Acervo BF | Dia Mundial do Hip Hop: história e reflexões
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Cultura de rua completa, em 12 de novembro, mais um ano de existência e o BF traz depoimentos* e textos especiais sobre a importância desta data [nesta matéria você verá referências aos 36 anos da Universal Zulu Nation e do Hip Hop].
Um momento para comemorar as conquistas obtidas ou refletir sobre os rumos tomados? Fazer festa ou arrumar a casa? De diferentes pontos de vista, algumas personalidades do Hip Hop brasileiro comentam este 12 de novembro, o Dia Mundial do Hip Hop.
A data remete ao ano de 1974, quando, no Bronx (Nova York) Afrika Bambaataa decidiu usar a expressão “hip hop” (que, em tradução literal, significa algo como “balançar os quadris”). Mas esta junção de palavras ganhou um significado mais amplo, abarcando quatro manifestações culturais (os “quatro elementos”): o DJing (arte da discotecagem), o MCing (arte de rimar), que, juntos, formam o Rap; o breaking (dança de rua); e o Graffiti, invadindo o universo das artes plásticas. Em sua essência, a chamada “cultura de rua” tinha como objetivo oferecer formas alternativas de expressão, diversão e conscientização coletiva, com o propósito único de buscar a PAZ para a população dos guetos. Anos mais tarde, surgiu também a teoria sobre a existência do “quinto elemento” da cultura de rua, o conhecimento – na realidade, algo inerente aos outros quatro elementos.
(Nessa mesma data, também é comemorado o aniversário da Universal Zulu Nation, que surgiu exatamente um ano antes, 12 de novembro de 1973)
Nos 36 anos que se passaram desde sua criação, o Hip Hop tornou-se um fenômeno presente em praticamente todos os países do mundo, foi transformado em produto cultural (sobretudo, no caso do Rap), se diversificou e gerou muitas polêmicas e alguns conflitos internos. Mas, pontos negativos à parte, é inegável a constatação de que ele salvou vidas – e continua salvando.
O BF ouviu algumas ilustres personalidades ligadas ao Hip Hop brasileiro sobre a importância dos 36 anos da cultura de rua e os rumos que ela pode tomar. Torna-se válido lembrar que as palavras abaixo são uma mera amostragem do amplo espectro de ideias e posicionamentos de milhões de brasileiros envolvidos com essa gama artística, e nem todos os protagonistas desta história puderam ser ouvidos. Confira abaixo algumas opiniões sobre este 12 de novembro:
“Acredito que o hip hop está num momento de transformação. Muita gente que batalhou vários anos está vivendo um momento glorioso. Por exemplo, os grafiteiros Osgemeos, hoje, são respeitados no mundo. O Brasil está no circuito das batalhas internacionais de break, temos bons grupos de rap em todos os Estados, concursos de dança, trabalhos sociais, livros voltados para o hip-hop, teses de universidades, documentários… Isso tudo é um reconhecimento à cultura. Espero que o hip-hop consiga sobreviver de forma sólida, tenha independência financeira e possa gerar empregos, mas de forma unida, sem se isolar. Que se mantenha como um movimento social, musical, educacional, politizado e transformador. E que as pessoas envolvidas não tenham medo de interagir com outras manifestações culturais, artísticas e desportivas. Não podemos ter medo de diversificar, mudar, evoluir. É importante preservar valores, mas temos que assimilar concepções diferentes de se ver e produzir cultura, respeitando a diversidade.” (Nelson Triunfo, músico, dançarino, coreógrafo, ativista e educador. Frequentava os bailes black da década de 1970 e é considerado o “pai do hip hop” no Brasil)
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“Quando comecei no hip hop, eu imaginava que sempre haveria um progresso, mas não que seria tão rápido. Não imaginava que em pouco tempo ele se tornaria um fenômeno comercial tão grande. Quando começamos, tinha um caráter de diversão, porque era algo novo, inusitado, e conforme foram se passando os anos fomos descobrindo os elementos, as técnicas. Naquela época, o acesso à informação era bem difícil. O hip-hop sempre foi e ainda é a arma que as pessoas mais humildes têm para reivindicar algo. Uns usam essa arma para beneficiar o próximo, outros para o seu próprio bem-estar, outros com ganância, egoísmo… Acho que, quando o Grandmaster Flash, o Grand Wizard Theodor, o DJ Kool Herc tiveram a ideia de fazer música usando trechos de outros discos, algumas pessoas imaginaram que não iria se criar mais nada de novo. Eles conseguiram criar algo novo em cima de outras coisas que já existiam, e isso é genial. O hip-hop é uma das maiores invenções do século XX e vai continuar sendo uma ferramenta cultural importante no século XXI. Espero que as pessoas que fazem parte disso preservem a história, a cultura, e entendam isso como um estilo de vida, não só como um tipo de música. Uns podem só fazer rap, e isso é fácil. Mas a diferença está em quem vive o hip-hop dentro de si.” (DJ Hum, DJ, produtor e MC. Conheceu o hip hop em 1983)
