Live Oganpazan | ‘Seria massa debater a tal da cultura do cancelamento’, diz Jeff Ferreira
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Jeff Ferreira, escritor e editor do site Submundo do Som, iniciou uma campanha de financiamento coletivo para a publicação do livro “Assim Que É – A História do RZO”. Ferreira é o primeiro convidado da série de lives no Instagram do site Oganpazan (saiba mais aqui), onde serão discutidos temas relacionados ao jornalismo musical e a produção dos sites da cultura alternativa. O Bocada Forte trocou uma ideia com o escritor para saber quais são suas expectativas e o que acha importante ser discutido nas lives.
Bocada Forte: Por que discutir o papel do jornalismo musical é fundamental?
Jeff Ferreira: Esse jornalismo de quebrada e underground vai além de simplesmente postar notas sobre os lançamentos da semana, ele tem uma responsabilidade ímpar de resgate da memória, preservação da história e- para o bem ou para o mau- ditar tendências, a partir do momento que se chancela algo, uma opinião bem embasada pode influenciar.
Então diante de todas essas coisas é importante que se discuta o papel dessas pessoas que trabalham com o dito “jornalismo musical”, mesmo que não sejam pessoas formadas em universidades no tema, mas são formados pelos anos de labuta e pela dedicação que empenham, não deixam de ser comunicadores. E como estamos fazendo essa comunicação? É em prol de quem? A quebrada ganha com isso?
BF: Quais respostas e questões você espera que sejam levantadas nestas lives?
Jeff Ferreira: Seria massa debater as boas práticas desse jornalismo marginal, assim como uma questão que sempre me preocupou, o tal do cancelamento.
Longe de querer passar pano para atitudes escrotas, mas fica uma dúvida no ar: o cara que errou nunca mais terá perdão? É um consenso?
Sei que tem muito a ver com o grau da fita errada, mas são temas importantes para construir uma comunicação na mesma linha. Além disso é legal abordar a particularidade de cada veículo, os sites não são rivais, são aliados e se complementam, cada um tem uma linha editorial. Em resumo, é importante o debate sobre as boas práticas do jornalismo musical.
BF: Acha que os sites alternativos têm um papel que vai além de contar e registrar histórias da cena? Acredita que a mídia independente também molda a cena?
Jeff Ferreira: Sim, sem dúvidas, um exemplo é a nova cena do rap, com o trap, grime e drill. Esses jovens encontraram espaço em muitos veículos que lhes abriram as portas, e ter matérias e entrevistas em sites meio que valida essa caminhada deles, se tivéssemos fechado as portas, creio que essa cena não estava tão forte, e não falo somente do Submundo do Som, mas sites de enorme repercussão e força no meio musical.
Do mesmo modo que quando se começa uma corrente entre veículos em prol de coisas antigas, no âmbito do resgate, vemos uma movimentação nas redes das pessoas procurando mais por isso. Então as mídias ditam sim uma tendência, obviamente que não é só isso que molda a cena, mas em época de pandemia, sem shows, acredito que as mídias têm potencializado esse poder. Se os sites se juntarem e promoverem juntos um artista, tenho certeza de que os números dele serão bem melhores, a visão é essa: mídias juntas podem construir e destruir reputações!
BF: Por que escolheu fazer a biografia do RZO?
Jeff Ferreira: Cara, RZO dispensa apresentação. Um dos maiores grupos do Brasil, são gigantes. Ao lado do Racionais, o RZO é a maior escola do nosso rap. Veja quem andou por lá: Negra Li, DBS, Negro Rico, Sabotage…A discografia deles então nem se fala, foram dois discos clássicos que funcionam como uma cartilha do nosso rap, mas um álbum mais moderno que não deve nada as produções atuais, sem falar em LP esquecido no começo dos anos 90 que já era avançado pra época em termos técnica.
E o RZO é isso, a técnica que difere os caras, tanto pelos DJs espetaculares que o grupo teve, aos menos quatro monstros, e as distorções de vozes, flow, métrica, além da poesia das letras. RZO é foda.
Escrever sobre eles era uma missão, registrar a história, o legado e a caminhada. É mais que isso, é uma homenagem para o grupo, para os fãs do grupo, fãs do rap. O trabalho foi feito com humildade e carinho e dedicado à história sensacional do Helião, Sandrão, DJ Cia e todos que por lá passaram.
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