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#ArtesPlásticas | As fronteiras inóspitas de No Martins

#ArtesPlásticas | As fronteiras inóspitas de No Martins

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Fotos: Erica Bastos

Em sua primeira exposição individual no Brasil após cinco anos, o artista plástico No Martins inaugurou, no dia 9 de novembro, a exposição “Fronteiras Inóspitas”, na Galeria Millan, em Pinheiros. A mostra apresenta obras em tela e instalações que discutem a violência do Estado contra pessoas negras, principalmente homens negros periféricos.

Em 2016, No Martins concedeu sua primeira entrevista ao site Bocada Forte. Na conversa, o artista falou sobre sua trajetória no graffiti, como começou e sua relação com o hip-hop. Na época, ele se preparava para sua primeira exposição fora do país, na Austrália — algo que já considerava um objetivo em sua carreira: expor suas obras no exterior.

“Desde aquela primeira entrevista, quando eu ainda estava com aquele ateliê na Vila Cisper, já tinha essa ideia de almejar algo maior. Eu via alguns amigos do graffiti viajando e fazendo trabalhos fora, e pensava: ‘Porra, eu quero fazer isso também’. Naquele período, eu estava arrumando algumas coisas para uma pequena galeria na Austrália e, para mim, era muito importante. Eu estava empolgadão”, relembra No.

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Desde então, No Martins expôs suas obras sob a curadoria da renomada artista plástica Rosana Paulino, que foi sua professora na Oficina Oswald de Andrade, em 2007. Ele participou da importante exposição “Histórias Afro-Atlânticas” (2018), que ocorreu no MASP e no Instituto Tomie Ohtake. No também apresentou suas obras em Chicago (EUA), Paris (França) e Londres (Inglaterra), além de realizar uma temporada de estudos em Angola, consolidando, assim, uma carreira internacional.

“Foram várias exposições coletivas importantes. Não que essas exposições não sejam relevantes para a minha carreira e para que as pessoas conheçam meu trabalho, mas mostrar de forma individual é outra coisa. Você consegue expor o conjunto do seu raciocínio e da sua pesquisa. Fazer isso na Galeria Millan, que é uma das mais importantes do Brasil, é significativo. Todo artista que deseja entrar nesse mercado de arte contemporânea almeja ocupar um espaço ali. É um ambiente muito difícil de penetrar”, afirmou o artista.

A relação de No Martins com a cultura hip-hop se refletiu na abertura da exposição, que contou com a presença do rapper Sombra, do grupo SNJ. O rapper destacou a importância de obras de artistas negros estarem presentes em grandes galerias, especialmente em bairros nobres.

No Martins é um artista de quebrada, homem negro, rasta, que vem desbravando as possíveis barreiras pelas quebradas e pelo mundo afora, mostrando a desenvoltura do homem negro. Quando a gente fala do homem negro, é também sobre as tias e os tios da terceira idade, a juventude, os adolescentes e as crianças. É sobre isso que trata ‘Fronteiras Inóspitas‘. Quando vemos obras de artistas como No sendo expostas em galerias no coração de Pinheiros, um bairro elitista e conservador, é muito significativo. Uma pessoa que vem de uma região periférica, de uma família preta e humilde, mas digna, estar ali é motivo de orgulho. Essa data é muito importante para nós, para o povo preto em geral”, destacou Sombra.

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Fragmentos

“Essa exposição é muito importante, porque já faz cinco anos que não apresento nada aqui no Brasil. A última foi em 2019, no Instituto Pretos Novos, no bairro da Gamboa, no Rio de Janeiro — um local histórico que recebia pessoas escravizadas. Depois disso, vim fazendo coisas fora do Brasil. Expus na Galeria Jack Bell, em Londres, depois em Paris e Chicago. Acho que, dessas individuais recentes, a de Chicago foi a última. Agora, voltar e fazer uma exposição aqui é muito importante, até pelo amadurecimento do meu trabalho.

Fazer exposições fora do Brasil tem outra carga de responsabilidade. Muitas vezes, eu preciso explicar para as pessoas o que é o Brasil antes de apresentar o tema do meu trabalho. A visão que eles têm do Brasil é muito distante da nossa realidade. Fiz uma exposição em Angola também, mas aqui todo mundo já sabe as nossas questões. É diferente, porque as pessoas entendem com mais facilidade o que você está trazendo. Isso não significa que esses problemas não existam em outros lugares, mas o Brasil tem suas particularidades — como a violência policial e o encarceramento em massa. Tudo isso impacta minha produção artística”, diz No Martins.

Rosana Paulino e a identidade

Antes da exposição “Histórias Afro-Atlânticas”, No Martins já desenvolvia uma linguagem fora do graffiti e da pichação. Ele produziu gravura em metal por muito tempo. Em 2017, a curadoria de sua primeira exposição individual foi feita por Rosana Paulino, que, em 2007, havia sido sua professora em um curso na Oficina Oswald de Andrade.

“A Rosana Paulino é, sem dúvida, uma das maiores artistas do Brasil. Nesse nicho de arte preta brasileira, ela tem uma contribuição enorme. Um dia, ela me disse: ‘No, quero fazer um projeto com você. Estou acompanhando o que você está fazendo e quero fazer a curadoria de uma individual sua’. Ela foi até a minha casa, viu as obras e decidiu que eu tinha capacidade para realizar essa exposição. Assim nasceu minha primeira individual no Senac Lapa”, relatou o artista.

Depois dessa exposição, No participou da “Histórias Afro-Atlânticas” e realizou uma residência artística em Angola. Seu trabalho foi exibido em uma feira de arte em Paris e seguiu para outras galerias internacionais.

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Erica Bastos é jornalista e fotógrafa. Filha de nordestinos, do sertão da Bahia, ama suas raízes e procura sempre trazer o olhar de quem está dentro da periferia para o mundo, sem estereótipos.