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Entrevista com G.I.R.I.A.S Nacionais

Entrevista com G.I.R.I.A.S Nacionais

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GiriasNacionais_CD-300x296 Entrevista com G.I.R.I.A.S NacionaisGerando Informação no Rap com a Intenção de Alterar o Sistema, essa é a ideologia do grupo do Vale do Paraíba, G.I.R.I.A.S Nacionais. Formado em 2000 pelos MCs Ralph e Wilsão, DJ Jonhy e o Grafiteiro e B.boy Pelé. Em abril de 2002 eles participaram do Festival Abril Pro Rap e conseguiram incluir a música “Direito brasileiro” na coletânea do festival, mas o disco acabou não saindo. A música fala sobre liberdade de expressão e começa muito bem com trechos de músicas que foram censuradas como: “Isso aqui é uma guerra” (Facção Central) e “Soldado do Morro” (MV Bill) que tiveram os vídeo clipes censurados e “Pra não dizer que não falei das flores” (Geraldo Vandré), que virou o hino de resistência à ditadura no Brasil. Entre os trechos das músicas ouve-se uma voz dizer “censura”. Boa letra cantada por bons MCs, produção simples com beat box em alguns trechos da base e no refrão soletram: C.E.N.S.U.R.A.

A outra música que nos mandaram foi a “Tudo isso é inocência?”, muito louca a letra. O título é uma pergunta para os ricos e os políticos, que fingem não ver ou ignoram os problemas do país e do povo, o refrão diz: “Eu paro e penso, mas falta inteligência / pra saber se o que vejo é inocência ou negligência / eu paro, reflito, mas falta inteligência / pra saber se tudo isso é inocência ou negligência”. O grupo é muito bom, se apresentaram no Trocando Ideia desse ano e estão preparando seu primeiro álbum independente com 10 faixas. Saiba mais sobre o grupo.

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Foto do encarte do CD – Acervo BF

Bocada-Forte: De onde vocês são, qual a formação do grupo e quando surgiu?
G.I.R.I.A.S Nacionais:
 Somos do Vale do Paraíba, mais precisamente de Taubaté (Interior-SP), região que fica entre o Rio de Janeiro e São Paulo. O grupo é formado por 2 MCs (Ralph e Wilsão) e 1 DJ (Jonhy); mas temos um grafiteiro e B.boy (Pelé) que faz free-lance com o grupo. O G.I.R.I.A.S. surgiu em 2000.

B.F: Por que esse nome?
G.N:
 Como o grupo trabalha com o aspecto da transmissão de informação e conhecimento, criamos essa sigla que significa: Gerando Informação no Rap com Intenção de Alterar o Sistema. E nacionais por valorizar a raiz brasileira.

B.F: Como anda o Hip-Hop na cidade de vocês?
G.N:
O Hip Hop tem caminhado para um reconhecimento maior não somente na cidade, mas em toda a região. Pode-se observar vários grupos surgindo, com diversos estilos e tendências, a cena do graffiti tem crescido bem, com a formação de Crews e os b.boys se reúnem para dançar quase que diariamente. O que ainda falta é o incentivo financeiro por parte de patrocinadores para que eventos de maior porte sejam realizados. Apesar de que o SESC Taubaté, vem freqüentemente apoiando a cultura. Realizamos também diversos eventos beneficentes e procuramos trazer alguns grupos já reconhecidos para fortalecer as apresentações, como já fizemos com o JL, DJ Hum, Zona Proibida, W-Yo, PRO, Consciência Humana, etc.

B.F: Qual a maior dificuldade para levar adiante o trabalho de vocês?
G.N:
 Infelizmente, a distância da capital dificulta um pouco nosso envolvimento maior com os eventos, apesar de todo ano participarmos do Rap em Festa (evento organizado pelo CEDECA, que ocorre em Sapopemba). Mas acreditamos que trabalhando em nossa cidade poderemos desenvolver nosso profissionalismo e conseguir um contato maior futuramente.

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Foto do encarte do CD – Acervo BF

B.F: Quantos discos já lançaram ou já participaram de alguma coletânea?
G.N:
 Em Abril de 2002, o grupo foi para Brasília e foi classificado para entrar na coletânea “ABRIL PRO RAP 2002” que seria a 4º-coletânea desse concurso. Mas não sabemos porque a coletânea ainda não saiu (acredito que por problemas na CD BOX), com isso resolvemos lançar um single com uma música e um freestyle do grupo.

Atualmente, estamos finalizando nosso primeiro trabalho completo no estúdio. Acredito eu que o mesmo irá sair com 10 faixas e algumas bônus, porém por enquanto o trabalho será divulgado de maneira independente. Pois acreditamos que para nós hoje, esse é o melhor caminho.

