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Opinião: Como estavam enganados… | Por Slow da BF

Opinião: Como estavam enganados… | Por Slow da BF

ESPALHA --->

2000 e pouco… Mais de 40 anos se passaram pra mim e pouco mais tem o Hip Hop e a linha tênue, e por vezes elástica de fatos, pessoas e pensamentos foram antecessores destas datas mais antigas que conhecemos…

Os anos 50 e 60 fizeram os alicerces para essa cultura que hoje é mundialmente conhecida, por exemplo: o DJ Kool Herc que conheci pessoalmente e troquei várias idéias, tocava vários sons diferentes naquela época: “Comanche” do Trio Mocotó e “Bronx Nation Athen” dos Bongo Bands, incluindo nesse contexto varias vertentes musicais, como o nosso bom e velho samba, que também influenciou Quincy Jones e Marvin Gaye (o disco Soul Bossa Nova mostra isso).

Paul Huphrey, grandioso baterista diz : “Quando Gaye fez What’s going on, usava a batida de samba invertida e isso mudou o jeito de fazer percussão e tocar bateria nos EUA“, ou seja, ritmos como samba, bossa nova, reaggae, soul, rumba, merengue, influenciaram muito o chamado Hip Hop porque a rumba influenciou o modo como o Break, dançado por latinos, teve total influencia nos primeiros top rocks, pois a rumba imperava no Bronx antes do hiphop ser a febre local e umas infinidades de coisas aconteceram antes mesmo de o termo hiphop ser inventado.

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Bambaataa e Kool Herc.

Aqui no Brasil, os bailes eram chamados de hi-fi, gente como Mr Funk Santos, Dom Filó, Paulão Black Power e etc. faziam o que os sound systems faziam na Jamaica: música na rua, nos guetos, clubes, ou seja, no subúrbio… Equipes como: Uma mente numa boa, Makesom, Célula negra, Tropa bagunça e etc. movimentaram o esqueleto dos “blacks” do Rio de Janeiro, assim como Kool Herc e Bambattaa na sua época; por falar em Bambaataa, ele mesmo deu a formula de como uma cultura se expande rapidamente “Se eu conheço uma coisa nova hoje, amanhã tenho que ensinar a outro e assim à coisa vai se espalhando… O importante é estarmos sempre ensinando para os nossos irmãos o que aprendemos“.

No começo as coisas todas eram novas e a historia ia se moldando sem ninguém saber ao certo o que estava acontecendo era a historia sendo feita e dentro dessas historia tinha uma que começou assim: Grand Wizard Theodore, na Boston Road esquina com a 168, chacoalhou com as regras impostas pela máquina com um gesto, ele resumiu anos de manipulação sonora, uma coisa que reunia as teorias pós musicais de John Cage (o futuro da musica, 1937), as experiências modernistas do francês Pierre Schaffer, metendo a mão no acetato preto, deformou o som a moda africana, através da percussão… Ele só tinha 14 anos.

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Rock Steady Crew.

E não se engane, achando que isso começou, exclusivamente com os negros da cidade de NY, não, não… A história é bem mais ampla; a Rock Steady Crew era formada quase toda por latinos de pele mais clara e não fazia a mínima diferença, isso porque o hip hop era uma coisa que incentivava a cultura para os menos favorecidos e dentro dessa ótica os negros também. Quando você vê o filme Wild Style, você vê latinos, brancos e negros, tudo nessa época era voltada para a diversão, auto-estima e demonstração de vida.

O hip hop começou assim.

Muitos astros que hoje são reconhecidos como ícones, começaram em áreas diferentes, como Kurtis Blow que desde 1972 vem fazendo barulho, foi um dos primeiros MCs que ganharam disco de ouro, lá pelos 80, com a clássica “The breaks”, mas era um b-boy e depois começou a cantar, assim como vários MCs, eram DJs… O KRS One, também grafiteiro, dizia que a grande alegria dele era ver um graffiti viajando por toda a cidade, nos trens de NY.

Dos primeiros MCs surgiram os primeiros gritos de guerra, os primeiros combates de rimas, as primeiras tretas, no começo da década de 80 o hip hop já era uma febre no mundo todo, influenciando toda uma geração, misturando – se com outras culturas e dando voz a muita gente sem voz até então.

O rap virou a voz, dos latinos e da cultura Low Rider, que surgiu da pressão racial, social e econômica impostas pelos norte americano, assim, carros velhos e desmontados eram reerguidos pelos chicanos, recapturando suas origens com seus símbolos astecas e católicos e enaltecendo as gerações passada, adotando os zoot-suits (aquela moda com bastante pano e exagerada) e os droping mustaches dos pachucos, e assim foi no México em Cuba, no Japão, Europa e Brasil.

