Hieroglyphics na Rádio Boom Shot #21
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Confira a transcrição da entrevista de Pep Love e Casual (Hieroglyphics), no dia que chegaram ao Brasil (10/12/2004), ao Programa Boom Shot. A entrevista foi feita por Jimmy Luv, e é um presente de natal, não só para os ouvintes, mas também para os apresentadores. Além de ter respondido as perguntas, eles escolheram quatro músicas. Você pode conferir uma parte do áudio da entrevista escutando o programa na Rádio Bocada.
Confira a playlist e logo abaixo a transcrição da entrevista
(o áudio acima não está completo)
01) Opio – Mind Body Soul
02) Cocoa Brovaz, Tony Touch & Hurricane – Spanish Harlem
03) Mobb Deep – That Mobb Deep
04) Enganjaduz – Banca de Jah
05) Casual – Me-O-Mi-O
06) Pep Love – Fight Club
07) Souls Of Mischief – 93 Till Infinity
08) Hieroglyphics – You Never Knew
09) Madlib & LMNO – Headlock
10) Mf Doom & Mf Grimm – Doomsday
11) Slum Village – Raise Up
12) Contra Fluxo – Revelações (rmx)
13) Looptroop – Bandit Queen
14) Micranots – Glorious
15) Roots Manuva – Jungle Tings Proper
16) Zack De La Rocha, Krs One & Last Emperor – CIA
Boom Shot (B.S): Essa é a primeira vez de vocês aqui, então como estão sentindo a vibe daqui?
Casual: Chegamos aqui há poucas horas atrás e desde que sai do avião tô me sentindo bem. Já tinha ouvido falar, agora quero ver, vamos passar uns dez dias aqui.
B.S: E vocês vão tocar em outros lugares também?
Pep Love: Não, vamos tocar duas vezes no Sesc em Santo André, depois vamos pro Rio, vamos curtir o Brasil, a cultura e suas belezas.
B.S: O que vocês sabem a respeito do Hip-Hop brasileiro? Já ouviram alguma coisa?
Pep: Sei um pouco, já escutei umas coisas. Tenho amigos que já vieram pra cá e levaram cds. Tem um grupo que ouvi sobre os caras, dos Racionais MCs já escutei uns sons.
B.S: Hip-Hop?
Pep: Sim, Hip-Hop! Racionais é Hip-Hop, né?
B.S: Sim, o maior grupo brasileiro…
Casual: Eu ainda não ouvi, estou esperando pra escutar os grupos que abrirem os shows.
B.S: O que vocês acham dessa parada de mp3, troca de músicas na internet?
Casual: De um modo é legal, mas tem o lado bom e o lado ruim. É bom pros artistas que não conseguem ter uma boa divulgação é ruim pros que têm uma boa divulgação. Tipo os que lotam as grandes casas de show dizem “não queremos que peguem nossas mp3!”, porém têm outros que não têm outra maneira de levar a música até você, e não ligam pra isso. Ainda é um “roubo” de qualquer maneira, mas se você fizer um uso correto tudo bem, sem piratear, porque a pirataria pode acabar com o Hip-Hop. Um cara pode pegar o disco e passar pra muita gente.
B.S: Então, de algum modo vocês apoiam?
Casual: Eu não diria que apoio, porque no momento nem sei o que realmente isso é. Em geral toda essa coisa de mp3 tem o lado bom e o ruim. Eu não apoio o “roubo” ou a pirataria de jeito nenhum, eu faço isso (risos), mas não apoio! Na real não faço isso! (risos)
B.S: Hoje em dia muitos artistas se consideram underground. O que significa pra vocês “ser underground” na atualidade?
Pep: Underground pra mim significa apenas um estilo de Hip-Hop que você faz, algo que seja individual ou único, não por causa do dinheiro, sem se preocupar com o que tá na moda. Não creio que o underground tenha a ver com ser ou não popular, tipo atingindo as massas, ou tocando no rádio. A música underground é uma música sem exposição, que vêm de gravadoras independentes. Mas algumas músicas que vêm de gravadoras independentes se tornam populares. Eu considero ser mais um estilo do que um nível de popularidade.
B.S: Aqui no Brasil muitos pensam que underground é um tipo de Hip-Hop.
Casual: Não há uma definição certa para esses termos. Pra mim underground é tipo uma alternativa para o mainstream. Não é música feita para o mainstream, nem para a massa, é só feita para o “underground”. Alguns fazem música e querem que todo mundo curta, pra mim tem outros que só fazem para um certo público gostar. E assim eles podem acabar no underground, porque não conseguem chegar a ser mainstream. Não é por causa do tipo de som. É a minha visão, como muitos artistas que se consideravam underground atingiram um status “pop” e não são mais underground. E tem outros que querem ser underground. Não é o que fazemos, porque quero que todos curtam minha música, mas ao mesmo tempo quero manter minha “exclusividade”.
Pep: Integridade! Manter a sua integridade criativa, o que as pessoas gostam ou não você realmente não pode controlar.
B.S: Tem que se manter “verdadeiro”…
Pep: Exato! O termo underground tem tantas definições que eu nem o uso!
B.S: Vocês ainda são considerados underground nos EUA?
Casual: Acho que mudamos do termo underground para “indie”. Primeiramente você é underground e se você fica por muito no underground você é considerado independente e se você é independente e atinge um nível de sucesso, você não é mais independente, você é mainstream. Essa é a minha visão, mas alguns ainda nos consideram underground.
B.S: O que vocês vêm de diferente no Hip-Hop de hoje e de quando vocês começaram?
