Organização Xiita e Sanatório, a zona oeste de São Paulo mostra sua força
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Os 4 cantos da cidade de São Paulo são repletos de grupos de Rap, todos eles revelaram grandes nomes e a zona oeste sempre esteve bem representada. O nome mais conhecido de lá é o RZO, mas tem (ou teve) o Código Fatal (Lakers e Pá), Eclesiastes (O Pregador), Tate, Cartel Z/O, Império Z/O, Expressão Ativa, Kalil Kom K, Família 4 Vidas, Czar e mais um monte de artistas, produtores e beatmakers que daria uma lista imensa. Se quiser aumentar ainda mais a lista, basta falar dos outros elementos da Cultura Hip Hop, são muitos os DJs, Grafiteiros e as Crews de B.boys representativas. Muitos nomes não estão nas playlists de quem não sabe o que acontece nas ruas e só consome o que os algorítimos e o conteúdo patrocinado lhes empurram. Mas sempre disse, que o que vale é o que acontece na rua, esses ficam enquanto os outros apenas passam. Tem uma música do Branco P9 em que ele rima – “a indústria cria artistas, as ruas MCs”.
No dia do trabalho, 1º de maio de 2020, dois coletivos/selos/gravadoras/estúdios/grupos, lançaram cada um deles uma música. Uso todas essas denominações porque eles são independentes, portanto responsáveis por todo o processo para que a música chegue até o público, então eles são tudo isso. O Organização Xiita lançou a música “Marreteiros” com participação de Luiz Preto e Negrífero. Já o Sanatório Produções lançou o vídeo da música “Desafio de quarentena” com Negruniversal e Sujo MC.
O Xiita é um grupo já com 22 anos de correria, se não me engano o Pixote é o único integrante da formação original e é um mano que merece o respeito de todos da Cultura Hip Hop. Não tem um evento que eu vá, que ele não esteja lá divulgando seus corre, vendendo o CD, trocando ideia com a rapaziada e da minha parte é respeito máximo.
Pra resumir a história deles, o grupo surgiu da união de outros três grupos – Tribunal Negro (Embu das Artes), R.O.T.A (Carapicuíba) e Cães das Ruas (Carapicuíba). O nome foi ideia do Vulto, hoje convertido ao Islã e atendendo pelo nome de César Kaab Abdul (Pugnaz).
A música que eles lançaram traz no título a gíria usada aqui em São Paulo, e em outras cidades também, para nomear os ambulantes que vendem produtos nos transportes públicos. Como eles são da Zona Oeste e o trem é um dos transportes mais utilizados por lá, a música é mais direcionada para os “marreteiros” da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Lá são duas linhas que saem do metrô Barra Funda e depois se dividem, a linha 07 Rubi e a linha 08 Diamante – por aqui as linhas de trem tem esses nomes de jóias, mas é só no nome, apesar de terem melhorado muito desde a música “O Trem” do RZO, os pontos negativos são vários.
Essa faixa do Xiita, como já citei, tem a participação dos manos do Caos do Subúrbio (Negrífero e Luiz Preto) e scratches do DJ Zípper. A produção é do Brado Anchieta, que faz parte dessa nova formação do grupo. A letra é uma homenagem, reconhecimento e um relato da origem humilde dos marreteiros, os problemas enfrentados com a fiscalização e os PFs (Polícia Ferroviária). Faixa boa, refrão cantado, nas colagens o DJ usou RZO e Racionais, respectivamente tiradas da já citada “O trem” e “Eu sou 157”.
Ouça o som do Xiita
Já o Sanatório Produções como coletivo/selo/gravodora/produtora é mais recente, mas cada um dos seus integrantes já tem uma caminhada. O Déjà Vú por exemplo já foi do Menthafora e do Contra-Fluxo, os outros integrantes são Negruniversal, Renaguera e o grupo NAMAS7Ê, formado por Cah Roots, Érry Jota, Preta Rê, DJ Piro e Tony Sagga. Dessa música participam Sujo MC e Negruniversal, esse já conheço há mais de 20 anos, mano que tem um pé na Z/L e outro na Z/O e vice-versa, skatista de raiz, streeteiro, rua pura. Música, letra e vídeo foram feitos em 4 dias durante a quarentena, o beat é do Tony Saga e a ideia foi sair da zona de conforto e rimar num som inspirado nos pancadão. Nas rimas vários temas atuais e o vídeo tem imagens de dentro do estúdio e da laje.
Ouça o “Desafio de quarentena” com Negruniversal e Sujo MC
https://www.youtube.com/watch?v=XEAwclHGD3k
Eu poderia ter feito um post pra cada um deles, mas preferi juntar, unir. É isso que precisamos sempre e não apenas por conta do momento atual. Juntos somos mais fortes, é preciso unidade, de ideias, de forças, de iniciativas, de sentimentos e pensamentos. Já pensou se os dois coletivos fizessem esse lançamento ao mesmo tempo em uma live? O alcance seria maior, seria inovador, criativo, único e exclusivo. O Xiita já mostrou essa unidade em 2002, quando se juntaram ao selo Pau-De-Dá-Em-Doido (P.D.D) pra lançar o vinil ‘Guerra Santa’. Isso não é uma crítica ao que fizeram e da maneira que fizeram, de forma alguma e tenho certeza que os mesmos entendem o que falo. É uma ideia jogada para que todos pensem o que pode ser feito daqui pra frente.
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