade e acesso a informação. A questão é como usamos. Da mesma forma que gera agilidade, também gera fortalecimento de idéia torta. Somos desleixos da própria informação compartilhada e formamos mais e mais opiniões erradas se não tomamos cuidado com os conceitos que propagamos. Para o 38mm a tecnologia ajuda e muito. Tentamos usar da forma mais lateral possível, sem distorcer nossas crenças.
Bocada Forte – No que vocês vem trabalhando e quais os planos pro futuro?
Stéfano: A principal meta hoje está sendo divulgar o disco! Dia 15/10/2016 vamos fazer uma festa de lançamento, temos a idéia de gravar outro vídeo clipe. E já temos alguns sons novos sendo preparados!
Leonardo: Estamos trabalhando forte no disco Mentes Perigosas, um disco que veio rápido e criado de um momento bem peculiar e de forma satisfatória. O futuro é dar o passo a frente hoje! Temos material, temos garra, temos idéia para um próximo disco. Ate lá, algumas novidades irão brotar por ai. 38mil tá vivo!
Luiza: Pode-se dizer que trabalharemos na mesma linha, porém sempre inovando nas formas de abordagem. Trabalhamos nossa evolução diariamente e corre no sangue uma garra e uma vontade imensurável de propagar uma visão sobre a real e suas saídas. Tenho plena fé que o futuro do 38 trará grandes surpresas à todos nós.
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