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Opinião: “Guardinha” no rap? Nem sempre…

Opinião: “Guardinha” no rap? Nem sempre…

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Por: Gilberto Yoshinaga*

Exagero nunca é bom. Para a direita ou para a esquerda, para cima ou para baixo, para a ditadura ou para a liberdade, para a riqueza ou para a pobreza, para o frio ou o calor, o exacerbamento sempre costuma se mostrar uma maneira prepotente e cega de enxergar as coisas de forma unilateral. Ou, ainda, uma maneira radical de fugir de debates, constrangimentos, questionamentos e segundos (ou terceiros) pontos de vista.

Para diferentes situações em que alguns fãs de rap postam críticas à atitude de um ou outro artista, tenho visto ser cada vez mais repetida a expressão “guardinha do rap”. Em alguns casos até acredito que seu uso seja apropriado, já que determinados fãs se acham no direito de atacar sem argumentos, ofender sem conhecer e, pior ainda, querer julgar determinado MC ou apontar o que ele deveria fazer. Ninguém tem esse direito e, nesses casos, até concordo com a expressão “guardinha”.

Mas existem os amenos, existe o meio-termo: aqueles que, de forma racional, apenas levantam questões, incitam debates, apontam contradições e incoerências, buscam ampliar o horizonte de correntes ideológicas sobre determinados assuntos. Tudo no campo da argumentação, com embasamento e sem ofensas. Nesses casos, na minha opinião, vociferar que “tem guardinha no rap” é uma atitude radical que visa apenas fugir de um debate sadio, no melhor estilo ‘pombo enxadrista’.

É claro que ninguém tem o direito de policiar ninguém, assim como nenhum MC tem obrigação de dar explicações sobre sua arte ou sobre suas ações. Ainda assim, se uma pessoa decide se expressar artisticamente, ela precisa saber que será vista/lida/escutada e que sua mensagem despertará diferentes tipos de reação. A qualquer artista é necessário aceitar as críticas construtivas, bem argumentadas, mesmo que não concorde com elas. Se repudiar toda e qualquer crítica com esse estilo de fugir do debate (“xô, guardinha”), também deveria recusar todos os elogios e premiações, que são a outra face de uma mesma moeda. Elogiar pode, mas questionar ou criticar não pode? Por que?

Aliás… Historicamente, o rap como expressão popular sempre foi uma metralhadora de críticas. Critica a polícia desonesta, os políticos mentirosos e corruptos, os empresários gananciosos, a mídia que mente, distorce e desinforma, o sistema educacional atrasado, a cultura que aliena… e como justificar que quem tanto critica não aceita ser criticado? Principalmente os que promovem as práticas que sempre foram atacadas pelo próprio rap, como cantar mentiras, aceitar cachê oriundo da corrupção, fazer alianças com grupos empresariais gananciosos, topar tudo para aparecer na mesma mídia que mente, distorce e desinforma, fazer parcerias com correntes musicais que alienam…

Há níveis diferentes de críticos e, se os mais radicais são tachados de “guardinhas”, os que ficam silenciosos diante de situações com as quais não concordam não passam de meras “guaritas”, vazias, inertes, sem função nenhuma. Costumo dizer que é mais fácil evoluirmos e aprendermos algo com as críticas do que com os elogios. Mas nem todos compartilham do mesmo conceito de “evolução”. Para uns, evolução se resume a ganhar dinheiro a qualquer custo, e só.

Finalizo este texto com uma frase de Martin Luther King Jr., que é apontado como referência por 99% dos MCs – inclusive muitos que chamam de “guardinha” toda e qualquer pessoa que opine sobre seu trabalho: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”.

PAZ e LUZ a tod@s!

*Gilberto Yoshinaga é colaborador do Bocada Forte, jornalista, escritor e produtor cultural. É autor da biografia Nelson Triunfo – Do Sertão ao Hip Hop.