Opinião | ‘Hoje vivemos num país onde negro na universidade pública é balbúrdia’
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Por: Claudio Silva / Claudinho*
Racismo à Brasileira
O racismo no Brasil é bem peculiar, tem formas bastante sofisticadas de se apresentar, ele age na subjetividade das pessoas, ataca sua autoestima, provocando na população negra atrasos que talvez sejam impossíveis de recuperar, especialmente se não tivermos políticas específicas para esse fim. Na educação, por exemplo, percebemos isso quando abrimos os dados de escolarização e vemos que o povo negro em grande parte não conseguiu acesso à creche, entra na educação básica com defasagem etária e, nos números da evasão, são os mais atingidos.
Isso rapidamente se reflete no mercado de trabalho, onde essa parte da nossa população também entra mais tarde, especialmente no mercado de trabalho formal, o que nos leva a crer que a reforma da Previdência, que foi promulgada recentemente, atingirá frontalmente a população negra brasileira, que perdeu a possibilidade de se aposentar.
É importante ainda lembrar que há muito tempo o povo negro é a principal vitima de um estado que insiste no uso da violência como método de controle social. Isso se reflete nos 80 tiros disparados contra uma família negra, na morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes e também nos vários formatos de violência a qual estão expostos os que vivem nas periferias do Brasil, seja a violência física, letal ou mesmo simbólica, expressada pela qualidade dos serviços públicos oferecidos a essa população, por exemplo.
Daria milhares de textos desse, se ficássemos aqui enumerando e dando informações a respeito das centenas de políticas públicas que foram criadas ao longo de um ciclo de 13 anos de governos democráticos e populares em nosso país, tais como, Brasil Quilombola, Luz para Todos, Minha Casa Minha Vida, ProUni, Cotas Raciais e Sociais nas Universidades Federais, assim como as diversas e mais plurais conferências participativas ocorridas nesse período, que influenciaram em muito a elaboração e execução de políticas públicas nacionais.
Infelizmente, isso tudo é passado. Hoje vivemos num país onde negro na universidade pública é balbúrdia, que não tem mais Ministério da Cultura, onde o governo quer permitir que a polícia mate desenfreadamente e com uma licença para matar, num país que já mata gente preta na ordem de 71% entre as pessoas assassinadas, segundo o atlas da violência de 2016. Aqui, conselhos de participação popular não podem existir, mas estrangeiros para “pegar” nossas mulheres são muito bem-vindos, esse é o grau de distorção ao qual estamos chegando.
Há que nos organizarmos, teremos que enfrentá-los nas ruas e nas redes, temos que unir o campo popular no entorno da manutenção das conquistas que hoje oferecem algum protagonismo para a população negra, evitando inclusive mais retrocessos.
Porque os que aí estão acham a Lei Áurea um absurdo e querem revogá-la!
*Claudinho, foi membro do conselho nacional de promoção da igualdade racial, foi coordenador de políticas para juventude da prefeitura de São Paulo (gestão Haddad), está Coordenador do SOS Racismo da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.
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