“O hip hop, para mim, é uma escola de vida. Ele me ensina a ver o mundo de uma forma mais verdadeira e a entender melhor o comportamento humano. Muitos utilizaram e utilizam o hip-hop para reflexões, mudanças de comportamento e percursos das coisas mais importante para a humanidade. Outros transformam isso em mais uma forma de manter o ego em evidência, em que a única preocupação é se manter no jogo a qualquer custo. Eu chamo esses de “vendedores de ilusões”, mas outros chamam de “evolução”… O futuro do hip-hop vai depender do que as pessoas vão apoiar. Há músicas que até hoje desrespeitam as mulheres, esquecendo que são elas que dão luz à vida. Outra coisa é a maneira exagerada de ostentar as coisas, num mundo onde a desigualdade ainda é o maior agravante. O hip-hop foi para o mundo de uma forma encorajadora, o que deu força para muita gente enfrentar as próprias frustrações e o sentimento de inferioridade, combatendo dentro de si os próprios preconceitos e buscando uma forma de ser útil nessa passagem pela Terra. O meu amor pelo hip-hop é ´um pouco mais humano`, porque ele transformou muitas pessoas em porta-vozes da justiça e do amor pela vida!” (EliEfi, MC e produtor. Conheceu o hip hop em 1984)
“O hip-hop me deu conhecimento da vida como ela é, na real. Ele me incentivou a ler, a estudar, a ter atitude, responsabilidade e compromisso com a vida. O hip-hop mudou meu modo de pensar e de agir. Deu-me um outro caminho de vida, além de modificar significativamente a realidade que eu vivia. Sobre o futuro… Eu penso que, da forma como está hoje, o hip-hop perdeu muita força e sua originalidade. Mas, mesmo assim, continua transformando vidas. E é nisso que eu acredito!” (DJ Mas, coletivo Brigada Hip-Hop, de Pernambuco. Conheceu o hip hop em 1984 – em memória)
“O hip hop me veio realmente em 1988, de uma forma avassaladora, modificando todo meu momento de 19 anos passados. Hoje, vivo intensamente, até com o receio de que a parte que me cabe à música esteja chegando ao final. Mas, com certeza, tudo o que vivi e vivo neste movimento me serviu e serve para repassar mudança de vida, hábito, e ficará para sempre no meu interior para que eu use em prol de minha comunidade, família e filhos. O Dia do Hip-Hop é um marco histórico, não somente para os elementos envolvidos, mas para pararmos e refletirmos sobre como era, como foi e como estão sendo conduzidos todos os atos de um movimento que jamais irá parar.” (Japão, MC do grupo Viela 17. Conheceu o hip-hop em 1988)
“O hip hop chega à fase adulta! E nos chama à reflexão: ´De onde viemos, o que somos, aonde estamos?`. A data mostra a resistência de uma cultura que podemos, sim, afirmar que é um estilo de vida. O hip-hop me tornou a mulher que sou hoje! Dizem que o futuro a Deus pertence… Mas precisamos fazer a nossa parte e espero ver, lá na frente, todo o esforço e suor sendo recompensados pelas próximas gerações de hip-hoppers do Brasil! Parabéns para nós!” (Rúbia Fraga, MC do grupo RPW e membro do Hip Hop Mulher. Conheceu o hip hop em 1989)
“Em 1989, eu estava de passagem pelo metrô São Bento e vi uns maninhos dançando break. Eu não sabia o que era, mas era ´loko! Tinha um mano batendo na caixa de lixo do metrô, marcando o ritmo, e um outro falava em cima desse ritmo. Eu pirei! Fiquei uns 20 minutos olhando... Estava com meu pai, e ele falava: ´Vambora, filhão
… Cheguei em casa e comecei a bater na mesa, tentando imitar a batida que o maluco da São Bento fazia, e comecei a rimar, falando para as minhas irmãs sobre o que eu tinha visto. Agora, já estou há 20 anos fazendo rimas no Filosofia de Rua, que foi fundado em 11 de setembro de 1991. O rap mudou minha vida, me deu um direcionamento, uma esperança e uma razão para acreditar que amanhã tudo vai ser diferente.” (Ugli C.I., MC do grupo Filosofia de Rua. Conheceu o hip hop em 1989)
“Acho que os 36 anos de hip-hop no mundo mostram claramente que ele não é moda, porque nenhuma moda dura tanto tempo. Por outro lado, mostra que estamos amadurecendo e nos tornando adultos, deixando de ser adolescentes rebeldes. Agora podemos usar mais da experiência e não cometer os mesmos erros do passado. O hip-hop tem tudo para crescer, mas para isso seus adeptos precisam se profissionalizar ao máximo. O hip-hop salva, mas a gente precisa fazer a nossa parte em primeiro lugar. O que você fez pelo hip-hop hoje? O que você faz pelo hip-hop na sua quebrada? Não podemos tratar o hip-hop como se fosse brincadeira. O barato é compromisso e, quem não tem compromisso com o hip-hop, que deixe ele para quem tem. São 36 anos de lutas e conquistas, mas agora é a hora da (r)evolução. Parabéns, hip-hop, e obrigado por fazer parte da minha vida.” (Alessandro Buzo, escritor, cineasta, apresentador de televisão e produtor de eventos. Conheceu o hip hop nos anos 1980)
