Entrevista | MC Ralph – G.I.R.I.A.S Nacionais
ESPALHA --->
Em todas as matérias que faço, sempre bato na tecla do compromisso com a Cultura Hip-Hop, afinal do que se trata esse Portal? Não é apenas um site de Rap, é um Portal especializado na Cultura Hip-Hop, claro que ficamos devendo mais conteúdo sobre os outros elementos, mas isso não significa que eles sejam menos valorizados.
Da mesma forma que somos cobrados por dançarinos, Grafiteiros e DJs também cobramos que eles nos enviem material para que seja divulgado e na medida do possível isso acontece. Mas a questão aqui é o compromisso com a Cultura e por isso sempre procuramos colocar em destaque MCs, DJs, Dançarinos, Grafiteiros ou qualquer outro que tenha uma forte ligação com o Hip-Hop e demonstre isso no dia-a-dia.
Existem várias pessoas com esse compromisso, valorizando e trabalhando para que a Cultura Hip-Hop cresça como um todo e aos pouco procuramos valorizar e demonstrar para todo país os Guerreiros do Hip-Hop. Na região do Vale do Paraíba existe muita gente com essas características e é de lá que vem o nosso entrevistado, mais precisamente de Taubaté. MC Ralph, é um dos representantes do Hip-Hop na região, talvez o mais conhecido e um militante da Cultura Hip-Hop, 100% correria, dedicado e um grande MC. e não bastassem essas qualidades, ele ainda é colunista do Portal Bocada-Forte e tem um programa de rádio, o Poesia Ritmada, que era transmitido também pelo Bocada. Seu grupo é o Gírias Nacionais, que lançou há pouco um álbum e logo em seguida ele lançou um vinil com algumas músicas do seu disco solo (mix tape), com o título “No Fundo do Baú”. Seu disco tem 20 faixas, entre vinhetas, freestyles, músicas, uma performance do DJ Marc-T – que foi responsável pela maioria dos instrumentais – e ainda uma faixa cantada ao vivo no Programa Boomshot. As participações são de Max B.O, Aori (Inumanos), Tropa e o DJ Célio Lopes, que é outro grande representante do Hip-Hop na região do Vale do Paraíba.
No vinil saíram 4 músicas, as melhores do disco. A faixa título “No fundo do baú”, onde ele fala sobre o resgate e a pesquisa feita pra a conclusão do disco, já em “MC Menestrel” ele esbanja talento em uma letra usando apenas palavras com a letra “M”, como o G.O.G fez nas faixas “Brasil com P” e “Próxima Parte” e o próprio Ralph fez no disco do seu grupo, na música “3D: Dom de Deus”. As outras faixas são o reggae “Follow the Lion” e “Hip-Hop roots”. Vale lembrar que algumas vinhetas do álbum foram feitas em cima das músicas que foram sampleadas. Leia a entrevista abaixo e saiba mais sobre o disco e as idéias do MC.
Bocada-Forte: Você tem um grupo, o Gírias Nacionais, que inclusive lançou um disco pouco antes de você lançar a sua “mix tape”. O grupo ainda existe?
MC Ralph: Na real existe, até porque o “Gírias” é mais que um grupo, é uma parada que eu ajudei a formar e que marca meu começo no Rap. as no momento tô trabalhando minhas músicas solo, divulgando a mix tape, o vinil, fazendo os freestyle com outros DJs, interagindo com outros bagulhos, principalmente com o reggae e por ai vai. Tô sendo mais MC do que nunca.
B.F: Antes de falar sobre o disco, queria que você falasse sobre esse lance de “mix tape”, pois todos sabem que foram os DJs que introduziram esse tipo de gravação na Cultura Hip-Hop. Mesmo você sendo um MC, com todas as músicas feitas em estúdio, algumas com a participação de DJs outras não, você considera esse disco uma “mix tape”?
Ralph: Então, num é maneiro rotular as paradas, tipo: é assim ou é assado. Mas o fato é que esse meu cd num é um álbum, mas tem várias músicas novas, vários freestyles e tem todo o conceito de “no fundo do baú”, de resgatar as paradas antigas e tal. Mix tape mesmo seria se fosse tudo mixado e não é tudo mixado, mas tem os momentos, como nos improvisos em que os DJs viram as batidas em tempo real, mixando e eu vou emendando as rimas. Então tem uma cara também de mixtape por isso. As músicas podem não ser mixadas, mas tem uma relação forte entre elas, uma faixa chama a outra.
B.F: O que te levou a lançar um disco solo?
Ralph: Eu precisava mostrar mais de mim do que eu vinha mostrando, apresentar os meus sentimentos da maneira mais clara possível, sabendo que se eu errar só eu vou sofrer as conseqüências. E também pq eu tava fazendo vários shows em outras cidades em que eu estava indo sozinho, sem o resto do grupo, daí ficava muito no freestyle; a galera começou a perguntar pq eu não fazia umas músicas minhas e casou o necessário com o agradável. Quando comecei a fazer as músicas, comecei a sentir que tava no caminho certo, que esse era o momento de fazer o que to fazendo.
B.F: Fora o seu projeto com o Gírias e agora esse trabalho solo, você também tinha um programa de Rádio em sua cidade, que também era disponibilizado através do Bocada. Você ainda faz o programa?
Ralph: Opa, faço sim, o Poesia Ritmada continua toda terça das 17h às 18h. Mas agora é ao vivo (o que é bem mais maneiro), só que quando era gravado era mais fácil pra disponibilizar na net. Mas o programa continua pela 107,7 FM.
B.F: Agora sobre o disco, fale sobre todo o processo, até que o disco chegasse às lojas.
