Documentário registra as articulações das mulheres na cena anarcopunk
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O movimento anarcopunk no Brasil acaba de ganhar um registro sobre seu início e trajetória, o projeto “Viver para Lutar” é uma série de documentários sobres as experiências da cena anarcopunk no país na década de 90. O trabalho foi produzido e dirigido por Marina Knup, integrante do movimento, tatuadora a uma das idealizadoras da editora Imprensa Marginal.
Segundo Marina, a ideia inicial era que o projeto fosse um único documentário, focado apenas na cidade São Paulo. Porém, ao longo de 12 anos fazendo entrevistas e captando material, a produtora percebeu que tinha desafio bem maior. “Tudo começou cerca de 12 anos atrás, com algumas primeiras entrevistas, e com o passar do tempo foi tomando forma e virando uma proposta mais consistente”, afirma Marina
Esse registro é contado por alguém que faz parte do movimento, que vive seu dia-a-dia, e que viu a necessidade de contar sua própria história. “A proposta surge e partir da necessidade de contar nossa história a partir de nossas próprias vozes, visto que em geral sempre predominaram as visões da academia e imprensa, com seus interesses. específicos”.
Foram mais de 100 entrevistas e a ideia de Marina virou 5 documentários temáticos dentro do tema.
Assista ao teaser do documentário
O primeiro episódio “Punk, Anarquismo e Feminismo: As Minas dos anos 90”, é todo dedicado à participação das mulheres no movimento. A contribuição feminina foi marcada por um ativismo intenso. O episódio mostra as articulações, a luta contra o machismo da sociedade e dentro do próprio movimento, luta que resultou inclusive na criação do CAF (Coletivo Anarco Feminista), concebido em 1992, em São Paulo (SP), como forma de resistência.
Com as intensas lutas feministas nos anos 60 e 70, as décadas seguintes foram de conquistas das mulheres, com a percepção que nós poderíamos estar em todos os lugares. O movimento punk, o próprio rap e outros estilos sempre tiveram a participação da mulher em suas raízes. Entretanto, essa presença foi muitas vezes invisibilizada, esquecida ou até mesmo apagada.
Nos extras do primeiro episódio da série, disponível no Youtube, Shajona, uma das integrantes do movimento anarcopunk, fala do fato de que mulheres já se reuniam antes da criação do CAF e como essas reuniões a fortaleciam: “Éramos muito perseguidas pelo próprio movimento, as meninas também sofriam violência pelo seus companheiros, a ideia do CAF levou a gente a se conhecer”, conta.
Ela fala ainda de como lidavam com o machismo dentro do movimento “[…] Tinha muita coisa de cortar, de tesourar nossa fala. Essa ideia de visibilizar-se, ideia da autoestima, poder da palavra da expressão e de estar em todo lugar, isso a gente aprendeu com as mulheres. A gente já tinha nessa época uma rede, nossa ideia era bem grandiosa.”
Os próximos episódios do documentário serão sobre como surge o movimento anarcopunk no fim dos anos 1980 e dos 1990 e iniciativas que foram sendo desenvolvidas até o meio da década, como o projeto Anarquistas Contra o Racismo e Anarcopunk no nordeste.
“Tudo tem sido feito de forma totalmente ‘faça você mesmo’, sem verbas, editais ou financiamentos, somente com o apoio e correria e suor das pessoas envolvidas e da cena anarcopunk/anarquista”, frisa Marina
Marina tem feito uma tour pelo Brasil e com discussões e trocas de ideias e vivências. A ativista tem em sua agenda viagens por países como Uruguai, Argentina, Chile Bolívia, Peru, e México, sempre de forma independente, num trabalho que resgata parte importante da cultura punk do Brasil.
Instagram de Marina Knup: @marinaknup
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