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DJ Honda.

Um DJ japonês chamado Honda disse “Muitos seguem o rap dos States, mas eu sou um líder, não um seguidor” em Cuba (onde fui duas vezes fazer show) Onde quase todo mundo é pobre igual, uns trocaram a agressividade pelo otimismo e a cara feia pelo riso, versos pesados por discursos e critica construtiva. “Se o samba, o rap e o reggae têm lugar em outros países eles serão feitos em cuba á nossa maneira“, diz MC René. Nós, brasileiros agimos como se o preconceito não existisse, só estamos nos enganando o que condiz com o que disse Malcolm X “cada homem branco lucra com o racismo mesmo que não pratique ou acredite nele”.

O grupo Dilated Peoples sempre enfatizou temas como guerra, globalização políticas globais e aniquilações. Muitos MCs são avessos à moda, contra a bundalizaçao dos vídeos, ao blim blim style como os MCs do islã que falam disso e de Allah. Nomes como Paris, Lakim Shabazz, tem mais a falar sobre coisas relevantes do que só sobre tiros e b…

Parteum de SP diz que não aprendeu hip hop na escola os discos ensinaram. Se ele consegui ensinar algo com os dele vai continuar sendo hip hop (como já disse Chris Parker). Outro MC o Arcanjo diz “espero que pelo menos uma pessoa se identifique com o que estou falando, minha musica fala muito de amor esta muito positiva”.

1970 e pouco… Surge um gigante, a mídia, ai padrões começaram a ser impostos e pessoas começaram a se moldar nos padrões o que é perigoso, porque o lucro e a imagem cobraram seu preço, as grandes rádios por serem comerciais não tiveram nem tem compromisso com a cultura hip hop, muito menos com a musica rap diz Gil do Bocada Forte, as rádios aqui no Brasil começaram a cobrar pra tocar a musica dita da periferia isso é o dinheiro corroendo diz Bone Dee…

Débora (radialista) diz que o gangsta rap era o perfil do programa “Espaço Rap” e não tinha espaço pra outro tipo de segmento e diz que 50% da programação é ela que faz e a outra metade é os ouvintes, mas quem escolhe mesmo é ela… Há também opiniões como a do sambista Ney Lopes que considera o rap, uma coisa da moda, pois, uma musica que não se baseia numa forma brasileira e as formas de expressão para serem revolucionárias tem que ter nelas mesmas um conteúdo de transformação, não basta rimar em cima de um beat.

Quando Bambaataa vislumbrou esse presente, ainda no passado, resolveu instituir um quinto elemento, que, separadas as divergências pode ser resumido como a transmissão do conhecimento de forma positiva, ai sim começaram a surgir à didática do hip hop, os workshops, as oficinas, mas que segundo mano Brown de são Paulo, não servem pra nada, pois a pessoa tem que nascer com o dom e hip hop não se aprende em oficinas.

E rebatendo essa opinião eu penso que só de colocar uma nova perspectiva aos olhos de um jovem, as oficinas já começam a prestar o seu favor ao hip hop e a sociedade no geral…

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Lauryn Hill

E tem ainda muitas pessoas que fizeram e fazem seus papéis sociais mesmo sendo mundialmente famosas como o grupo Wu Tang Clan de NY que ajudou a Star Light Foundation para jovens com doenças degenerativas ou LL Cool J do Queens, que em 1992 fundou a CampCollJ Foundation cuidando de muitos jovens, ou Coolio que dirigiu a Heritage Foundation produzindo livros para jovens afro – americanos e Lauryn Hill que fundou a Refugee Project organização pra ajudar crianças pobres. Outro que deixou um legado, que hoje está nas mãos de sua mãe foi 2 pac (77-96) que segundo o jornal Dayli News deixou na sua morte um patrimônio de US$ 100.000, um automóvel e um caminhão… Só… Mas depois de umas boas auditorias, sua família consegui da Interscope Records, como parte dos direitos, a bagatela de US$ 5.000.000! O que nos leva a criar varias teorias sobre sua vida e sua morte, pois mais livros e Cds foram feitos após ele morrer do que quando ele estava vivo colocando no ar perguntas como: “Existe um trabalho secreto da policia em cima do Hip Hop?

Uma grande parte dos rappers acredita que sim, essa unidade da policia é real e fatal (para maiores informações eu recomendo o documentário Rap street hip hop and the cops).

