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Educação como prática política e o Hip-Hop como luta social

Educação como prática política e o Hip-Hop como luta social

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Valorizar os que trabalham e atuam na base do hip hop. Valorizar nossos professores. Assim podemos continuar no caminho para construir uma comunidade mais justa e igualitária

“Eu ando estudando”. “Eu estudei”. Quem acompanha o podcast Mano a Mano, do rapper Mano Brown, já ouviu algumas vezes estas frases. O membro dos Racionais reforça a cada episódio a importância da educação contínua e da busca pela informação, mostrando que o rap, hip hop são movimentos emancipatórios para destruir as narrativas que fortalecem a naturalização da desigualdade e dos preconceitos que nos cercam.

 A educação, por sua própria natureza, é um ato político. Como aponta Kohan, no livro Paulo Freire, mais do que nunca: uma biografia filosófica (2019): “A educação é política não porque seja partidária, mas porque exige formas de exercer o poder, de organizar o coletivo, de fazer uma comunidade”. Educar vai além da simples transmissão de conhecimento técnico ou acadêmico. Trata-se de formar sujeitos críticos, capazes de entender seu papel na sociedade e de atuar para transformar realidades. No Brasil, a educação historicamente sempre esteve no centro de disputas ideológicas, sendo vista tanto como um meio de controle social quanto como uma ferramenta de emancipação.

Essa perspectiva de educação como um processo organizador e coletivo encontra ressonância no hip hop combatente e consciente. No Brasil, o movimento se enraizou nas favelas e periferias urbanas, onde muitos artistas de rap e ativistas da cultura de rua passaram a atuar como verdadeiros educadores, transmitindo mensagens sobre racismo, desigualdade social, violência policial e falta de oportunidades.

Em meio ao discurso de prosperidade, ascensão e conquista proporcionado pela nova situação de sucesso do rap e seus subgêneros no mercado, o movimento combatente e militante não pode ser visto como algo ultrapassado por ser considerado sem valor comercial. A luta por direitos humanos sempre foi necessária, não pode ser apenas slogan ou cases de sucesso das agências mais descoladas. E isso não quer dizer que somos avessos ao sucesso dos nossos. A parada é outra.

Como uma cultura de resistência, o hip hop coloca em evidência as estruturas de poder que marginalizam populações negras e periféricas. Assim como na educação, o exercício do poder, no hip hop, não está associado ao controle ou à opressão, mas à organização comunitária e à construção de uma nova consciência racial, social e política. 

Continuando a falar sobre valor de mercado, podemos ver o que as gestões municipais e estaduais brasileiras estão fazendo com a educação. Em São Paulo, de acordo com a revista Carta Capital, a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou nesta quarta-feira 27, em segundo e decisivo turno, a proposta de emenda à constituição do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) que reduz o orçamento da Educação.

Já na prefeitura, segundo reportagem do Brasil de fato, o prefeito Ricardo Nunes anunciou que planeja estabelecer convênios com a iniciativa privada para a gestão de escolas municipais.

Em consonância com o que a educação busca-uma inclusão real de todos os grupos sociais- o rap faz eco à luta pelo acesso a uma educação que forme cidadãos críticos e capazes de compreender e atuar contra as injustiças.

Outro ponto de convergência entre educação e o hip hop é o questionamento dos estigmas impostos às populações periféricas. A educação politicamente engajada busca romper com a ideia de que pessoas negras e pobres são incapazes de alcançar o sucesso acadêmico ou profissional. No hip hop, a quebra desses estereótipos se dá pela afirmação do orgulho negro e pela exaltação da cultura de rua como uma forma legítima de expressão artística e intelectual. 

No Bocada Forte, sempre lembramos que a noção de coletividade é outro aspecto central tanto na educação quanto no hip hop. Isso não pode ser esquecido. A ideia de que o aprendizado e o poder são construídos em conjunto reforça a importância das redes comunitárias e da solidariedade entre os indivíduos.

O hip hop, desde seus primórdios, sempre promoveu a união entre seus membros, seja na organização das batalhas de rima, dos encontros de breaking ou das ações sociais promovidas por coletivos de grafiteiros e MCs, editores de sites e jornalistas, entre outras atividades. 

Em um cenário político cada vez mais polarizado, onde todos os dias são apresentados mais detalhes sobre a tentativa de golpe de estado no país, tanto a educação quanto o hip hop precisam reafirmar seu papel como práticas de resistência. 

Enquanto a educação promove a formação de cidadãos críticos, capazes de intervir nas estruturas de poder, por mais que a grande mídia só mostre um aspecto no nosso movimento, o hip hop continua a ser uma voz ativa nas periferias, trazendo à luz os desafios enfrentados pelas populações marginalizadas e fortalecendo a organização coletiva. 

Como diria GOG: “Não se iludam…senhores”. A extrema direita anda de mãos dadas com o neoliberalismo para fazer a educação ser exatamente o contrário do que o nosso hip hop dissemina e acredita.

Eles tem um projeto de país. Reportagem do site Intercept mostra como isso está sendo feito por meio de plataformas como a Brasil Paralelo.

Precisamos valorizar os que trabalham e atuam na base do hip hop. Precisamos valorizar nossos professores. Assim podemos continuar no caminho para construir uma comunidade mais justa e igualitária. Isso não pode sair das nossas mentes e corações.