MC Nil Rec é o nosso entrevistado na série Urbanos
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Dia 24 de maio, Rincon Sapiência (SP), Stefanie Ramos (SP), Nil Rec (MG) e Coyote Beatz (MG) se apresentam juntos na capital mineira, durante o lançamento do projeto Urbanos
Por: Lu Matsu
O projeto Urbanos tem em sua essência a mistura de gêneros e estilos que são propagados por artistas da cena da música independente. Tem como objetivo a divulgação de novos trabalhos, fortalecendo assim um intercâmbio cultural entre artistas e produtores de diversos estados e cidades do país, sendo realizado de forma colaborativa. A primeira edição do evento ocorre em Belo Horizonte/MG, dia 24 de maio, às 19h, na Emme Lounge – Rua Pernambuco, 773 – Savassi. Além dos shows de Rincon Sapiência (SP), Stefanie Ramos (SP), Nil Rec (MG), a programação conta ainda com a presença de Coyote Beatz na discotecagem. Outra atração é o bazar de Urban Wear com a presença das marcas Lolita Az Avessas e Priscapaes.
Idealizado por Alessandra Jacob – produtora de eventos paulistana – o projeto Urbanos em Belo Horizonte terá uma programação inteiramente voltada para o rap brasileiro. Em sua 1ª edição, Alessandra conta com a parceria de Luciana Matsu – produtora de eventos mineira, mais conhecida pelo projeto “Golden Era Hip Hop” – festa dedicada ao rap ‘old school’ e à vanguarda do gênero musical, executado desde 2013.
Para iniciar a série de entrevistas Urbanos, conversamos com o MC NIL REC. Confira:
Bocada Forte: Nil Rec você é um dos MCs da geração que deu o pontapé inicial nas batalhas de improvisos em Belo Horizonte. Você consegue fazer um paralelo entre esse momento inicial de contato com o hip hop e a cena estabelecida hoje?
Nil Rec: Temos os prós e contras nos dois momentos. Antigamente não tínhamos o profissionalismo e a estrutura que temos hoje em dia, mas em compensação tínhamos pessoas mais engajadas, fazendo as coisas acontecerem no tranco e com fome enorme de conhecimento. Hoje em dia não vejo tanto isso. Com esse “boom” no rap nos últimos anos, o crescimento de adeptos foi enorme, mas grande parte veio pelo hype, e vemos isso refletido em todos os segmentos do rap, inclusive nas batalhas de freestyle, que é a forma mais rápida de se fazer o nome no cenário. Muita gente sobe no palco sem nenhuma pesquisa, nenhum conhecimento, nenhum interesse para evoluir, não sabem o que é flow, métrica, tática… Acham que porque viram alguns vídeos de freestyle no Youtube já estão preparados. Tem muita gente com um talento natural pra coisa, mas sem conhecimento e dedicação é quase impossível lapidar isso.
Bocada Forte: Você gravou o disco “Convertendo o Pensamento em Áudio” produzido pelo Coyote Beatz. Conta pra gente como se deu essa parceria, o que vocês somaram de conhecimento e esforços para lançar o disco e quais os planos futuros?
Nil Rec: Conheci o Coyote através do Myspace em 2007. Lá trocamos algumas mensagens e marcamos de nos encontrar no Duelo de MCs, começamos a trocar ideia a partir dali. Desde os primeiros beats que ele me mostrou, já me identifiquei com o trabalho dele e queria que ele fizesse pelo menos umas quatro faixas do disco que eu ainda estava escrevendo, porque minha intenção inicial era fazer um disco com beats de vários produtores de BH. Mas com o passar do tempo fomos trabalhando juntos, cada vez mais, até chegar ao ponto que percebi que o disco já estava quase todo pronto com beats dele. Assim decidimos fazer essa parceria de vez, por isso o disco se chama “Nil Rec e Coyote Beatz“. Coyote é um cara que trabalha muito, sempre tem coisas novas, por isso o disco demorou a sair. Sempre queria usar um beat novo ou escrever uma letra nova pra um beat (risos). Futuramente, tenho algumas letras novas e provavelmente devo fazer um EP em parceria com o Coyote novamente, mas vai ser algo diferente de “Convertendo o Pensamento em Áudio”. Ainda esse ano vou soltar algumas músicas em parceria com outros MCs que já estão prontas, mas ainda não foram gravadas. Meu novo projeto ainda está sendo estudado e espero que de certo.
Bocada Forte: Nos últimos anos o hip hop se popularizou. Um grupo de pesquisadores ingleses, liderado pelo matemático alemão Matthias Mauch, divulgou o resultado do estudo “A Evolução da Música Popular: EUA 1960-2010“, que tira a coroa da cabeça de John Lennon e parceiros e a coloca na de representantes do hip hop como Busta Rhymes, Nas, Snoop Dogg e, para citar o mais atual, Kanye West, apontados pelos pesquisadores como os verdadeiros revolucionários da música nos últimos 50 anos. Foram eles, segundo o levantamento, que de fato lançaram tendências. Como você acha que aconteceria um estudo desse porte no Brasil? Quais as implicações trazidas pela popularização e quais os benefícios?
Nil Rec: Somos totalmente influenciados pela cultura norte americana, consequentemente, absorvemos muito deles, o hip hop é prova disso. Mas musicalmente, pra ser bem sincero, nunca senti essa influência toda na música brasileira. Sempre vivemos épocas em que a moda era o funk carioca, depois o axé, o sertanejo e o pagode e, assim, eles se revezam ao longo dos séculos (risos). Ultimamente é que começamos a ver isso na música brasileira, com artistas pop como Wanessa, Anitta, Naldo, e perceber a influência do rap nas batidas, nas roupas. Eu acho que os MCs já estão na hora de pararem de pensar apenas como rappers, mas também como artistas. Ainda temos a cabeça fechada pra isso, mas não tenho dúvidas, principalmente com essa abertura e exposição maior dos Racionais, que o rap brasileiro vai viver uma fase diferente nos próximos anos, só espero que a gente saiba diferenciar a ‘venda do produto’ de ‘venda ao produto’. Muita gente ganha dinheiro com música no Brasil, e tá na hora do rap ganhar também.
Bocada Forte: O que o hip hop te ensinou e o impacto que tem na sua vida?
Nil Rec: Comecei a me envolver com hip hop desde muito cedo, aos 11 anos através do graffiti. Depois fui b.boy até me aventurar com MC (risos). Não tenho duvidas que meu caráter e meus princípios foram totalmente moldados pelo hip hop. Falo de humildade, respeito, disciplina, dedicação e exemplos. Hoje em dia, 90% das pessoas que conheço se deve ao hip hop, e desses 90%, fiz amigos que vou levar pra vida inteira, isso não tem preço. Conheci outros estados, outras pessoas, tive muitas experiências, namoradas, várias histórias. Tudo ligado diretamente ou indiretamente ao hip hop. E como disse Krs One: “Rap é uma coisa que você faz, hip hop é uma coisa que você vive.”
Serviço:
Festa Urbanos
Data: 24/05/2015
Local: Emme Lounge (Rua Pernambuco, 773 – Savassi – Belo Horizonte/MG)
Ingressos antecipados
1º Lote – R$15,00 (esgotado)
2º Lote – R$20,00 (disponível na loja Real Vandal Graffiti – Av. Augusto de Lima, 233 – sobreloja 21 – Ed. Maletta – Centro)
Na hora – R$25,00
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