As 10 músicas essenciais de Bob Marley
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#Reviews | Em suma: Bob Marley foi o maior nome do reggae, o cara que mais popularizou o gênero, enfrentou maus bocados ante o governo jamaicano, tornou-se um dos artistas mais rentáveis para a indústria fonográfica (principalmente após a sua morte), lutou contra o apartheid na África, um músico tão importante quanto ele deve ser eternamente redescoberto, relembrado, reouvido.
Notamos que maioria é B-side. Com exceção de “Simmer Down”(os mais antigos, se lembrarão dela na propaganda clássica do Palio Weekend) integralmente lançadas assim quando foram gravadas. Boa parte das músicas aparece em compilações posteriores ou bonus tracks de versões remasterizadas de seus clássicos.
Ainda há muito, muito o que se desvendar sobre Bob Marley – tanto o que já se tem disponível em lançamentos, como as várias versões que permanecem inéditas, só esperando que a administradora do patrimônio Bob Marley encontre o momento oportuno de disponibiliz…, quer dizer, por em catálogo.
Vai lá, divirta-se. A seleção está em ordem de lançamento:
Ano: 1963
Gravadora: Heartbeat Records
Disco: Simmer Down at Studio One
No início dos anos 1960, na Jamaica, Coxsone Dodd era o grande produtor quando se falava de rocksteady e ska. Em 1963, Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer só queriam agradar o produtor, para que pudessem dar os primeiros passos de uma bem-sucedida carreira. Ele teve a genial ideia de deixar The Skatalites fazer a sessão rítmica: um ska levado pelo trombone, deixando com que a voz de um jovem Bob Marley instigasse a dança com toda a energia da juventude. Pouco tempo depois, tornaria-se número 1 nas paradas jamaicanas, marcando o primeiro grande passo dos Wailers.
Ano: 1964
Gravadora: Studio One Records
Disco: Wailing Wailers
Na Jamaica, quem queria começar uma carreira bem-sucedida como músico, não podia falar mal do governo, tampouco reivindicar alguma causa social. Jovens como eram, de alguma forma Bob, Peter e Bunny tinham que externar o que viviam nas ruas. Então, sobressai a linguagem. Maneirismos que nem o mais renomado professor de semântica poderia supor e um dinamismo típico das periferias marcam “Rude Boy” que, se por um lado não batia com a difícil situação política de frente, por outro soava transgressora por revelar um modo de vida totalmente maloqueiro. Era o ska se aproximando do gangsta.
Ano: 1965
Gravadora: Studio One
Disco: One Love at Studio One
Muitas pérolas do início da carreira do trio original dos Wailers saíram com One Love at Studio One, compilação entre 1963 e 1966 de materiais do início da carreira do grupo. A grande influência naquela época era o rocksteady e ska. “Go Jimmy, Go” – B-side do single “How Many Times” – traz tais influências, mas surge no tempo marcado do doo-wop. Feito pras pistas, pra ouvir alto e entender porque produtores como Coxsone e, mais tarde, Chris Blackwell, quiseram focar os holofotes somente para Bob Marley, que mais uma vez brilha nos vocais.
https://youtu.be/Ko7E8hT1bgQ
Ano: 1970
Gravadora: Trojan
Disco: Soul Rebels
Ao contrário do que você deve estar pensando, não, a música não fala da falta de água no mundo, nem prevê o perrengue que vivenciamos a cada dia que abrimos nossas torneiras. No entanto, seu sentido de vitalidade não deixa de ser sintomático: a canção menciona o líquido com um sentido de vitória, de sobrevivência: ‘Tenho uma garrafa/É doce a vitória/Tenho seu amor/Poder da glória’. A produção ficou por conta de Lee ‘Scratch’ Perry.
Ano: 1970
Gravadora: Tuff Gong
Disco: Songs of Freedom (compilação)
Percebam: a base é de “Put It On”, mas só que ela havia sido composta antes. A letra é de Glen Adams, que depois se destacaria como o grande tecladista dos Upsetters. Fala de um espírito malevolente que caminhava com um caixão de três rodas empoleirado. O ritmo foi criado numa progressão de acordes. Então, Lee ‘Scratch’ Perry abafou a voz de Bob Marley, para que soasse como uma alma a vagar – ou mesmo uma pessoa se pronunciando sem nada ao seu redor.
Ano: 1972
Gravadora: Island/Tuff Gong
Disco: Catch a Fire (Deluxe Edition)
Uma canção que Bob Marley dedicou à sua mãe, Cedella Booker, que viveu bem mais que o músico (ela faleceu em 2008, aos 82 anos). Talvez fosse uma redenção aos tempos em que o pequeno Nesta era cobrado, para que tivesse uma profissão assalariada, afinal, as oportunidades eram bem escassas na Jamaica. Ele seguiu o sonho, acreditou e tornou-se grandioso. De qualquer forma, “High Tide or Low Tide” é simplesmente uma das mais bonitas homenagens à mãe que um inspirado músico poderia fazer: ‘Ela estava rezando/E as palavras que ela dizia/Permanecem vivas em minha cabeça/Ela disse: a criança que nasce neste mundo precisa de proteção’.
https://youtu.be/YN1JoJcRvJg
Ano: 1973
Gravadora: Trojan
Disco: African Herbsman
Uma das faixas ‘Bob Marley paz e amor’, com a diferença de que os teclados eletrizados de Glen Adams preponderam sobre a segunda base rítmica do reggae, que invade a canção. Eu duvido o ouvinte não ficar repetindo ‘stop your fussing and fighting’ depois de ouvir esse hinoas muitas que não tiveram o grande alcance que mereciam.
Ano: 1973
Gravadora: Island/Tuff Gong
Disco: Burnin’
Não é bem uma faixa desconhecida. Difícil não parar nela ao se deleitar com o último disco a registrar o trio original dos Wailers. Os arranjos de Chris Blackwell, que forneceu uma estrutura de estúdio bem mais avançada com a Island, valorizam o baixo de Aston Barrett e, principalmente, as notas densas do teclado de Earl Lindo. Ali, o reggae atingiu alto grau de musicalidade. Não é à toa que esses músicos eternizariam a base rítmica dos Wailers.
Ano: 1973-75
Gravadora: Island/Tuff Gong
Disco: Talking Blues
Canção que ficou mais conhecida por conta da versão remasterizada de Natty Dread (1974), “Am A Do” é Bob Marley flertando com as I-Threes, como supomos que ele deveria fazer ali, em pleno auge, com a agenda lotada de compromissos musicais, viajando aqui e ali. “Am-A-Do” é um reggae sexy, voluptuoso, para ser entoada ao ouvido da sua paquera.
Ano: 1976
Gravadora: Tuff Gong
Disco: Songs of Freedom (compilação)
As dificuldades da infância, o descaso do governo (subordinado aos interesses norte-americanos) e o perigo da violência (Marley foi baleado e quase morreu) poderiam dificultar qualquer sentimento de amor a um País, mesmo que seja o seu. Durante maior parte da vida, Bob Marley demonstrou amor pela Jamaica: queria lutar por ela, queria que seu povo triunfasse acima de tudo. Quase perdeu a vida por isso, então ele abraçou o mundo – mas, claro, não deixou de propagar o amor por seu país. “Smile Jamaica” não é bem uma canção de amor à ilha. É o desejo de ser feliz por lá, passando por cima de todas as adversidades políticas e sociais. Ao final, o que vale, é um sorriso. Simples assim.
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