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#Contextos: cultura hip hop, rap e ressignificações

#Contextos: cultura hip hop, rap e ressignificações

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IMG37-e1437412755557 #Contextos: cultura hip hop, rap e ressignificações“O rap se inseriu no estilo de vida das pessoas.”

*Por Arthur Moura

O processo de desenvolvimento da cultura hip hop, mais especificamente o rap, dentro do contexto de inserção e construção de mercado obedeceu a uma série de fatores dentre eles a possibilidade do rap se transformar em estilo musical. Para ser considerado como tal o rap viu-se na obrigação de abordar todas as questões possíveis que não necessariamente diz respeito ao seu universo histórico de lutas contra a opressão, mas toda a infinidade de assuntos que compõe o universo das coisas. Em outras palavras, para além de falar sobre aspectos políticos, o rap tornou-se “livre”, portanto, podendo abordar temas aparentemente secundarizados pela outrora visão hegemônica de rap do Estado de São Paulo, como relacionamentos e conquistas, o dia a dia do MC, diversão, drogas, suas impressões pessoais sobre qualquer assunto, etc, sem que com isso tenha que necessariamente investigar sistematicamente os aspectos contraditórios da realidade. Isso foi entendido como um crescimento da cultura (principalmente quando falamos dessa diferenciação do rap do Rio de Janeiro com relação ao rap produzido nas periferias de São Paulo), já que antes o rap negava se curvar a outras tendências sendo entendido como um estilo demasiado duro, “reclamão”, “quadrado”, obtuso e anticordial. Dentro desse contexto o rap do Rio tornou-se mais “diplomático”, ou seja, permissivo, propenso às adversidades.

Esse crescimento gerou o reconhecimento de uma fatia importante da sociedade que assegurou ao rap o status de ser mais uma oferta possível dentro do mercado de consumo da indústria cultural. Com isso, a abordagem de cunho político acompanhou as multiplicidades de discursos que possam falar sobre este assunto muitas vezes caindo no vazio de “tudo é político” sendo portanto qualquer assunto válido mesmo permeado por preconceitos e discursos opressivos. A política passou a ser entendida como uma das possibilidades do que possa ser falado no rap como se o universo fosse uma espécie de menu e o confronto político um ítem a ser ofertado por aqueles que possam vir a se interessar pelo assunto. E mesmo a política poderia estar presente num contexto onde nada lhe diz respeito. Essa democracia dos discursos é o que hoje legitima o rap enquanto estilo musical passível de consumo em escalas maiores e digno de aceitação em mídias burguesas falsamente criticadas pelo rap atual tendo muito mais um caráter desejoso de permear suas estruturas e “modifica-la por dentro”. “O lado bom da favela”, “não só falar de problemas”, afirmações como essas são por demais conhecidas e se afirmam estranhamente como um discurso crítico.

Para consolidar este novo ideário o rap foi o principal veículo que garantiu não só a inserção do hip hop nas mídias televisivas, virtuais e radiofônicas. O rap se inseriu no estilo de vida das pessoas. O estilo de vida do rap tem os principais artistas da cena como referência. É a partir dos discursos e práticas que a cena se referencia e a rua continua sendo o ambiente de reconhecimento e reprodução dos comportamentos sociais. O estilo de vida, no entanto, nada tem a ver com os fundamentos da cultura, ou seja, aquilo que se chama o compromisso, muito afirmado por Sabotage. Os fundamentos não necessariamente tornaram-se mercadorias. Os fundamentos foram ressignificados através do processo de reprodução do capital. Por isso existe tal profusão de ideias que formam o campo discursivo do rap. Por outro lado, a afirmação de que é preciso falar de outras coisas veio acompanhado de práticas que buscou construir esses conceitos a partir de ações sistemáticas em espaços públicos contrariando muitos donos de boate ao publicizar de forma mais ampla a cultura Hip Hop através das rodas de rima.

*Esse é um trecho da dissertação (UERJ, FFP), de Arthur Moura, músico, produtor e diretor na 202 Filmes.