Mês da Consciência Negra | IBGE comprova eficácia das Ações Afirmativas
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Na última quarta feira, dia 14 de novembro de 2019, o IBGE declarou pela 1ª vez, que pretos e pardos são mais da metade dos universitários da rede pública. Apesar disso, ainda é possível adentrar e se formar em diversos cursos de universidades Federais e Estaduais, sem ter aula sequer com um professor negro.
Os Movimentos Sociais Negros Brasileiros, historicamente lutam por igualdade racial e trazem a público a discussão sobre a ausência dos negros nos diferentes espaços da sociedade.
Esta nova pesquisa, realizada cerca de uma década após a implantação das cotas raciais na universidades federais, é fundamental para comprovar a eficácia das ações afirmativas como ferramenta de luta por inclusão social.
A discussão é recente, apesar de termos registros oficiais, que reivindicam uma urgente eliminação de todas as formas de racismo, já em 1993, através da Declaração de Viena que foi resultado de um plenário, na Conferência Mundial dos Direitos Humanos. Apesar disso, apenas em 2001, oficialmente, o estado brasileiro se compromete a reconhecer o racismo e estabelecer políticas concretas para a sua superação.
2001 foi um ano muito forte mundialmente em relação ao combate ao racismo. Escolhida pelo contexto da histórica luta contra o Apartheid, a África do Sul sediou e atuou como anfitriã da III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas. O evento foi realizado pela ONU em Durban, entre agosto e setembro de 2001. Uma grande ação antirracista global, precedida por distintos eventos preparatórios, nas diferentes regiões do mundo, com intuito de mapear as distintas formas de racismo e propor ações para o combate e reparação. Edna Roland, mulher brasileira, foi Presidente e Relatora-Geral da Conferência e deu uma grande contribuição para a materialização e visibilidade das pautas no Brasil.
Assim foram criadas as políticas de ação afirmativa no governo Brasileiro, que são as práticas e ações que atuam para garantia de direitos dos povos historicamente excluídos.
“No Brasil tais políticas foram adotadas somente a partir do processo de redemocratização do país, quando diferentes grupos e organizações sociais, antes silenciados pelo regime autoritário, passaram a demandar direitos abertamente. Amplamente documentadas a partir dos estudos de mobilidade social de Hasenbalg (1979) e Silva (1978), as desigualdades raciais passam a ganhar cada vez mais visibilidade pública e governamental no final dos anos 1990, em especial depois da divulgação de análises feitas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea (PAIVA; ALMEIDA, 2010). Além de um movimento transnacional em direção a políticas identitárias, foram importantes para a consolidação do debate sobre as iniquidades raciais no Brasil tanto a construção de uma agenda de reivindicações pelo Movimento Negro desde a década de 1980 como também a receptividade dessas demandas pelos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e, em especial, de Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010)” (Citação de “Ações afirmativas raciais no ensino superior público brasileiro: um panorama analítico”, por Verônica Toste Daflon, João Feres Júnior e Luiz Augusto Campos)
Movimentos e discussões, enegrecem a sociedade. É o processo sociológico da população se reconhecer negra. O Brasil é o segundo país em população negra do mundo
Precisamos colocar que, apesar de iniciar e ser aplicada de diversas maneiras desde 2003, apenas em 2012 (governo Lula), há a aprovação da Lei n. 12.711, que cria reserva de vagas para alunos de escola pública, pretos e pardos e indígenas em todo o sistema de educação superior e ensino médio federal.
Movimentos e discussões, enegrecem a sociedade. É o processo sociológico da população se reconhecer negra. O Brasil é o segundo país em população negra do mundo.
Apesar de otimista, esta pequisa do IBGE ainda demonstra que a população de cor preta ou parda permanece sub-representada, afinal sua porcentagem na sociedade representa 55,8%, e a pesquisa revela que hoje, na universidade, são 50,3% pretos, pardos e indígenas.
A conquista é lenta e estilo conta gotas. O que deveria ser senso comum, como a necessidade e benefícios das cotas, ainda, apesar de comprovada sua eficiência, sofre muitos questionamentos e críticas. No dia da Consciência Negra, em um país que mata negros todo dia, em que os espaços subalternizados da sociedade como cárcere e favelas são predominantemente de população preta, ainda temos nos circulando, com naturalidade, um discurso que questiona a necessidade do dia da Consciência Negra, e que exalta a consciência humana. Consciência Humana! A mesma consciência humana que escravizou 15 milhões de pessoas só nas Américas, e que continua a não se reconhecer.
Desperte um branco. Exalte um negro. Se integre a luta antirracista
O papel do branco, que é de onde parto, é o necessário entendimento de si mesmo e de seu papel. O reconhecimento de suas incontáveis e inegáveis vantagens neste país de ainda forte herança colonial. Se colocar no lugar do povo negro e ter a consciência necessária para compreender que se precisamos nos vigiar e estar atento, à escuta, e ao espaço de fala, e principalmente tornar o respeito um ato cotidiano. Que estejamos atentos. Desperte um branco. Exalte um negro. Se integre a luta antirracista.
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