X fala sobre o seu segundo disco solo, ‘Curto e Grosso’
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É sempre um grande prazer, uma imensa satisfação, ter contato com pessoas que contribuíram de alguma forma para o crescimento da Cultura Hip-Hop em nossa país, seja um(a) DJ, Dançarino(a), Grafiteiro(a), um(a) MC, organizador de evento… Enfim, qualquer um que tenha contribuído para o pouco que temos atualmente. O site Bocada-Forte sempre prezou pelo respeito a essas pessoas, estejam elas em atividade ou não.
Pois se o Hip-Hop segue um caminho, ele foi trilhado por outros, que tornaram as coisas menos difíceis. X (Éks), fundador do grupo de Rap Câmbio Negro e um dos fundadores da D.F Zulu Breakers, é um desses “Guerreiros do Hip-Hop”. Sei que para muitos a importância dele e de outros não é reconhecida, não faz sentido, mas para isso servem os meios de comunicação, informar.
A 2ª vez que fui a uma loja comprar discos de Rap, o 1º álbum do Câmbio Negro estava entre eles. Foram dois, o outro era o 1º do Comando D.M.C (‘Vamos dar a Volta por Cima’). O estilo era nervoso, Rap pesado, de protesto, mas com músicas para dançar e até uma romântica. Samples de rock, muitas guitarras, mas também funk brasileiro, o original. O sucesso do disco era a música “Sub-raça”, que eu coloco entre os 10 clássicos mais importantes do Rap brasileiro. Claro que hoje, com toda a inovação tecnológica e o acesso a equipamentos, é fácil dizer que o disco ou essa música não eram grandes coisas. Difícil é reconhecer que ela influenciou e foi trilha sonora de toda uma geração que começava a conhecer o que era a música Rap.
Perceberam que não consegui ser “curto e grosso” como o “negão careca da Ceilândia”, e daí? O que importa é passar pra frente a história. Na entrevista a seguir X fala, entre outras coisas, sobre seu 2º disco solo, que foi todo produzido pelo DJ Raffa e tem as participações dos DJs Tydoz e Marcelinho, fala também sobre o Hip-Hop no Distrito Federal, sua experiência como candidato a Deputado e os grupos novos.
Bocada-Forte: Quando você havia lançado seu primeiro disco solo pela Trama, teve gente que achou que era seu último trabalho, você também pensava isso na época?
X: Quando saiu o solo ‘Um Homem Só’ eu não pensei que seria o último, mas algumas pessoas sim. A minha intenção com o CD era explorar outros aspectos do Hip-Hop, como a participação em debates, palestras, projetos sociais e incentivar através dessas outras situações a valorização da palavra escrita e da palavra falada e também a pesquisa musical, aumentando assim o conhecimento de quem é simpatizante do Hip-Hop, mas nem todos entenderam.
B.F: Como foi fazer esse disco? Quando começou, quem produziu, participações, etc?
X: Fazer esse disco foi um prazer e muita batalha, como todos os outros. O início do trabalho foi com o trabalho de pesquisa musical, composição das letras e estudo de várias possibilidades de samples, no que fui muito ajudado pelo DJ Tydoz (TDZ). As participações foram de várias pessoas que fazem parte de minha trajetória como o Bell e o Daniel, ambos do Câmbio Negro, DJ Ariel, DJ Marcelinho, DJ TDZ e o Tadeu, que era de uma banda das antigas de rock aqui do DF chamada Beta Pictoris. No primeiro disco já havia sampleado um som deles, na faixa “X Sem Ana”.
B.F: Em suas letras e atitudes você sempre foi “Curto e Grosso”, porque só agora usou esse termo e fale sobre as fotos?
X: A ideia de usar o termo curto e grosso já vinha de algum tempo, já que em alguns momentos eu sou meio assim e também por que em alguns momentos nós rappers filosofamos muito, sendo que poderíamos ir direto ao assunto. As fotos foram tiradas pelo Beavis e pelo Daniel, que sempre que dava estavam no estúdio e são uns caras que sempre me deram uma força. O Beavis já deu uma força como roadie do Câmbio um tempo atrás. Na verdade foi uma camaradagem dos caras e eu queria mostrar um pouco do que é o ambiente de estúdio.
B.F: Tem duas regravações no disco, uma delas um clássico do nosso Rap. Quais as mudanças que você destaca em relação a discriminação racial da época em que compôs “Sub-raça” até hoje? A mesma pergunta vale, em relação as mudanças na Ceilândia, da época em que compôs “Ceilândia, Revanche do Gueto”, até hoje?
X: Resolvi regravar “Sub-Raça” e “Ceilândia, Revanche do Gueto” porque várias pessoas não conheciam os sons. Infelizmente alguns DJs e alguns apresentadores de programas de rádio tratam a música como algo que tenha prazo e validade. Regravei porque a situação do racismo ainda existe e as coisas na Ceilândia ainda continuam precárias. Um exemplo do que digo é que o curta metragem “Rap, o Canto da Ceilândia”, participou do festival de cinema de Brasília ganhando dois prêmios e não há um único cinema na Ceilândia pra que seus habitantes possam assistir ao documentário.
