Tinta Loka Festival reúne graffiteiros em São Paulo
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“A arte por si só é um conflito”… Sem dúvida alguma, essa máxima encaixa bem para descrever a relação da cidade de São Paulo com a arte de rua, mais especificamente ainda o graffiti.
Quem acompanha esse debate, quem aprecia essa estética ou quem conhecer mais sobre terá, nos dias 21 e 22 de setembro, uma oportunidade única: o Tinta Loka Festival promove a pintura 60 painéis, com artistas selecionados em concurso, o público poderá acompanhar a produção, além da discotecagem e outras atrações.
A Agenda da Periferia conversou com Tamires Santana e Bonga Mac, da Bonga Produções, que faz a curadoria do evento, o qual conta ainda com o patrocínio do Shopping Center Norte, e produção executiva da Agência Romoff.
Tamires e Bonga explicam que “o festival surge da ideia de potencializar narrativas criativas de artistas urbanos”, apostando na ressignificação dos espaços urbanos. O festival é destinado a todos os profissionais criativos, sejam eles desenhistas, grafiteiros, designers ou até mesmo a pessoas interessadas no reconhecimento do espaço público como um local de criação e acesso à arte para todos.
A ação antecede a chegada da primavera e por isso o tema das artes será inspirado nas cores da estação, além, claro, de buscar referências em pontos icônicos da zona norte como o Parque da Juventude, o Centro de Tradições Nordestinas, o Parque da Cantareira, a Biblioteca de São Paulo, o Museu Aberto de Arte Urbana, o Horto Florestal, o Teatro Alfredo Mesquita, o Centro de Tradições Nordestinas, o Parque da Cantareira, o Campo de Marte, entre outros pontos turísticos, como pano de fundo.
Além da oportunidade de criar uma diálogo, ressaltando como o graffiti pode transformar o espaço e olhar, os organizadores ressaltam que o evento vai discutir e ressaltar, para os artistas, questões relacionadas a segurança necessária para realizarem os seus trabalhos e a sustentabilidade com a natureza.
Agenda da Periferia (AP): O número de trabalhos enviados e a qualidade dos trabalhos enviados surpreenderam vocês?
Bonga: O que mais nos surpreendeu foi o fato de que, em uma rápida divulgação, tivemos um número expressivo de artistas inscritos (451) e um número de acesso na página com mais de 1000 acessos. Com isso a seleção, está sendo bem criteriosa e difícil para definir apenas 60 pessoas.
Tamires: Nestes anos de estrada com o Tinta Loka Street Book, tivemos chances de ampliar nossa rede e percebemos o enorme potencial da cultura urbana em diversos locais. A cada ação, nos surpreendemos com o número elevado de ótimos artistas e pela potência com que a cena está se desenvolvendo em diversas cidades e estados pelo Brasil; me surpreendeu o curto espaço de tempo com que a rede de artistas se mobilizou para se inscrever e também a diversidade cultural dos inscritos.
AP: Os graffitis serão feitos nos dias 21 e 22 de setembro? O que vai rolar nesse dia? Quais as principais atrações?
Bonga: Sim o evento será realizado nos dias previstos somente 21 e 22 de setembro com os 60 artistas selecionados, onde possuirão os dias de produção de suas obras. Pois a grande atração do evento são eles (as) mesmos.
Tamires: Os painéis serão desenvolvidos nos dias 21 e 22 de setembro das 9h às 18h e para animar a festa teremos discotecagem dos DJ Clevinho e Manga e a oportunidade do público e admiradores da arte acompanharem a transformação do território. Porém, o festival vai muito além da ação artística em si. O que gravita em torno dele e o que tomamos por prioridade é o esforço em levar uma conscientização para os artistas, produtores e população. De uma forma inovadora, este festival vai contar com o acompanhamento de um técnico de segurança do trabalho. Além dos itens necessários para o desenvolvimento criativo, serão disponibilizados equipamentos de proteção individual nos kits, buscando atender as normas atuais da legislação que trate sobre trabalhos em altura. Os técnicos fornecerão treinamento específico e acompanharão os artistas em caso de dúvidas e para dar o suporte necessário. É a primeira iniciativa de arte de rua que aborda a importância do uso de equipamentos de proteção individual e, além disto, como em poucas iniciativas, adequa a estrutura para ampliar uma conscientização ambiental sobre os resíduos sólidos gerados em toda a ação, que terão locais adequados para o seu descarte. A ideia é fazer com que o artista adeque as suas práticas enquanto agente criativo, sem abrir mão dos cuidados necessários para a sua segurança e também contribua para a preservação do meio ambiente, podendo, inclusive, ser um agente multiplicador, pois muitos são produtores culturais e educadores.
Os painéis serão pontes para o conhecimento, para a composição urbana, para reinvenção, para o impacto social e sustentabilidade. Criatividade, educação, segurança e resíduo zero são os pontos que rondam nossos esforços, na tentativa de colaborar com a conscientização do artista e agentes culturais. Creio que são discussões de extra importância, apesar de ainda ser algo pouco evidenciado na cultura de rua. Desejamos inovar e contribuir para um processo que deixe em cada artista ou produtor novas práticas.
AP: É possível dizer que a trajetória do graffiti, em São Paulo, é marcada por conflitos? Há pouco tempo, houve iniciativas do poder público vistas como metidas de repressão e, nesse festival,há a parceria com um shopping center. Como você avalia esses processos?
Bonga: Acreditamos que tanto a mídia e sociedade em geral (estado e população) sempre utilizaram algo para ser “pano fundo” para suas questões sociais e seus problemas, pois as expressões e assim como a cultura urbana em especial o graffiti não pode ser responsabilizado ou culpabilizado por tais problemáticas. As pessoas precisam ter outras percepções.
No entanto, acreditamos muito em projetos com os setores privado, marcas e grandes empresas em parcerias em ações como essas. Estamos em um novo caminho, de tendência mundial, de responsabilidade sócio-cultural e que também está gerando nova mentalidade de modernidade nas grandes Metrópoles. O turismo social e ressignificação dos espaços urbanos, com arte é um exemplo disto.
Tamires: Tudo o que envolve liberdade de expressão, criatividade, não controle, ousadia, mudanças radicais é digno de conflito. A arte, por si só, é um conflito. Sim, acredito que as contradições de uma sociedade que pulsa vida, valores, culturas e que toda hora se ressignifica traz este tipo de contradição, mas não quer dizer que mediante uma liminar ou uma ordem ou uma interpretação toda a sociedade enxerga da mesma maneira tais interpretações. A arte é arte em qualquer época e, como sua própria história nos conta, ora é acolhida, ora é expulsa. É a contradição da vida. Viver é uma arte! Existe mercado, oportunidades, narrativas, questionamentos e atitudes para todos, cabe analisarmos o que cabe para cada época, conforme a mentalidade do coletivo.
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