#RevistaBF | A África dentro de Nego Freeza
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“Há sensualidade no dançar. Isso é poético irmão, os povos africanos dançam, não há dança sem música, nem música sem dança. Vejo poesia nos corpos que se movimentam. É necessário celebrar”, diz Nego Freeza, MC da banda OQuadro que trabalha atualmente em sou projeto solo.
O artista lançou recentemente o single “Mutimba”, uma parceria com o produtor musical K’Boko que registra o olhar negro em meio aos lutos vividos e conquistas celebradas num mundo cada vez mais desigual.
Vivendo em Recife (PE), Nego Freeza comenta sua nova fase. “Sou uma figura inquieta, estou sempre buscando novas sonoridades. Pesquiso o que está acontecendo principalmente no continente africano. A música africana está no mainstream da cena mundial. É um cenário pop da música africana que dialoga com o Rap, isso me instiga muito.”
Foi Samuel, vocalista da banda Faces do Subúrbio, que apresentou K’Boko, o responsável pela sonoridade contemporânea do afrobeats que está no corpo rítmico de “Mutimba”.
Segundo Freeza, K’Boko é de Recife (PE), mas mora na Alemanha há quase vinte anos. O produtor trabalha com música e tem ligações com refugiados vindos do continente africano. O resultado deste contato com a comunidade africana representa a mescla de questões sociais e raciais, além de uma vasta troca de experiências musicais.
“Quando K’Boko me mostrou o instrumental de “Mutimba”, decidi escrever algo. Venho do Rap underground dos anos 1990, mas essa musicalidade que me leva pra outros lugares, pra dialogar com outros gêneros musicais, tem me chamado de forma natural. É algo que darei continuidade”, afirma Nego Freeza.
O MC pretende ainda buscar novos elementos para aprofundar sua pesquisa na construção de seu álbum solo. “Quero levar esse universo para o Rap. Também quero levar meu universo para dentro dessa proposta”.
Em seu momento atual, Freeza desenvolve mais um caminho de ligação com a diáspora negra. O artista tem parceiros no exterior que conhecem imigrantes e refugiados, trocam experiências e fazem fusões sonoras contemporâneas.
Para o MC, “Mutimba” é essa busca que lhe toma o tempo, mas faz parte do que é ser negro no mundo, uma vivência e ancestralidade que só cabem em caminhadas de artistas negros.
Freeza acredita que toda música de origem africana é espiritual. “Ela [música] tem uma força e a gente precisa entender, respeitar e cuidar disso. Música também é tecnologia, talvez uma das maiores tecnologias que existem.
Reconheço a importância da música para os povos africanos e para os descendentes de África que vivem em diáspora. Para você ter ideia, Orixá não vem em terra se não houver música”, comenta o artista, que também faz ligações entre a ancestralidade e o reconhecimento da Cultura Hip Hop no mundo.
Atento ao que sempre rola na indústria da música, Freeza diz que o racismo é um projeto político de supremacia branca e também está presente no mercado.
Para o artista, existe a negação da música negra como uma entidade ancestral para transformá-la em mero produto e diluí-la. “Olho para a indústria e percebo essa movimentação em relação à musicalidade preta”, conclui.
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