B.F: Falem sobre o disco, participações, capa, fotos, título e tudo mais…
G.N:
O disco irá ter como título a seguinte frase: “Desista… de desistir!”. Iremos produzi-lo em casa e com a ajuda de algumas pessoas ligadas ao G.I.R.I.A.S. As fotos serão tiradas em PB pela estudante de jornalismo Poliana Cassiano. Participando com o grupo, estarão Vitinho (MC da cidade), JL no freestyle, e um professor da Universidade de Taubaté que vai declamar uma poesia em uma das faixas bônus. No restante, no comando das rimas estarão apenas Ralph e Wilsão e nos toca discos e risco DJ Jonhy… A capa será simples (devido aos recursos econômicos), mas estamos preparando algo bem original, pois com humildade e amor podemos fazer um ótimo trabalho.

B.F: Quem produz as bases ou vocês usam bases prontas?
G.N:
As bases são produzidas pelo DJ Jonhy e também pelo DJ L.C.(Cidadãos Brasileiros), apesar dos MCs participarem da criação, escolhendo por exemplo alguns samplers. Utilizamos para a produção o PC com os softwares, Sound Forge 6.0, Acid, e Fruit loops, mas algumas faixas do cd contarão com instrumentos como baixo, violão e guitarra.

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Foto do encarte do CD – Acervo BF

B.F: O que estão achando da cena atual do Rap por aqui e fora do país?
G.N:
 Nós vemos o rap como uma forma de resgate da auto-estima e da valorização da sabedoria, embora alguns rappers (no Brasil e lá fora) insistam em cantar os problemas e não apontar soluções, causando problemas ainda maiores como a revolta sem informação, o que pode ser extremamente perigoso para uma população carente como no Brasil. Mas temos que ressaltar a resistência do verdadeiro Rap, onde os grupos valorizam a cultura e também trabalham o lado social. Vemos vários que mantém a essência lá fora (como Mos Def, Dead Prez, Lauryn Hill e outros) e por isso eu prefiro citá-los ao invés de apontar vários que estão distorcendo os valores desse movimento. No nosso país, a cena vem crescendo, mas precisamos definir diretrizes para não nos afastarmos dos ideais de mudança da sociedade.

B.F: A internet tem sido importante na divulgação do trabalho de vocês?
G.N:
Com certeza! A Internet proporciona vários contatos e possibilita adquirir mais facilmente as informações, fomos cantar no Trocando Ideia 2003 através de contatos pela rede. Mas espero que essa divulgação se fortaleça através de sites especializados como o Bocada e também logo mais estará no ar o site do G.I.R.I.A.S. (se Deus quiser!)

B.F: Qual a opinião do grupo sobre o “Jabá”?
G.N:
 No nosso ponto de vista, as gravadoras que possuem recursos devem investir em qualidade, e com isso as rádios automaticamente tocariam seus produtos, mas o que acontece é que freqüentemente são lançados lixo musicais, e para tocá-los as gravadoras acabam entrando no jogo capitalista e utilizando o dinheiro como meio para divulgar os grupos o que prejudica toda uma cultura e posteriormente a identidade musical do país. 
Por trabalhar em uma rádio comunitária, acredito que o veículo rádio deve ser utilizado para a utilidade pública e para o favorecimento do público e não para gerar lucros gigantescos com a exaltação do fútil. O sistema do “Jabá” acaba impedindo que grupos independentes e sem “costa quente” possam divulgar seu trabalho e isso deve ser contestado, principalmente pelo Hip Hop.

B.F: Como vocês definem o estilo do grupo?
G.N:
 Como uma Nova Escola Cristã e politizada.

B.F: Espaço Aberto:
G.N:
 Primeiramente, antes de qualquer coisa, gostaria em nome do G.I.R.I.A.S. Nacionais agradecer de coração ao nosso Senhor por permitir que o grupo ingresse em uma jornada rumo a conscientização dos jovens. Agradeço ao Pai por iluminar nossas mentes com Tuas mensagens possibilitando os MCs para escrever suas rimas e manter-se firme na corrida ao lado do DJ. Agradeço à família de todos integrantes por acreditar no grupo, agradeço quem nos apoiou no começo e todos que abriram espaço para o G.I.R.I.A.S. independentemente da ocasião. Agradecimentos também à todos que foram gentis conosco em Porto Alegre, São Paulo, Campos do Jordão, Ubatuba, Brasília, Pindamonhangaba, São José dos Campos, Tremembé, e é claro Taubaté. Ao Bocada Forte, ao Gil, ao Diko, obrigado pelo espaço e pela atenção (vamos manter firme a corrente), todos que acreditam em um futuro melhor busquem a verdadeira paz, se apeguem a Bíblia, estudem, procurem amar ao próximo como o Rei dos reis Jesus Cristo nos amou e ama.

“Eu faço greve, pedindo um aumento,
não só de salário, mas também do nosso pensamento./
As vezes lento, devido à um problema grave…
o conhecimento não é lixo é o elemento-chave!”
Trecho do som “Elemento-chave”
 (G.I.R.I.A.S. Nacionais)

Editor de conteúdo do Bocada Forte desde 2000, envolvido com a Cultura Hip-Hop desde o início dos anos 90. Sempre nas trincheiras, da quebrada pro mundo!