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Memória BF | ‘By All Means Necessary’ – O disco que consagrou KRS-One como ‘Professor’

Memória BF | ‘By All Means Necessary’ – O disco que consagrou KRS-One como ‘Professor’

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IMG5-9-300x300 Memória BF | 'By All Means Necessary' - O disco que consagrou KRS-One como 'Professor'
A capa do álbum ‘By All Means Necessary’

‘By All Means Necessary’ é o segundo disco de um dos grupos mais importantes do Rap, mais importante nos EUA do que em qualquer outro lugar do mundo, o Boogie Down Productions (BDP). Geralmente falamos de grupos que foram importantes no mundo todo, o BDP também teve a sua influência diretamente em outros países, mas a sua maior importância foi no seu próprio país.

O grupo ou BDP Posse foi formado na metade dos anos 80 no Bronx, originalmente formado por KRS-One, D-Nice e DJ Scott La Rock, teve outros integrantes que eventualmente fizeram parte, mas essa é a formação clássica e mais reconhecida.

Eles tem uma história muito particular dentro da Cultura Hip-Hop, começou como um grupo que hoje seria chamado de “gangsta Rap” quando esse termo sequer existia. O primeiro disco Criminal Minded’ concentra suas letras na realidade violenta do lado sul do Bronx, o crime, as drogas, prostituição, etc. Mas o disco ficou marcado pela briga com a Juice Crew do Queens (Marley Marl, MC Shan e companhia), a música “The brigde is over” é considerada uma das primeiras diss, beef, treta entre rappers. Um mal entendido sobre a origem do Hip-Hop deixou a rapaziada do Bronx bem brava e ai eles lançaram essa faixa no disco e também o clássico “South Bronx”.

Assista ao vídeo de KRS improvisando em “I’m still #1”

Esse primeiro disco foi lançado em março de 1987, cinco meses depois do lançamento, em agosto, Scott La Rock foi assassinado. Nesse momento o ditado “há males que vem para o bem” fez todo sentido, o BDP liderado por KRS-One mudou totalmente o seu discurso e DJ DOC substituiu La Rock. Eles não foram os primeiros a fazer letras conscientes, politizadas, mas o fato de terem mudado radicalmente, somado a inteligência e o talento nato do agora “Teacha” KRS fez com que tivessem grande destaque como representantes do Rap com esse conteúdo, ao lado do Public Enemy.

Em 2004 KRS fez um remix da música “Illegal business”, assista ao vídeo

Até aqui já vimos que eles foram pioneiros nas tretas com outros grupos, pioneiros no estilo gangsta, mas eles também foram os primeiros a misturar o ragga e o Rap. Esse segundo disco foi lançado em 31 de maio de 1988 e o título faz referência a famosa frase do líder negro Malcolm X “por qualquer que seja o meio necessário”, que no disco ficou “por todos os meios necessários” – em um discurso em 1960 Frantz Fanon também já havia usado essa expressão.

A foto da capa também faz referência a uma das fotos mais famosas de Malcolm em que ele está na janela observando a rua com um fuzil na mão, que KRS acabou trocando por uma metralhadora. Digo apenas KRS, porque a partir daqui é preciso se referir ao grupo como sendo apenas “ele”, pois foi o que aconteceu até que se desligasse de vez do BDP e ficasse apenas como conhecemos hoje. Não que os outros integrantes tenham saído, mas ele era o linha de frente, responsável pelas letras e toda ideologia do grupo.

Apesar de ter uma arma na capa, o disco ficou marcado pela faixa “Stop the violence”, são inúmeros os grupos que já fizeram rimas inspiradas no refrão “One two three, the crew is called BDP, and if you want to go to the tip top, stop the violence in Hip Hop, Y-O”, vide Black Star e Fugees. Em “Illegal business” ele já tratava de um assunto que atualmente tem sido muito falado, as drogas sendo usadas como forma de encarceramento e que negócios ilegais controlam a América.

Assista ao vídeo de “Stop the violence”

A primeira música do álbum é “My philosophy”, outro grande clássico, onde ele fala muito dele mesmo, a importância do MC para a preservação da Cultura Hip Hop, cita seu parceiro Scot La Rock, os outros integrantes da Posse e também o seu irmão de sangue Kenny Parker, que também fez parte do grupo, mas quero destacar o fato dele citar na letra ser vegetariano. Não por nada, mas isso nos dias de hoje tem sido comum no Rap, e há 30 anos atrás o cara já estava citando isso, rimando assim “…um vegetariano, sem cabra ou presunto ou frango ou peru ou hambúrguer, porque para mim isso é suicídio, auto-assassinato”. KRS sempre esteve a frente!

Assista ao vídeo de “My philosophy”

“I’m still #1” é outra que já foi regravada pelo próprio KRS e também pelo Cypress Hill na coletânea de regravações ‘In tha Beginning…There Was Rap’, é aquela famosa música onde ele cita diversos outros nomes do Rap que ele respeita e admira, além é claro de exaltar as suas qualidades. Falar sobre o “Teacha KRS” estar sempre a frente é uma constante, porque o cara é um fenômeno. Em “Jimmy” ele trata da AIDS, DSTs e a importância da prevenção, o título da faixa é uma metáfora para pênis, como se fosse o bráulio ou o pimpolho. Em toda história do Rap mundial, quantos já demonstraram essa preocupação? Pelo que sei esse Rap foi o primeiro voltado exclusivamente para esse assunto.

O disco termina com a faixa “Necessary”, que é um discurso, não é música, é um texto muito consciente, explicativo, uma resposta contra a visão distorcida e hipócrita que a mídia e a sociedade tentava passar da Cultura Hip-Hop no final dos anos 80. Uma parte do texto diz:

“É tudo de acordo com o seu significado de violência e como ou de que maneira você usa
Oh não, não é violento mostrar em filmes a destruição do corpo humano
Mas sim, de fato é muito violento se proteger em uma festa
E, oh não, não é violento quando sob a árvore de natal há algo que parece uma arma (arma de brinquedo)
Mas, sim, é claro que é violento ter um álbum como o do KRS One
Por todos os meios necessários, é hora de acabar com a hipocrisia
O que eu chamo de violência, eu não posso fazer, mas seu tipo de violência está me impedindo
Por todos os meios necessários, o público de rap deve crescer

O mesmo tipo de luta que fazemos, eles fazem, exceto que não temos nada para explodir
Não importa se você ganha ou perde, é apenas o quão bom você joga o jogo”

Todos nós que temos a Cultura Hip-Hop, e não apenas a música Rap, como estilo de vida, devemos reverência a caras como KRS-One. Para mim é como se ele fosse a personalização do que é o Hip-Hop! Os seus primeiros trabalhos com o BDP e também os da carreira solo, pautaram o que foi o Rap do final dos anos 80 e muito do que veio a ser o Gangsta Rap e a Golden Era. Termino com a frase mais famosa dele “O Rap é algo que você faz, o Hip-Hop é algo que você vive”.

Ouça o disco:

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Editor de conteúdo do Bocada Forte desde 2000, envolvido com a Cultura Hip-Hop desde o início dos anos 90. Sempre nas trincheiras, da quebrada pro mundo!