Turntablism brasileiro está de luto por DJ Tydoz, um dos mais importantes DJs do Brasil
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Por Gil Souza, com Gilberto Yoshinaga e Noise D
DJ Tydoz
03.04.1973
09.07.2019
Niquele Moura Siqueira, DJ Tydoz (TDZ), ficou conhecido nacionalmente como DJ do rapper GOG e em seguida por ter criado uma coleção de discos que foi utilizada por praticamente todos os DJs do país, o ‘Arsenal Sônico’, discos para DJs contendo efeitos, frases e batidas. Ele também era membro da DF Zulu Breakers.
Tydoz lançou 6 volumes do ‘Arsenal Sônico’. O primeiro foi lançado em 1999. Originalmente o título seria “Batidas e Efeitos Vol. 2”, mas o trabalho acabou tendo o título alterado para “Arsenal Sônico Vol. 1” quando a C.A. Produções resolveu lançá-lo no mercado.
Este primeiro volume trazia batidas, colagens e efeitos e algumas referências eram: Rodney O & DJ Joe Cooley, Kraftwerk, Câmbio Negro, GOG, T La Rock, 2 Live Crew, Boogie Down Productions, Brujeria, Run DMC, Racionais, Mix Master Mike, Peanut Butter Wolf, Chaves, Professor X, DMN, Facção Central, Baseado nas Ruas, entre muitos outros. Todos os outros discos seguiram a mesma fórmula e se tornaram uma referência, sendo a principal fonte de inspiração para os DJs brasileiros desenvolverem suas técnicas.
Ele era muito atuante na Internet. Escrevia para o extinto site Cultura Hip-Hop. Tinha também seu próprio blog onde postava fotos, notícias, músicas, downloads e opiniões.
Durante muito tempo, Tydoz manteve uma web radio chamada Aliados do Ritmo e sempre participava dos debates proporcionados pela antiga seção Ponto de Vista, aqui mesmo no Bocada Forte.
Com a pandemia se tornou a coisa mais comum as lives de DJs, Tydoz ja fazia isso com seu Programa, assista abaixo uma edição transmitida ao vivo em 2014.
Sua morte foi em decorrência de um acidente de moto, no viaduto da estação Park Way do BRT, na altura da quadra 14. Tydoz morreu no local, aos 46 anos.
Nos solidarizamos com amigos e familiares. Lamentamos profundamente. Sua história, os seus feitos e contribuição para a Cultura Hip-Hop são imortais.
Pegamos os depoimentos de quatro de seus parceiros e amigos da cena do Hip-Hop do Distrito Federal (DJ Raffa, X – Câmbio Negro, GOG e Japão), além do três vezes campeão mundial pelo DMC e hoje uma das maiores referências do globo no turntablism, DJ Erick Jay. Leia abaixo:
“Olha, ele foi pioneiro aqui no DF como DJ e na cultura do Turntablism. Seu primeiro grupo de Rap se chamou Morte Cerebral e era com o Dino Black. Foi o cara que teve coragem de fazer, se não me engano, cinco discos de vinil para DJs, os ‘Arsenal Sônico’, que serviu muito para àqueles que não tinham acesso a discos importados de break beat de batalha etc… Também produziu junto comigo o disco solo do X (Câmbio Negro), pela Trama, intitulado ‘Um Homem Só’. Contribuiu muito com a cena dos DJs e o Hip Hop do DF e também fazendo scratch em vários álbuns, inclusive no meu álbum ‘DJ Scratch de 1995’.” (DJ Raffa)
“Nos conhecemos há uns 30 anos. Éramos muito próximos. Fizemos um programa de rádio juntos, ele me ajudou em muito trabalho de pesquisa para produção de discos. É uma grande perda não só pra mim, mas pro hip-hop do DF e do Brasil, mas principalmente para a família. Um cara novo ainda, 46 anos. DJ TDZ e eu fizemos o programa ‘Cultura Hip Hop’ aqui em Brasília, na rádio Cultura FM 100.9, durante os anos 90. Não era um programa que tocava só Rap, mas falávamos da Cultura Hip Hop em geral: Rap, break, graffiti, DJ, sorteávamos discos, camisetas, convites pra eventos, enfim… Ele é um cara – digo ele ‘É’ porque ele desencarnou. Foi-se a carne, mas o Espírito vive – de gênio forte, de muita personalidade, um entusiasta do Hip Hop. Um cara que fez muitas coisas que eu duvido que muita gente que se diz do Hip Hop, que se diz artista, teria