Matéria do portal R7 sobre os cachês dos rappers na Virada Cultural é tendenciosa
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Não vamos querer derrubar quem está desbravando caminhos para que futuras gerações possam sofrer menos do que os anos 90 sofreu
Este mundo é algo realmente engraçado. Refletindo sobre diversas publicações falando mal do Criolo, Emicida, Anitta e sobre o valor dos cachês pagos a esses artistas na Virada Cultural 2019, me veio à memória, em primeira instância, uma conversa com o Criolo debaixo da escada rolante, onde hoje se localiza a Gringos Records.
Criolo e eu conversávamos sobre as festinhas que ele fazia a troco de 2 reais no Executivo, casa de eventos na rua 7 de abril, e que muitos tinham a coragem de dar 0,50 centavos e ficar devendo 1,50 pra poder curtir a batalha dos MCs que ele começou.
Quando eu perguntei sobre o novo CD dele, Criolo me confidenciou que não tinha grana pra colocar o disco na rua e que as festas que ele promovia, como a Rinha dos MCs, eram só pra movimentar a cena do rap naquela época, mas que não o favorecia em nada, e que tinha esperado 18 anos pra colocar o primeiro CD dele nas ruas. Ele disse que não podia errar mais. Um erro na idade dele, poderia ser fatal musicalmente falando.
E aí me lembrei também que, na Virada Cultural, há mais de dez anos, nos jogaram – todos do Hip-Hop – num palco dentro de um matagal de difícil acesso, no Parque Dom Pedro. E ainda tomando geral na entrada, com viaturas da polícia nos reprimindo na entrada do lugar, como se o nosso estilo musical fosse o causador dos problemas que aconteciam durante a duração da festividade pelo centro.
Aí me recordo de estar com o DMN cantando “Racistas Otários”. Nosso colega de profissão Criolo, que na época assinava como Criolo Doido, deu um depoimento sobre o ocorrido, puuuuuto da vida, por conta da atitude tomada contra os nossos.
Esse vídeo foi registrado na época e divido com todos, para que antes que taquem pedras nas pessoas, compreendam o quão apedrejados essas pessoas foram para conseguirem ser reconhecidas artisticamente com sua arte, música e maestria nas articulações dentro de um jogo, que todo mundo da minha geração sabe, o quanto é difícil pra se manter vivo, e pra conseguir apoio para fazer qualquer tipo de atividade envolvendo hip-hop.
Assista ao vídeo em que o rapper Criolo protesta contra o tratamento dado aos artistas e ao público de rap na Virada Cultural no ano de 2008:
Muitos não conseguiram ter o êxito necessário para ter fôlego e dar continuidade em suas carreiras. Até atingiram um patamar celebre no meio da música brasileira, mas não tiveram estrutura para se manter, e isso trouxe a frustração em muitos.
A matéria do portal R7 é tendenciosa. Fala que os cachês pagos aos artistas afrontam a pobreza do país, mas os salários dos políticos não são colocados em questão e também afrontam a pobreza do país. A exploração da fé alheia, através das palavras bíblicas para adquirir dinheiro para benefício próprio, e obter palácios feitos de ouro e outras riquezas, como vemos no Templo de Salomão, no Brás, em São Paulo, também não é citado, e também afrontam a pobreza do país.
Os cachês pagos a estes artistas, já não fogem tanto do que já foi pago em outras edições da Virada Cultural. Está na internet para quem quiser ver e ter curiosidade. Anitta recebeu, em outra edição do evento, 250 mil, assim como os outros artistas que subiram gradativamente os seus valores.
Leo Santana e Cláudia Leite cobram 300 mil em suas apresentações, que não são só uma ao ano como na Virada Cultural, assim como uma infinidade de sertanejos. E parece que isso não afronta a pobreza do país. Ninguém fala nada.
Agora basta os “pretinhos do rap do Brasil” conseguirem atingir um valor expressivo de cachê com a sua arte, que já querem associar a culpa da pobreza do Brasil. O bispo deve estar correndo com João Dória e querendo enfraquecer politicamente Bruno Covas com matérias como esta.
Então… Antes de atirar pedras, tentem enxergar um pouco além do alcance, não vamos querer derrubar quem está desbravando caminhos para que futuras gerações possam sofrer menos do que os anos 90 sofreu…e ainda sofre pelo desrespeito à nossa cultura, artisticamente se falando!
DMN na cena. Elly Pretoriginal.
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