Quem matou 2 pac e B.I.G.? Ninguém sabe ao certo e por falar em Wallace, esse era sinistro mesmo, vendeu 2 milhões na estréia e quebrou um Recorde de 885.000 em uma semana que estava nas mãos dos Beatles. A mídia quis durante muito tempo dividir o rap em dois lados “West e East” não conseguiram. Hoje a parece o lado Trap e Snoopy Dogg diz “tem tanta m… sendo lançada no Trap que até as m… tocam , por serem do Trap…simplesmente por que são Trap… Eles tem feito muita coisa boa, mas, muita m… toca também, (concordo).

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Álbum ‘Getto Jam’, de Domino.

Mas nem tudo é gangsta rap um exemplo quase esquecido foi o rapper Domino da área do Snoopy, em 8 semanas foi disco de ouro (Ghetto Jam) falando do gueto sem enfatizar a violência e diz : “alguns rappers incentivam a violência e colaboram para o aumento da criminalidade”. A linda Lauryn Hill diz “cresci ouvindo canções que falavam da fraqueza humana, da chuva que esconde minha lagrimas, é o contrario de mim sou tão bom, tão forte, tão mal, tão rico, tão perfeito…” E ganhou entre outros prêmios 4 MTVs e 4 grammys e vendeu mais de 15.000.000 de copias.

Essa postura (inovação ) nos afasta da mídia que movimenta o rap, como shows, programas de radio diz o grupo Pentágono de SP e Xis diz que o rap não é pra galeria 24 de maio tem diversos locais que não tem TV a cabo e o que tem é globo e SBT, infelizmente, pra muitos sempre fui lá e vagabundo vai “sofrer”.

Existe um forte discurso entre mídia e resistência, mas Rodrigo Brandão MC do Mamelo Sound System diz “do mesmo jeito que as antenas tem muita importância as raízes também tem e se a árvore não tiver raiz não vai crescer, mas ao mesmo tempo se não tiver antena, pra captar as coisas novas, a cultura se torna anacrônica, vai perdendo o beat do tempo…

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Os Cold Crush Bros.

Existem 1001 formulas de estar na mídia, recusar a mídia e uma forma eficaz de estar na mídia, abusar da liberdade é outra e tem gente que trabalha no hip hop nos bastidores em prol das comunidades, como se viu em Beat Street e Krush Groove (filmes), é possível deixar a violência e o crime sem deixar as ruas, é possível se tornar um artista expressando experiências particulares, assim como surge a chance de desenvolver uma cultura única sem necessidades de retoques pra se tornar comercialmente viável.

E ultrapassando o limite do tempo, artistas como Bussy Bee, Cold Crush Bros, Treacherous 3, Fearlouss 4 e muitos outros estão gravando novos discos e grafiteiros estão fazendo mostras do nível dos maiores pintores clássicos, dançarinos como: Sugar Pop, Poppin Taco, Shabadoo, Boogaloo Shrimp dançando e recebendo homenagens.

O rap sempre esteve na linha de frente das mudanças, sempre dando espaço, seja para o clima neo – hippie do De La Soul ou para o rap mais metafísico do Gza ou Gravediggaz e isso desde a mistura de soul e funk com as batidas alemãs do Kraftwerk, o eletro, o Bass que é a raiz de quase todo o batidão que se toca hoje no Rio de Janeiro, tudo é evolução. Na década de 70, Theodore fazia o scratch e nos anos 2000 o DJ Q- bert lançou um DVD com 28 nomes de scratchs.

Novas gerações se incorporam ao grosso caldo de idéias, estilos e atitudes o hip hop se expande como uma epidemia (Ezn 2001) fazendo com que a Alemanha consiga reunir o mundo todo nos seus eventos de graffiti e breaking ou da Coréia apareçam B-Boys mais famosos que muitos artistas pops da Ásia, ou na África onde o Hip Hop apesar da pobreza generalizada em muitos países, consegue cobrir com o véu da ostentação uma boa parte dos olhos de um povo que esta no berço dos primeiros batuques do universo.

Hoje o hip hop esta no Irã, nas cadeias, na Barra da Tijuca, nas igrejas na TV e por ai vai… Sorte nossa que existem griots modernos que contam e recontam as lendas e repassam as historias de um tempo glorioso… E olha que muita gente disse que toda essa manifestação mundial, não passaria de uma moda, de um bando de desocupados barulhentos e que não duraria até o próximo verão… Tshitshitshi…. Como estavam enganados.

By Slow da BF.