Pep: Sinto que tá mais popular, têm mais gente fazendo isso por várias razões. Sempre teve influência do mundo do entretenimento, com coloridos, etc, mas ao mesmo tempo é algo que veio da rua para a comunidade, principalmente. E agora tem uma grande força que dirige a propaganda, economia, essas coisas. Há uma razão na qual as pessoas investem no Hip-Hop, e as que fazem isso só pra ganhar dinheiro. Todos que fazem seu trampo no mundo querem ser pagos, mas antes estava tentando ser popular, tinha uma certa energia porque estava tentando tipo “me deixe entrar e ver o que vai acontecer…” E agora que já aconteceu, se dividiu em 2 coisas diferentes: uma diretamente sobre dinheiro, e outros que não esquecem que tinha algo a mais envolvido antes.
B.S: Vocês vêm diferença no Hip-Hop da costa leste pra costa oeste, pro sul?
Casual: Estilos, expressões, o Hip-Hop se difere em todos os lugares. Quando escuto rappers do sul, escuto pra ver o que tá pegando lá e que tipo de beats eles curtem. É a única separação que eu vejo, porque todos estão falando das mesmas coisas, em geral, tentando serem vistos como melhores do que são. Mas ta ok também, porque podem se expressar e mostrar pros outros como querem ser.
B.S: Fora Hip-Hop, o que vocês escutam?
Pep: Todo tipo de música, músicas que meus pais escutavam, reggae, soul, coisas antigas. Em casa escuto Stevie Wonder, artistas soul, Bob Marley. Escuto todo tipo de música porque cresci ouvindo todo tipo de som. Não tem nenhum tipo de música em particular que eu possa apontar.
B.S: E quem são seus artistas preferidos de Hip-Hop hoje?
Pep: Sim, todos que estão fazendo música de um jeito certo. Nós! Eu sou um dos meus artistas favoritos! Eu curto Jay-z e Nas, Redman e todos os artistas que a maioria gosta. E coisas que não se ouve tanto, como os clássicos, tipo A Tribe Called Quest, Erick B & Rakim, Big Daddy Kane, B.D.P, Scarface, tudo.
B.S: Pra vocês qual é o futuro do Hip-Hop?
Casual: Desde que começou, sei lá há quantos anos, se desenvolveu para uma indústria de bilhões de dólares. Sempre indo em frente, nós estivemos numa “major”, com pessoas tentando nos censurar. Ainda tentam censurar a música um pouco, mas passamos dessa fase, no final dos anos 90. Agora está crescendo e se tornando um grande negócio.
Pep: Acho que o Hip-hHop se espalhou para terras diferentes. Eu acabei de ver dois garotos pulando atrás dum ônibus e correram porque os policiais estavam lá, as crianças, saca? A energia viva da cidade, energia de pessoas pobres. É claro que as crianças são o futuro, mas o Brasil é o futuro do Hip-Hop!
B.S: Como é que vocês conseguem se manter juntos depois de 10 anos?
Casual: Amizade de verdade! Éramos amigos antes de formar o grupo e antes mesmo de entrarmos para o “business”. Somos amigos das antigas…
B.S: Vocês podem dizer o que aconteceu com o Del, que não pôde vir para o Brasil?
Casual: Na real eu não sei… Nem sei quem viria, quem aparecer… ahhh… Você sabe?
Pep: Ele não queria vir! Eu acho que ele não estava com “energia” pra vir, ele acabou de fazer uma tour dele. Ele não tava empolgado o bastante pra viajar.
B.S: Mas vocês ainda trabalham juntos?
Pep: Sim, sim! Acho que se ele não estivesse em tour um mês antes de virmos, provavelmente ele viria.
B.S: E sobre seus trabalhos solos, projetos?
Casual: Todos temos solos logo mais. Tenho solo, mas primeiro pro ano que vem tem o Opio lançando seu primeiro solo, que deve sair no dia 22 de fevereiro. Aí temos eu em março, não tenho uma data de lançamento ainda, procurem o álbum “Casual presents smash rockwell”. Você pode checar online: www.hieroglyphics.com. Tem umas coisas saindo, do Pep Love vai sair.
Pep: É, tenho um disco novo que vai sair no ano que vem. O título é “Reconstruction”. Eu tentei trazer minha mixtape, mas não consegui os cds a tempo. Se chama “The Foundation” (a base), que antecede a “reconstrução”.
B.S: E vai ter coisa das antigas, clássicos?
Pep: Vai ser misturado sim, com coisas clássicas e novos versos. É um cd pra curtição, tipo pra apresentar meu próximo projeto.
B.S: Tem projetos para vídeos?
Pep: O Opio tá com álbum novo, tem um single que tá saindo e vamos filmar enquanto estivermos por aqui.
Casual: Fizemos uns vídeos pro disco “Full Circle”, a música “Make your move”, que sou eu e o Pep com a Goapele e tem o Encore, um artista da nossa gravadora.
Pep: Seu disco se chama “layover” e o video-single se chama “real talk”.
Casual: É, o vídeo é foda! O lugar dos videos é www.blastro.com. Você pode ver todos os videos.
B.S: Bom, foi um prazer ter vocês aqui, aproveitem a estadia aqui no Brasil e pra terminar vocês podem escolher 4 músicas pra gente tocar aqui no programa.
Casual: Ok! Um som que vou falar aqui é um clássico do meu 1º disco, “Fear Itself”, se chama “Me-o-mi-o”.
Pep: Tenho uma música que talvez alguns conheçam, chamada “The fight club”.
Casual: A próxima vai ser o Souls of Mischief com “93 til infinity”
Pep: E temos mais um som, do Hieroglyphics, a música que as pessoas souberam da gente como grupo, chamada “You never knew”.
[+] Leia entrevista com Tajai (Souls of Mischief)
[+] Leia a entrevista feita após o show
Assista ao vídeo do show, filmado pelo Bocada Forte
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