coragem de fazer. Aliás, o Hip Hop tá cheio de artistas e poucos ativistas. E ele era um ativista. Ele foi o cara que fez uma série de vinil voltadas para DJs, chamada ‘Arsenal Sônico’. Na época ele tinha um carro, que era um fusca branco, e ele vendeu o carro pra poder prensar esses discos. Poucas pessoas teriam essa coragem, essa visão e esse amor pelo Hip Hop. É uma perda física lamentável pra todos nós, pro movimento Hip Hop. Era um estudioso do Hip Hop. Mantinha contato com DJs de várias partes do mundo. É uma perda física muito maior ainda pra família. Neste momento o que nós podemos fazer por ele são orações, pra que ele chegue do outro lado, tenha uma passagem tranquila, de muita luz, muita paz e dizer um ‘até um dia’. Não é um Adeus. Dizer até um dia, até qualquer hora, até mais tarde. Se nós somos merecedores nos encontraremos outro dia.” (X – Câmbio Negro)
“Mano, o DJ Tydoz teve uma grande importância pra nós, como DJ turntablista. Ele lançou um dos primeiros discos, né mano. Um dos primeiros DJs a lançarem disco. Lançava vários volumes. Ajudava muito no acesso. Ele foi muito importante pra cena DJing. DJ de Brasília, mano. Comprei vários discos dele. Eu ainda tenho, com efeitos sonoros. O acesso se tornou mais fácil pra gente, porque o preço era mais acessível do que comprar os discos dos gringos. Ajudou demais. A cultura turntablista cresceu demais graças aos discos dele. , tá ligado? Eu tive a oportunidade de falar com ele uma única vez, troquei uma ideia com ele e agradeci e disse ‘- Mano, você foi um DJ muito importante pra nossa cena”. Mesmo não precisando disso, de recursos dos discos ele fazia por vontade mesmo. Ele amava a parada. Foi muito importante. Eu nunca mais esqueci. Trombei ele uns três anos atrás e troquei mó ideia com ele. Ele já conhecia o meu trabalho. Eu já conhecia o dele muito antes e agradeci tudo o que ele fez pela cultura turntablista. Ele foi uma peça muito importante pra cena DJing. Real DJ do Brasil.” (DJ Erick Jay)
“Sinto muito por esta perda do ser humano e do parceiro, de uma pessoa que ajudou tanto o Hip Hop brasileiro. DJ TDZ, o Tydoz, era irreverente. Era um cara a frente do seu tempo. Aprendi muito com ele na arte do ir além, porque ele sempre teve a visão do empreendedorismo no Hip Hop, do ‘faça você mesmo’. Prova disto veio com a coleção ‘Arsenal Sônico’, que fez história pros DJs do Brasil. Caminhamos juntos durante um tempo. Trabalhamos juntos no álbum ‘Prepare-se!’. Sinto muito pela perda do profissional e do ser humano Tydoz… Aliás, Tydoz é um nome africano. Ele, mesmo de pele clara, adotou esse nome de uma liderança africana de muita importância. Isto é muito forte.” (GOG)
“Ele sempre foi um cara empenhado. Tirava do próprio bolso pra poder fazer a coisa andar, desde o primeiro grupo dele com o Dino Black, o Morte Cerebral. Ele sempre foi um cara correria, empenhado na questão do Hip Hop. Gostava da perfeição e das coisas bem feitas. Não gostava de nada meia-boca. Nossa proximidade foi maior nos anos 90, quando ele foi DJ do GOG, trabalhou com a gente na produção do álbum ‘Prepare-se!’. A gente mantinha uma relação de muito respeito. Toda vez que a gente se trombava, não falava só de Rap, mas também de família e do Flamengo, nosso time de coração. O mais triste é que o Hip Hop do DF já perdeu o lendário DJ Celsão em outubro de 2015. Nesta semana vai fazer um ano que perdemos o DJ Junior Killa… No último sábado perdemos o DJ Marcos, da Expansão do Setor O. Tydoz é mais uma perda irreparável. Um dos grandes DJs do Distrito Federal. Infelizmente, por uma fatalidade, deixa a família ainda cedo. Lamento bastante. Será sempre lembrado como uma grande pessoa, um grande talento, um cara muito respeitado.” (Japão – Viela 17)
Assista alguns vídeos com DJ Tydoz em ação
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