B.F: Na última vez que fizemos uma entrevista com você, foi em 2002, era ano de eleição e você era candidato a Deputado Distrital. Como foi essa experiência, quanto votos você teve?
X: Foi algo bastante enriquecedor participar da eleição, mesmo não tendo tempo em rádio, tv, palanque, trio elétrico ou “showmício”, obtive 531 votos. Rodei mais de 3.500 quilômetros no D.F no período de campanha e não me arrependo, pois aprendi muito. Algo que foi frustrante, foi descobrir que infelizmente sem dinheiro ou sem se vender, é muito difícil ser eleito, mas ao menos participei e terminei a campanha sem dever um único centavo e nem vender nada de minha casa. Em parte, foi uma vitória.
B.F: Você assistiu a série JK, o que achou, já que a criação de Brasília foi uma das coisas mais importantes e muito citada na mini-série?
X: Não assisti a série, pois acordo bem cedo e no horário que era mostrada já estava capotado há muito tempo. Porém acho que a construção de Brasília, naquele momento, foi importante para afirmar perante o mundo o potencial que nosso país tem e também, estrategicamente falando, estar no centro do país é uma forma de defesa. Infelizmente maus políticos eleitos em outros estados vem pra cá fazer cagadas e a má impressão fica pra cidade, mas é o preço que se paga. Espero um dia mudarmos isso.
B.F: Você tem acompanhado o surgimento dos novos grupos de Rap, o que tem achado? Você percebe algum grupo com influências suas ou do Câmbio Negro?
X: Não tenho acompanhado o surgimento de novos grupos como gostaria. De vez em quando ouço algo que me agrada, mas no geral não é meu estilo.
B.F: Eu percebo em muitos grupos novos, uma falta de respeito e um desinteresse sobre a história do Rap brasileiro. Tem cara que faz Rap no Brasil e nem conhece as principais músicas do Câmbio Negro ou desconhece a importância do grupo. Você também percebe isso por parte de alguns e o que você acha que causa isso?
X: Acho realmente que muitos e não todos grupos novos não mostram muito interesse em saber as origens do Hip-Hop Nacional e algumas vezes, até uma certa falta de respeito, porém não posso culpá-los, pois os meios de comunicação, a facilidade tecnológica que hoje há pra se produzir um disco ou tocar em uma rádio são atrativos poderosos e nem sempre o indivíduo dá o valor devido, porque conseguiu as coisas com muita facilidade. Em minha época, e de muitos outros, tínhamos que participar de concursos, fazer vários shows de abertura sem nada receber, horas e horas de estrada e o disco em baixo do braço pra entregar para alguns DJs ou em algumas rádios. Comigo foi assim e com muitos outros da velha escola. Cito uma dessas rádios, a Metrô FM, no programa do Armando Martins, quase 15 horas de ônibus para entregar o vinil e fazer uma entrevista, mas valeu a pena.
B.F: E a dança, continua sendo uma grande paixão? Você tem acompanhado as conquistas da D.F Zulu?
X: A dança continua sendo uma paixão, mesmo com certa distância tento acompanhar as conquistas da Zulu. Infelizmente acho que B.Boys e B.Girls não são tratados com o respeito devido. Quase não tocam músicas pra eles (as) e se esquecem que tudo começou, a febre mundial, as primeiras aparições que prendiam milhares de olhares eram dos dançarinos, isso sem falar dos (as) DJs e Grafiteiros (as), que são os outros elos fortes da corrente chamada Hip-Hop.
B.F: Câmbio Negro, GOG e Baseado Nas Ruas foram grupos que influenciaram outros grupos em diversas partes do país, isso é muito difícil estando fora do eixo Rio-São Paulo, mas mesmo assim vocês conseguiram fazer do DF a 2ª maior força do Hip-Hop brasileiro nos anos 90. Qual a análise que você faz do Hip-Hop atual no DF?
X: Falar do Hip-Hop no D.F já foi mais prazeroso. Ainda restam alguns núcleos de resistência. Ainda há vida inteligente no Hip-Hop do DF, mas o que vejo no Rap do Distrito Federal nos últimos tempos é indescritível… Um dos motivos de não fazer mais shows é não compactuar com o que está ai, se é isso que querem ver e ouvir, passem bem. O respeito é fundamental e por isso não cito nomes. Continuo fazendo meu som como acredito que tem que ser feito, com amor, seriedade, compromisso, conteúdo e com a minha cara. Não vou virar clone de gringo pra fazer show ou vender CD.
B.F: Espaço aberto.
X: Gostaria de agradecer a oportunidade de poder mostrar mais um trabalho, de expor algumas ideias. Espero que gostem do disco. No D.F o disco já está em várias lojas, como as lojas Só Balanço, Katraca, Pró Vinil, 2001 e outras. Em São Paulo nas lojas da galeria 24 de Maio (Nº 62) e caso você seja de um lugar onde o disco não chegou peça ao lojista que encomende, pois só foram feitas mil cópias.
Contatos: x.cambio.negro@uol.com.br ou x.cambio.negro@bol.com.br
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