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Em novo EP, Eazy Kaos canta os caminhos da maturidade

Em novo EP, Eazy Kaos canta os caminhos da maturidade

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EazyKaosCapaEP-300x300 Em novo EP, Eazy Kaos canta os caminhos da maturidadeNa segunda semana deste mês de outubro, tive uma conversa com Eazy Kaos. Falamos sobre a  transição do Rap no Brasil e sua conexão com seu mais recente trabalho,  o EP “Libra”. As páginas do Rap brasileiro começaram a ser escritas na década de 1980. Representante de uma geração que viveu intensamente a resistência cultural em meio às dores e a luta contra o racismo, numa época em que o Rap batalhava contra tudo e todos por reconhecimento, Eazy Kaos é um artista que cresceu junto com o movimento Hip-Hop no país e produziu intensamente durante os anos 1990 e 2000. Tive a oportunidade de acompanhar parte da correria do mano nos palcos e nas rádios comunitárias da zonal sul de SP.

Os temas abordados em  “Libra” refletem a maturidade de quem passou por diferentes caminhos, que agora se depara com um mercado musical transformado, muito mais influenciado por números, algoritmos e plataformas de streaming do que pelas ruas ou pela autenticidade do discurso, mas mesmo assim continua mandando sua mensagem.

SABER QUEM É

eazy-kaos-300x300 Em novo EP, Eazy Kaos canta os caminhos da maturidadeQuando Eazy Kaos preparou seu EP, ele estava em outra fase da sua caminhada e no auge de sua maturidade artística, entendendo que a criação não bastava por si só. O rapper e produtor, como muitos outros, teve de se adaptar à nova realidade em que a produção musical precisa estar atrelada a uma estratégia de mercado para sobreviver. Lembrar da frustração de artistas que, como ele, priorizavam a arte em detrimento das engrenagens comerciais é inevitável, entretanto,  “Libra” também reflete uma aceitação consciente do lugar de Eazy nesse cenário, algo que muitos de sua geração ainda lutam para compreender.

Sabemos que o mercado atual é dominado pelas grandes plataformas, que se aliam às gravadoras para manter o controle sobre a distribuição e o consumo musical. Eazy Kaos, no entanto, optou por não seguir o fluxo imposto pelas plataformas. Conhecendo plenamente suas limitações financeiras e de alcance midiático, em vez de correr atrás dos algoritmos, ele se manteve fiel à sua visão, lançando “Libra” de maneira independente. O que essa independência significa? Priorizar sua arte e mostrar que é possível existir fora das pressões comerciais. E sim, ele existe! O rapper tem uma história rica no underground do Rap brasileiro. O Bocada Forte registrou algumas partes da trajetória de Eazy.

Num contexto de dificuldades criadas por um mercado que exige inovação constante. Muitos artistas de sua geração paralisaram suas criações por medo de não se adequar a essas novas demandas. No entanto, “Libra” é um exemplo de como é possível lançar algo relevante sem necessariamente seguir o padrão comercial. Ao manter-se fiel à sua própria essência, ele construiu uma obra que conversa com seu público, sem cair na armadilha de tentar agradar o algoritmo.

CONTINUAR SEGUINDO

Durante nossa conversa, Eazy Kaos tocou em temas como a autocensura e o medo do fracasso, sentimentos que permeiam sua trajetória e a de muitos de sua geração. O Rap, que sempre foi uma forma de resistência, agora enfrenta uma nova luta: a pressão pela relevância digital. Para Kaos, o fracasso não é medido pelo número de visualizações, mas sim pela desistência de criar. Sua obra é uma forma de combater essa tendência, ao mesmo tempo em que promove uma reflexão sobre o lugar do artista no cenário atual.

Outro ponto importante da nossa discussão sobre o envelhecimento no Rap: diferente do rock, que reverencia seus ícones mesmo após décadas de carreira, o Rap, por ser um gênero relativamente jovem, ainda não encontrou espaço para que seus veteranos coexistam com os novos nomes. Eazy Kaos navega nesse território inexplorado, mostrando que é possível continuar com ideias e propostas relevantes, mesmo que a indústria valorize mais a juventude. O Rap tem espaço para todas as idades, desde que haja respeito pelo legado. Essa parada está sendo construída por muitos na cena.

Diferente de muitos artistas que se deixam consumir por essa lógica, Kaos prefere seguir seu ritmo, sem a pressão de atender às exigências do mercado, o que acaba lhe trazendo uma paz criativa para falar de família, amor, arrependimento e recomeço.

A relação de Eazy Kaos com os jovens produtores e com o uso da tecnologia também é um aspecto marcante de sua trajetória. Em “Libra”, ele colaborou com produtores desconhecidos, comprando beats e investindo em novos talentos, o que demonstra sua abertura para novas influências e formas de fazer música. Ao mesmo tempo, ele usa a tecnologia disponível a seu favor, adaptando-se às condições atuais sem perder de vista sua essência, tentando manter um equilíbrio raro longe de uma indústria que prioriza a produção rápida e descartável.

Longe de romantizar as dificuldades, ele reconhece os limites de uma carreira sem o apoio das grandes gravadoras ou de grandes parceiros. “Libra” é Rap adulto, com tudo de positivo e negativo que essa condição traz. O rapper que é pai e profissional da comunicação, rima sua maneira de encarar o mundo. Mais páginas serão escritas, um disco solo vem aí.

Ouça o disco