Ralph: Vichi! História longa hein.. Bom, resumindo: as rimas são minhas e os beats são do Marc-T (DJ brasileiro que mora no Japão), as faixas de freestyle quem tocou as batidas (beats gringos) foi o DJ Célio Lopes. Os samples eu escolhi algumas coisas, o Marc outras, sempre seguindo este tema de “no fundo do baú”, ou seja, sempre pensando em samplear coisas que de uma maneira ou de outra tem a ver com a gente e trazem uma sensação de passado, uma nostalgia. Como era um trampo solo eu não queria chamar muita gente pra rimar, queria mesmo explorar minhas possibilidades de fazer sozinho, mas sempre tem alguém que não pode ficar de fora. E eu sou muito fã, muito mesmo, sempre fui fã do Max BO e do Aori (Inumanos) pela parada do freestyle, que eu sempre fiz e por isso sempre me identifiquei, daí fluiu de a gente ficar mais próximo, mais parceiro e a parada poderia acontecer com uma vibe maneira. E foi o que rolou, chamei os dois pra uma Jam e o resultado foi uma das faixas que eu mais escuto na mix (risos). Também teve participação do pessoal da Tropa (banda de reggae/dub) que ajudou nos efeitos, deelays e percurssão. Depois disso a gente escolheu as músicas que iriam pro LP, prensamos o vinil, daí ficamos sem grana nenhuma. Mas daí a Red Nose shoes trincou uma grana e eu botei a mix na rua e tá aí, distribuição independente, mas chegando em quem quer ouvir.
B.F: Estando distante de São Paulo, fica mais difícil divulgar seu trabalho, mesmo assim você conseguiu um certo destaque na cena, não apenas com o Gírias, mas por sua participação em batalhas de freestyle. Você acha que a participação e as vitórias em algumas batalhas foram fundamentais para ajudar na divulgação?
Ralph: Sem dúvida foi importante, mas a real é que não participei das batalhas pra ser conhecido e sim porque era o momento para aquilo, entrei como sempre entro no que faço: de cabeça. Entrei com amor, dando o sangue e agradeço sempre a DEUS por ter conquistado tudo que conquistei até hoje. Estar longe de SP pode ser um ponto negativo sim, mas se for olhar eu não tô tão longe e tô bem mais perto do RJ do que vocês (risos) e isso é um ponto positivo. Aqui também é pertinho do litoral, o que gera várias oportunidades maneiras. Tô feliz com meu trampo, sobreviver de Rap é osso, mas a gente num pode se prender ao padrão de mercado da capital tem que explorar o Rap como música, buscar ampliar o público, não cantar só pro pessoal “do Rap”. Assim acho que tá dando pra sobreviver bem. A hora que nego for ver a gente já vai tá entrando na capital com mais intensidade também, é só ter humildade e paciência. Enquanto isso vamos trabalhando!
Ouça a faixa “MC Menestrel”
B.F: Nas suas letras você demonstra uma consciência e um compromisso com a Cultura Hip-Hop e não apenas com a música Rap. Isso até rendeu a você convites para cantar em festas de B.boys, como o Master Crews. Até que ponto você acha importante esse compromisso?
Ralph: Acho importante até o ponto que for verdadeiro e não forçado. Sou muito ligado ao Breaking, ao Grafitti, cresci vendo isso, fazia as minhas primeiras rimas em rodas com B.boys dançando na praça. Ouvia Thaide & DJ Hum tá ligado? Minha formação é essa, mas falo o que sinto no coração, porque só assim posso falar com propriedade. Não quero que os B.boys ou Grafiteiros se sintam citados somente. Quero que eles entendam que o que tô cantando tá vindo de dentro, faz parte da minha pessoa. Se daqui um tempo eu não viver tão intensamente a cultura Hip-Hop, eu num vou falar tanto da cultura, mas não vou deixar de fazer Rap, vou falar sempre do que eu vivo. Mas acho importante sempre lembrar de onde eu vim, porque eu comecei. Isso impede que eu perca meu norte, se tô abalado eu ouço “Preste atenção” (música e título do penúltimo disco da dupla Thaíde & DJ Hum) e lembro de tudo, lembro do porque de tudo que faço.
B.F: Já que você lançou algumas faixas do disco em vinil, aproveito o título do disco e pergunto se você espera que o seu disco também vá pra o fundo de algum baú?
Ralph: Espero que não vá tão cedo né (risos). Mas um dia acho que todo disco acaba indo. É ai que entra o porque desse vinil e dessa mix. Quando meu disco for pro fundo do baú, espero que alguém perceba o valor que ele tem e resgate a parada, para ouvir, ou para trabalhar em cima, aprender em cima daquilo. Essa é a intenção, resgatar o que estava no fundo do baú, pra não deixar o sonho morrer. Meu disco é realmente uma parte de mim, e se um dia esta parte estiver empoeirada em um sebo, espero que alguém reencontre, tire a poeira e bote pra tocar, isso seria como me dar vida de novo.
B.F: Espaço aberto.
Ralph: Fé em DEUS sempre, e muito trabalho. Acessem o site, ouçam as músicas, vejam os vídeos, se gostarem e sentirem vontade comprem o disco ou a mix. Um abraço muito grande pra toda a família que sempre me fortalece nas coisas que eu faço. Num vou citar ninguém, mas na moral, num é discurso nem demagogia, agradeço muito por Deus ter colocado tanta pessoa boa na minha vida. Os amigos aqui da região do Vale do Paraíba, os amigos de SP, os amigos do RJ, minha mina. Pô, sem palavras mesmo, tamo junto! Abraço Gil e toda a família Bocada-Forte!
www.mcralph.art.br
www.myspace.com/ralphgirias
www.giriasnacionais.art.br
1 comentário