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Chuck D: ‘O Hip Hop não pode ser julgado por um grupo de velhos guardas corporativos’

Chuck D: ‘O Hip Hop não pode ser julgado por um grupo de velhos guardas corporativos’

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No dia 17 de janeiro, Chuck D publicou em suas redes sociais uma carta aberta “ao Grammy e ao Hip Hop”. O motivo da sua carta foi o anúncio do desligamento de Deborah Dugan do posto de CEO e presidente da Organização, exatamente há dez dias da 62ª Edição do prêmio.

Em um comunicado Harvey Mason Jr., presidente e CEO interino, explicou sobre a licença administrativa de Dugan – “O Conselho de Administração considerou essa ação necessária, devido a sérias preocupações que recentemente foram trazidas à nossa atenção. Embora não possamos compartilhar os detalhes das preocupações para proteger a privacidade dos funcionários, saiba que o Conselho contratou dois investigadores independentes para conduzir investigações independentes sobre as alegações feitas.”

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Chuck D. Foto: Reprodução/Grammy.com

Chuck saiu em defesa de Dugan, pois em apenas 5 meses à frente da Academia ela vinha fazendo mudanças significativas. Inclusive, foi ela a responsável por incluir o Public Enemy na Lifetime Achievement Awards, o prêmio entregue a artistas pela sua história e importância na música – até aqui o único grupo de Rap a receber foi o Run DMC (2016). Na carta o líder do Public Enemy lembra que em 1989 eles protestaram contra o Grammy por não reconhecerem o Rap. Na música “Terminator X to the edge of panic”, Chuck rima – “quem se importa com um maldito Grammy”.

Ele não deixa claro na carta se o Public Enemy estará presente na premiação. Vamos aguardar até domingo (26) para saber o que o “Inimigo Público” e seus integrantes preparam para a noite de gala.

Leia a carta na íntegra

“Saúdo Deborah Dugan por sua verdade e coragem para tentar efetuar mudanças. Como sempre, um grupo de homens brancos ignorantes, geralmente cheios de testosterona, costumam parar o progresso e estragar tudo. A mesma velha besteira. Eles querem manter o status quo e garantir que coisas como o Hip Hop permaneçam como ‘filhos dos filhos da puta’.

Em 1989, protestamos contra o Grammy porque eles se recusaram a reconhecer uma nova forma de arte chamada Hip Hop/Rap. Eu respondi com a letra, ‘Who gives a fuck about a goddamn Grammy’ [Quem se importa com um maldito Grammy]. Lutamos para ser reconhecidos e para que as coisas mudassem. Nós chutamos a porta para que outros passassem.

Depois de 35 anos nesse setor, as pessoas devem saber que eu sempre adio qualquer conquista individual, sempre cumprimentando aqueles que estão diante de mim e tentando abrir a porta para aqueles que estão atrás de mim. Concordar em aceitar o Lifetime Achievement Award quando Deborah me ligou não foi diferente.

Discutimos essas questões e o que precisava mudar. O Hip Hop não pode ser julgado por um grupo de velhos guardas corporativos que reescrevem a história para servir seus resultados corporativos.

Mas era óbvio que ela estava tendo suas próprias lutas contra uma academia que acha que o Public Enemy terminou em 1992 e quer nos dar um prêmio por uma vida inteira sem reconhecer uma vida inteira de trabalho. Tivemos de pechinchar, educar e justificar por que um membro central do nosso grupo nos últimos 22 anos, DJ Lord, deveria fazer parte deste prêmio. Tivemos que questionar por que nosso maior sucesso no Reino Unido e o tema dos Jogos Paralímpicos Globais, ‘Harder Than You Think’, foram omitidos. Talvez porque fora lançado em minha própria gravadora independente, SlamJamz, e não numa grande?

Nunca imaginei que pressionar pelo reconhecimento que nossa forma de arte merecia tornaria artistas coagidos a desrespeitar o ofício, a si mesmos, a cultura e outras pessoas, apenas para perseguir a bolsa [dinheiro], a validação de empresas e premiações que não se importam com você. Espero que esta carta seja um alerta para eles.

Gente nova, mas o mesmo padrão de besteira que não muda nada. Então, não estou surpreso que Deborah Dugan esteja fora. Fico horrorizado porque cheira a mesma velha jive, um novo odor que considera às massas simplesmente como ‘bundas’.”

Editor de conteúdo do Bocada Forte desde 2000, envolvido com a Cultura Hip-Hop desde o início dos anos 90. Sempre nas trincheiras, da quebrada pro mundo!

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