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Memória BF | O agosto é mais negro

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IMG2-78 Memória BF | O agosto é mais negro

O Agosto Negro (Black August) é um mês de resistência, reflexão e educação sobre a luta pela liberação negra e uma comemoração de figuras chave nessa luta. Também é um mês de disciplina, jejum, exercício físico e renovação pessoal para poder levar adiante a luta.

Por Carolina Saldaña (Amigos de Mumia / México)

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George Jackson

A tradição do Agosto Negro começou na Califórnia, em 1979, para honrar os revolucionários que tombaram na luta: George Jackson, Jonathan Jackson, James McClain, William Christmas e Khatari Gaulden. Quem são eles?

George Jackson se fez revolucionário na prisão depois de ser encarcerado em 1960, quando tinha 18 anos, por roubar US$ 70 de um posto de gasolina. Em 1969, alguns dias depois de três de seus companheiros e mentores – W.L. Nolen, Sweet Jugs Miller e Cleve Edwards – terem sido assassinados por um guarda na prisão de Soledad, um guarda branco foi lançado de um corredor alto até o pátio central. George Jackson, Fleeta Drumgo e John Clutchette foram acusados pela sua morte e ficaram conhecidos como os “Soledad Brothers”.

George Jackson seguiu organizando os presos para que resistissem às más condições de encarceramento e publicou dois importantes livros: (Irmão de Soledad – solidão) e Blood in My Eye (Sangue no Meu Olho). Ele escreve: “Tentamos transformar a mentalidade negra criminosa em uma mentalidade negra revolucionária. Como resultado, cada um de nós foi objeto de anos de impiedosa violência reacionária do Estado. Nosso índice de mortalidade é o que você poderia esperar em uma história de Dachau” [N.T.: conhecido campo de concentração nazista da 2ª Guerra]. Cabe citar que até a presente data seus livros estão proibidos em todas as prisões dos Estados Unidos. Uma estrofe na canção de Bob Dylan, “George Jackson”, interpretada magistralmente pelo grupo de reggae Steel Pulse em seu disco African Holocaust, reflete um tema principal nos escritos do revolucionário: “Às vezes vejo o mundo inteiro como uma enorme prisão. Alguns somos presos, alguns somos guardas”.

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Incidente em Marín, na Califórnia

Em 7 de agosto de 1970, seu irmão mais novo Jonathan, de 17 anos, entrou em um tribunal do condado de Marín, na Califórnia, distribuiu armas aos presos James McClain, William Chistmas e Ruchell Magee, que estavam em uma audiência e, juntos, tomaram o juiz, o promotor e outras três pessoas como reféns, com o objetivo de tomar uma estação de rádio para denunciar as condições brutais nas prisões da Califórnia e fazer uma troca de reféns pelos Soledad Brothers. Entretanto, todos foram assassinados, menos Ruchell Magee, que segue como preso político até a presente data.

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Os Soledad Brothers. Desenho por Kiilu Nyasha

Um ano depois, em 21 de agosto de 1971, George Jackson foi assassinado pelos guardas durante uma rebelião na prisão de San Quintín. Três guardas e dois presos que funcionavam como guardas também morreram, e as autoridades culparam seis presos e latinos por sua morte. Eles ficaram conhecidos como “Os 6 de San Quintín”. Dos seis, o que não saiu da prisão por todos esses anos é Hugo ‘Yogui’ Pinnell, que passou os últimos 20 anos em isolamento total no centro de tortura de Pelican Bay. Mais de 2 mil pessoas assistiram ao funeral de George Jackson, incluindo sua família, amigos e militantes dos Panteras Negras como seguranças. Seu assassinato detonou a rebelião que já estava maturando na prisão de Ática, estado de Nova York, em 9 de setembro de 1971.

George Jackson havia escrito em Soledad Brother: “Não quero morrer deixando como monumento apenas umas tristes canções e um montinho de terra. Quero deixar um mundo livre do lixo, poluição, racismo, estados nacionais, guerras e exércitos de estados nacionais, ostentação, intolerância, visão estreita, mil tipos de mentira e a economia usurária e licenciosa”. Depois de sua morte, Khatari Gaulden seguiu seus passos no movimento revolucionário nas prisões. Foi assassinado em San Quintín em 1978.

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Tradução para o português: Spensy Pimentel (CC)
Colaborou: Noise D

*Matéria originalmente publicada no dia 9 de agosto de 2011.