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‘So Wassup?’ #45 | DJ Premier relembra sua parceria com Brandford Marsalis no Buckshot Le Fonque

‘So Wassup?’ #45 | DJ Premier relembra sua parceria com Brandford Marsalis no Buckshot Le Fonque

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Final de ano, correria, cabeça a milhão, várias fitas pra resolver, outras que vão ficar pra 2023 mesmo e ai vem o DJ Premier e consegue me desconectar de todas as preocupações. Esse é o poder da música feita com sentimento, a música que não segue padrões e é feita com o objetivo principal de agradar os ouvidos e alimentar a alma. Inclusive, em entrevista à Folha de São Paulo para  jornalista Adriana Ferreira da Silva, em 2007, quanto veio se apresentar pela primeira vez no Brasil, o próprio Preemo falou sobre isso:

“FOLHA – Como sabe que uma música será um hit?
PREMIER –
Meu foco não é esse. Hoje, todas as músicas são feitas para as pessoas dançarem nos clubes. Nunca penso se a faixa fará as pessoas dançarem. Quero fazer uma faixa agradável de se ouvir. Se for agradável e virar hit, ótimo. Mas o melhor é que seja uma boa canção.”

Premier é sem dúvida nenhuma o artista que eu mais tenho discos, nessa mesma época da entrevista, em 2007, ele fez uma sessão de autógrafos no centro de SP e levei uma pilha de discos pra ele autografar. Não tinha fila, tava vazio, ele tava tipo cliente na loja olhando os discos nos casulos, cheguei e falei pra ele que era bastante disco, na humildade ele respondeu – “não tem problema, tô aqui pra isso”. Nessa pilha estavam dois singles do Buckshot Le Fonque, o projeto dele com o saxofonista Brandoford Marsalis.

No episódio #45 da série ‘So Wassup’se não conhece, já escrevi sobre aqui – ele fala sobre a música “Breakfast @ Denny’s” (Café da manhã no Denny’s). Em todas as edições ele é muito detalhista sobre tudo que envolveu a construção da música, nesse caso ele falou bastante sobre Brandford Marsalis, a origem da parceria e amizade entre os dois e como sempre ele explica sobre as máquinas e métodos de gravação utilizados. Essa música faz parte do primeiro álbum do Buckshot Le Fonque, assim como a maioria das faixas é um som instrumental que faz lindamente a fusão entre Jazz e Rap.

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Até pouco tempo atrás, aliás isso acontece de tempos em tempos, vi nas redes um debate atrasado e totalmente desnecessário sobre beatmaker ser ou não músico, o mesmo acontece com DJs. Digo que é atrasado, tanto em relação a beatmakers quanto DJs, porque a Cultura Hip Hop vem provando o contrário na prática desde o seu surgimento. Pra não ir tão longe vou ficar apenas no músicos em questão aqui, o primeiro álbum dessa parceria foi lançado em 1994, faz as contas ai pra ver o tamanho do atraso em relação a esse assunto e se tem alguma dúvida sobre o assunto ouça os dois álbuns.

Essa música tem uma outra camada que eu considero de uma relevância histórica e que eu só fui entender depois de muito tempo com mais acesso às informações. É sempre importante contextualizar que eu ouvi e assisti o vídeo dessa música pela primeira vez na época que foi lançada, esse vídeo sempre passava no Yo! MTV Raps. Na década de 90 eu não tinha acesso às revistas gringas ou qualquer outra informação detalhada sobre os Raps gringos, mas era nítido no vídeo que essa faixa era de protesto e fazia uma critica a estabelecimentos racistas. Depois, com mais informação e também com acesso ao álbum completo, a ficha caiu e fui atrás de saber porque eles foram tomar esse café no tal Denny’s.

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Pois então, Denny’s é uma rede de restaurantes que surgiu nos anos 50 nos Estados Unidos e hoje está espalhada por vários países. A rede já mudou de nome algumas vezes e na época que eles fizeram a música era Denny’s Coffee Shop, mas servia também almoço e janta, pois funcionava 24 horas (tipo o Estadão aqui em SP/SP). Eles lançaram esse som para protestar contra os diversos casos de racismo em várias unidades da rede, a maioria dos casos contra negros e também houveram casos envolvendo asiáticos. A rede sofreu vários processos e em um acordo, depois de uma ação coletiva, teve que desembolsar 54 milhões de dólares. Investiram uma grana pesada pra limpar a imagem e conseguiram, ganharam até prêmios, o capital como sempre dá seu jeito $$$. Mais recentemente, na última década, aconteceram casos de discriminação envolvendo gays, lésbicas, pessoas trans e indígenas.

Ouça a faixa com vocal

Viram quantas camadas em uma música instrumental? Sem esquecer que tem uma versão da música com letra, rimada pelo MC que fazia parte do Buckshot Le Fonque – eles tinham MCs, DJs, cantores, cantoras e outros músicos. O MC é o Uptown (50 The Unknown Soldier), mano do Brooklyn que lançou um trampo solo pela Tommy Boy. O single traz três versôes (álbum, radio edit e Showbiz remix) e ainda a faixa “Blackwidow (Radio Rage)” com participação da Lady of Rage – essa versão não está no álbum. Escrevi tanto e nem falei da capa do single, a foto traz um café da manhã tradicional estadunidense fossilizado – café, bacon e dois ovos fritos. Enquanto escrevia e resgatava algumas informações pra escrever essa parada, botei pra rodar os dois primeiros volumes do Jazzmatazz, clássicos idealizados pelo gênio Guru (ouça o Volume I e o Volume II).

[+] Ouça o álbum completo do Buckshot Le Fonque
[+] Leia mais sobre os casos de racismo no Denny’s

Assista ao episódio #45 na playlist completa

Editor de conteúdo do Bocada Forte desde 2000, envolvido com a Cultura Hip-Hop desde o início dos anos 90. Sempre nas trincheiras, da quebrada pro mundo!