Kamau apresenta clipe ‘Tudo Uma Questão De…’ e fala de suas escolhas na atual cena rap
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Revisão e diagramação: Noise D
“Não quero apenas falar sobre o que já fiz, mas sim continuar fazendo enquanto houver fôlego e inspiração”, diz KAMAU em entrevista exclusiva ao Bocada Forte. O MC – que completa 20 anos de carreira – acaba de lançar o videoclipe “TUDO UMA QUESTÃO DE…”, segunda música do projeto intitulado “Avulso”. Numa conversa interna, Kamau escolhe rimar de maneira solta para falar de mudanças em meio ao cotidiano conturbado da poesia de concreto que sempre retratou. Num beat do produtor Grou, o MC chamou o baixista Júlio Mossil e o DJ Erick Jay. Nos teclados, Jhow Produz complementou o instrumental do som.
Abaixo, Kamau fala um pouco mais sobre o projeto “Avulso”, representatividade no rap e seus planos futuros.
Bocada Forte: A primeira música do projeto “Avulso”, a faixa “Contra”, fala um pouco da sua posição e apelo ao bom senso diante a realidade pessoal, artística e social. “Tudo Uma Questão De…” também segue essa temática?
Kamau: Não. Essa faixa é mais solta, mais leve. É mais uma vez uma conversa comigo mesmo em voz alta, dizendo coisas que eu preciso ouvir no momento. Muitas vezes as coisas parecem nubladas, mas podem ser vistas diferentes sob outra luz, outro prisma.
Bocada Forte: Com tantas mudanças estéticas e de temas na cena atual, neste novo som, parece que você reafirma suas escolhas. Fale um pouco sobre essa ideia de se “sentir um estranho no ninho no abrigo que construiu”. Esta sensação vai além do rap?
Kamau: O rap é grande parte da minha vida há um tempo. Então é fácil de perceber o quanto a vida reflete nas rimas e as rimas refletem na vida. As vezes construímos nosso lugar “seguro”, como uma zona de conforto e um dia percebemos algo de diferente. Talvez no lugar, talvez em nós. E isso sugere uma mudança. Talvez rearranjar os móveis. Talvez mudar o endereço. Ou uma mudança interna.
Eu ainda tenho objetivos e metas na música. Não quero apenas falar sobre o que já fiz, mas sim continuar fazendo enquanto houver fôlego e inspiração
Bocada Forte: Você está completando vinte anos de carreira. Acha que suas linhas atuais estão refletindo o seu olhar em retrospecto também? Seu aprendizado, as amizades que foram construídas e a resistência que representa?
Kamau: Eu sempre consulto o passado pra seguir em frente. Às vezes falo desse passado como referência pra quem chega agora também. Mas tomo muito cuidado pra não ser saudosista demais. Eu ainda tenho objetivos e metas na música. Não quero apenas falar sobre o que já fiz, mas sim continuar fazendo enquanto houver fôlego e inspiração. Mas me sinto grato por seguir firme e, de certa forma, relevante depois de 20 anos.
Bocada Forte: A ideia do projeto “Avulso” vai seguir em 2018? Quais são seus planos, teremos EP ou disco em breve?
Kamau: Meus planos desde 2012 são todos voltados pro “Mosaico”, que é o nome do meu próximo álbum… Tudo que fiz foi aprendizado pra chegar onde quero neste novo capítulo. O “Avulso” consiste em músicas que não se encaixam em algum trabalho específico, mas que quero colocar no mundo. Começou na “Contra”, segue com essa e tem mais uma ou duas no banco esperando pra saber quando entrarão em campo. Ano que vem celebrarei uma década de “Non Ducor Duco”, mas quero também colocar o “Mosaico” nesse mundo.
Assista ao videoclipe de “Tudo Uma Questão De…”:
Bocada Forte: Por que escolheu fazer um clipe da música “Tudo Uma Questão De…” ? Teve alguma pressão interna para fazer a correria deste lançamento?
Kamau: Não houve pressão interna. Na real, teve um incentivo do Marcelo, da marca 13, que me deu um alô pra fazermos uma colaboração numa camiseta e eu estava com essa música encaminhada. Aí ele deu a ideia de que seria legal ter um vídeo. Eu busquei as pessoas que achava certas para fazê-lo. Foi meio corrido, mas o resultado me agradou bastante, fugindo um pouco do “descritivo” e da edição de imagens soltas em lugares variados. Tento sempre manter a coerência do áudio com o visual e vice-versa. Eu sempre tenho vontade e várias ideias para fazer clipe das minhas músicas. Mas tudo depende de recursos e timing pra que isso aconteça. E, sendo “sozinho”, nem sempre os tenho a minha disposição.
Sempre agradeço aos que vieram antes por tudo que me ensinaram, e conto pros que de alguma forma se inspiram em mim pra saberem onde e como eu aprendi. Sem raízes não há frutos
Bocada Forte: Numa cena que está repleta de produções e lançamentos, conceitos como representatividade e raiz são repetidos por muitos (além do famoso “como já disse Sabotage”. Hoje, olhando para sua história, o que é representatividade pra você? Por que é preciso falar das raízes da cultura?
Kamau: Eu falo das raízes por instinto, como reverência aos meus professores nessa cultura. Sempre agradeço aos que vieram antes por tudo que me ensinaram, e conto pros que de alguma forma se inspiram em mim pra saberem onde e como eu aprendi. Sem raízes não há frutos. É um princípio básico da natureza. O artificial não tem esse instinto, esse conceito. Então será duplicado mas não nascerá naturalmente como o que tem raiz. É como a tradição que atravessa gerações. Mesmo com as mudanças externas e as adaptações e evoluções internas, a essência se mantém. É como diz Rashid ou Kendrick: “Tá no meu DNA”.
Ouça a faixa “Contra”, primeiro trampo do projeto “Avulso”:
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