ACERVO BF | Hip Hop de Terreiro – Entrevista com a banda Sinhô Preto Velho
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Bocada-Forte: Quando começou o grupo, qual a formação e de onde vocês são?
Sinhô Preto Velho: A banda começou em 98 e a formação é: eu Pico Bantu (vocal), DJ
Renato Dias (vocal e cavaco), Carl Ferreira (percussão geral e berimbau elétrico), Marcos Tocha (percussão geral), Marcos Ogã (atabaque), Douglas Fávero (percussão geral) e Arnado Dario, (baixo e guitarra). Somos das zonas norte e leste de SP.
B.F: Qual a religião de vocês e por que Sinhô Preto Velho?
S.P.V: Não é porque a temática do trabalho é afro-tupi-religiosa /cultural que todos seguem, na realidade só eu (Pico) o Renato e o Marcos Ogã somos da umbanda.
O nome Sinhô Preto Velho vem de Sinhô (José Barbosa da Silva) um sambista da década de 20 que levava suas composições a um terreiro para serem cruzadas, e o nome Preto Velho, vem em homenagem a uma das mais ilustres figuras da religião, o Preto Velho, o estereotipo de um negro, idoso e humilde, acima de tudo.
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B.F: O que significa o nome do disco, Kambono?
S.P.V: O nome KAMBONO, vem da língua kimbundo, originário da região de Angola/Congo do povo Bantu, na tradução literária significa amigo, mas nos terreiros de candomblé de Nação Angola, é a pessoa que toca os atabaques, e na umbanda é o ajudante geral do terreiro, aquele que acende os cachimbos dos pretos velhos.
B.F: Quem produziu o disco e em quanto tempo foi feito?
S.P.V:A produção do disco foi feita pela própria banda desde a gravação, mixagem e até a elaboração e criação do encarte, isto tudo em uns 8 meses.
B.F: Os instrumentais são todos tocados ou samplearam alguma coisa?
S.P.V: As faixas “Oké Caboclo”, “Lundu”, “Ponto Riscado”, “Maria Detenção”, “Exu”, “Atabaqueiro de Ogum”, “Catimbo 1938” e “Lamento” foram utilizados samples e um Sequencer QY70 da Yamaha, para darmos aquela pegada do Rap, a qual temos grande influência, já nas demais 10 faixas do CD é pura percussão.
B.F: Fale um pouco sobre o clipe da música “Preto Velho”.
S.P.V: O clipe da música “Preto Velho”, foi filmado em uma gira (cerimônia) de umbanda no Pavilhão 9 do Carandiru, dirigido por Doca Corbette, contando com a participação de Élcio de Oxalá, e a mãe Fernanda, que dirigem as giras todas as quartas feiras no presídio, queríamos mostrar um pouco do trabalho religioso, que é feito lá, a outra parte foi filmado em Mairiporã, em algumas ruas de terra, afim de fazer o elo com a natureza que é a base de toda religiosidade afro-tupi-brasileira.
É interessante comentar o fato que o programa Metrópolis da TV Cultura fez todo o making-off do clipe que depois foi ao ar na mtv. Agora é aguardar o próximo clip: “Maria detenção”, que foi elaborado à partir de um trabalho de conclusão de faculdade, e fala da vida das mulheres dos detentos. Só queria agradecer em especial ao Sr. Valdemar e ao grupo Comunidade Carcerária que nos receberam no Carandiru, dando todo o apoio possível.
Assista ao vídeo
B.F: Já sofreram preconceito pela música que fazem?
S.P.V: O preconceito já é rotina, é normal em shows algumas pessoas fazerem o sinal da cruz e saírem fora, mas está ai a nossa treta, acabar um pouco com este preconceito
sem sentido, pois o Brasil não passa de um grande terreiro.
B.F: Que definição pode-se dar ao som de vocês?
S.P.V: Definimos como música brasileira, ai fica meio amplo, então chamamos de Hip Hop de terreiros, ai podem vir controvérsias, tá difícil…
B.F: Algumas músicas lembram muito Chico Science e Nação Zumbi. Quais são as suas influências?
S.P.V: Pode até fazer lembrar, talvez por falta de ter com quem comparar, mas é bem diferente, pois todos somos de São Paulo e é nítida a influência do Rap, do Funk, e do samba paulistano no trabalho. Quanto às influências, cada componente traz sua bagagem musical, do Rap aos pontos de terreiro, do hard core a bateria de escola de samba.
B.F: Porque regravar pontos de terreiro?
S.P.V: Os pontos de terreiros ou toadas entraram no CD com a participação de Élcio de Oxalá e o Sapopemba, a nossa intenção era dar um axé no trabalho e levar para quem não conhece um pouco de nossa cultura marginalizada, isto porque as cantigas tem a finalidade de saudar nossos ancestrais africanos e indígenas.
Ouça o primeiro álbum do grupo
B.F: O que vocês acham dos grupos de Rap evangélicos?
S.P.V: Acho de grande importância, pois todo trabalho voltado para a conscientização das pessoas é positivo, no entanto fico mal quando ofendem outras religiões comparando com coisas do demo, vale lembrar que os africanos tinham sua cultura, sua fé, lutaram e morreram por isso, sinal que o culto aos Orixás, Inkises e Voduns foi e será vital para o processo de resistência a intolerância racial no Brasil.
B.F: Vocês tem feito muitos shows?
S.P.V: Agora com o lançamento do ‘Kambono’ está começando a rolar vários eventos, é Exu abrir os caminhos que estamos na área.
B.F: Querem agradecer alguém?
S.P.V: Gostaria de agradecer ao nosso grande pai Oxalá e a todas as entidades que nos cercam, pela proteção e o axé que tem nos dado. E é claro a Élcio de Oxalá, Sapopemba, Nelza de Souza, Walter Antunes, pelo apoio técnico, moral e espiritual, e a rapaziada do Bocada pela oportunidade.
Mogba Olorum Baba
AXÉ
Pico Bantu
Ouça o álbum completo
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