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Quinta Jazz #1: Liberdade, igualdade e jazz

Quinta Jazz #1: Liberdade, igualdade e jazz

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Ouça as playlists de jazz e leia o artigo de Jefferson Corredor sobre a inovação do gênero

Por: Jefferson Corredor

É difícil imaginar a reviravolta que o jazz causou na música e na sociedade norte-americana no início da indústria do entretenimento. Em 50 anos (de 1900 a 1950), o ritmo que consagrou a cidade de Nova Orleans saiu das margens dos rios para ocupar salões, rádios e televisões, conquistando um espaço privilegiado para a cultura negra.

Entre 1920 e 1930, o jazz se tornou a música mais popular dos EUA: o mercado fonográfico e de espetáculo voltou-se cada vez mais para aquele ritmo sincopado que atraía tanto o público branco quanto o negro, levando-os a lotar casas de shows e bares. Até então, artistas negros nunca haviam conseguido tal destaque no show business.

Mas o jazz de 1910 e 1920, que era a música da modernidade, da eletricidade e das grandes cidades, tinha sido também a música do otimismo. E nenhuma trilha sonora representaria mais contraste em relação aos conflitos desencadeados pela segregação racial nos EUA nos anos 50 e 60. Chicago, Nova York e Atlanta eram os locais onde a violência contra os ativistas negros era maior.

O jazz incorporaria esse ideal de luta, especialmente o hard bop. Esse estilo de jazz destacava a criatividade, que agregava agora um ritmo mais marcado e muitas vezes letras voltadas à justiça social e à conscientização da população negra.

Os principais músicos desse estilo foram Art Blakey, que fez parte do grupo Jazz Messengers, John Coltrane, Jimmy Smith, Charles Mingus, Horace Silver e Max Roach, que gravou “We Insist! Fredom Now Suite” (1960), onde dá voz a seu engajamento.

Nos anos 60 muitos músicos de jazz abandonaram a postura dos jazzistas tradicionais, que buscavam agradar seu público, a ponto de modificarem seu estilo. Alguns jazzistas começaram a fazer de sua música um instrumento de reivindicação politicas e sociais.

A antiga imagem do jazzista como “agente de entretenimento”, personificada em Louis Armstrong, foi combatida durante os anos de confronto antissegregação por músicos que, a partir de então, faziam menos concessões à audiência.

A expressão individual passou a ser um dos elementos centrais do jazz. O que ocorreu no desenrolar da década de 60 nos EUA foi a ascensão de outro ritmo. O rock’n roll caíra no gosto dos jovens de classe média. E há uma relação estreita entre o jaFmizz hot de Tympany Five, mais dançante que o jazz tradicional, e o rock de Bill Haley & His Comets.

A ideia da relação não é nova, nem deixa de ser simplificadora, mas sem dúvida uma das bases do rock, como sua incrível energia rítmica, vem da tradição deixada pelo jazz.

Com o crescente sucesso comercial do rock, o jazz perdeu grande parte de seu público. Mas apenas esse fenômeno não explica porque o jazz se tornou um gênero musical distante do grande público. Há motivos contidos na própria produção jazzística pós-anos 60 que esclarecem um pouco a razão do jazz ter se transformado em algo “elitizado”. Afastando-se da vitrine pop para não fazer concessões ao mercado, os músicos se voltaram para a tradição do jazz e para os novos caminhos (do jazz!) a serem trilhados (solitária e heroicamente).

A partir da década de 70, o jazz como movimento musical se fragmentou, distanciando-se mais da audiência negra, embora surgissem, nos anos que se seguiram, várias pontes entre o ritmo de Nova Orleans e gêneros musicais negros por excelência, como o R&B, o soul, o funk, e o próprio rock.