“Hip Hop, para mim, é um estado de espírito. Acima do modismo das roupas, gírias ou status. No caso da música, é ouvir uma determinada canção que move sua alma, uma letra que te faz pensar: ´Pô, é isso aí mesmo`. Quando ouço em casa, não tem conversinha furada, papo de festinha ou sentimentalismo comercial. Quando comecei a ouvir rap, no final dos anos de 1980, era a melhor música do mundo para mim. Eu me identifiquei não só com as batidas, mas sim com tudo o que ele trazia, o break, o DJ, o graffiti, o beatbox. Foi f…! Sinto que foi um privilégio ter acompanhado essa época. Talvez, hoje, se eu tivesse 13 ou 14 anos, não seria tão impactante essa novidade musical e cultural. Dou o maior valor para quem está nas ruas para divulgar seu trampo, por sonhar que no Brasil se consegue viver somente da música rap nos dias atuais. O hip-hop nunca acabará, mas acredito que se transformará conforme as mudanças de gerações. Mas a essência, aquilo bate forte em quem curte e faz hip-hop, essa sempre estará presente.” (DJ Marcelinho, DJ e produtor, ex-integrante dos grupos Câmbio Negro e Beatchoro. Conheceu o hip-hop no final da década de 1980)
“Nesse dia, 12 de novembro, mas lá no ano de 1974, Afrika Bambaataa criou oficialmente o hip-hop no Bronx, em Nova York (EUA). Ele fez isso porque as brigas entre gangues eram preocupantes e ele acreditou na cultura para acabar com essa violência que fazia os moradores das periferias se matarem. Para mim, então, essa data significa uma festa para celebrar a vida, reunir todas as etnias, numa troca de respeito, conhecimento e cultura. Essa merece ser uma data celebrada mundialmente, porque o alcance do hip-hop é universal. O Afrika Bambaataa está concorrendo ao Prêmio Nobel da Paz, o que mostra a importância do hip-hop. Nada mais justo que celebrarmos isso. O mais importante é lembrar que temos que evoluir na transformação, mas sem perder as raízes. Por exemplo, muita gente cultua a imagem de Che Guevara mas não conhece sua história e o significado da sua luta. Não podemos fazer do hip-hop esse modismo. Temos que respeitar sua essência, prezando pela juventude, pelas crianças, mas respeitando seus valores e sua história, senão ele vira um movimento como outro qualquer.” (Zulu King Nino Brown, ativista cultural e criador da Universal Zulu Nation – Brasil. Frequentava os bailes black da década de 1970 e conheceu o hip-hop por volta de 1990)
“Esta data representa felicidade e também um marco de uma geração carente de educação, informação e cultura. O hip-hop foi, é, e sempre será a válvula de escape para todos aqueles que sofrem as mazelas do sistema. Sempre será o nosso abrigo e, ao mesmo tempo, nossa melhor arma para que possamos conquistar uma vida e um futuro melhor. E é exatamente por isso que devemos preservá-lo da menor maneira. Quanto ao que podemos esperar do futuro do hip-hop, acredito que muitas mudanças. Na verdade, já estamos vivendo estas mudanças e que fique bem claro: toda transição tem a sua cara de sofrimento e de alegria. O importante é estarmos lúcidos, se é que vocês me entendem. Meus parabéns a todos e todas que fazem parte desta nossa cultura e que, direta ou indiretamente, contribuem para o crescimento positivo da mesma. Paz na Terra aos homens e mulheres de boa vontade. Parabéns ao hip-hop por mais um ano de vida e muito obrigado por ter salvo a minha vida e as vidas de tantas outras pessoas. Muito respeito! A guerrilha continua… Um abraço!” (Dexter, MC. Conheceu o hip-hop em 1990)
“O hip-hop é o que me mantém em movimento. Foi em 1990 que a criança rap nacional fez a cabeça de outra criança, eu, que na época tinha 11 anos. O que eu quero para o hip-hop é que ele se torne um adulto com conhecimento, causa, história, aprendizado, diversão e compromisso. Somos tão grandes, então não podemos ser pequenos em nossos objetivos. Neste Dia Mundial do Hip-Hop, vamos pensar sobre tudo o que fizemos até aqui. E agora, o que faremos a seguir?” (Crônica Mendes, MC do grupo A Família. Conheceu o hip-hop em 1990)
“Bem, acho importante termos um dia para contar a idade e celebrar a cultura hip-hop, mas também devemos encarar esse dia como um momento para reflexões sobre o caminho já percorrido e os rumos a seguir. Um dia para refletirmos com mais frieza sobre o que realmente faz – ou não – o hip-hop crescer. A cultura hip-hop merece essa atenção por ser o principal expoente da arte urbana, aproximando o indivíduo de diversas formas artísticas e proporcionando opções de rentabilidade, além de ser um dos principais agentes de transformação nas comunidades. Através de suas oficinas, projetos, estúdios de gravação, shows, festas, venda de discos e uma série de outras atividades, um número representativo de pessoas se envolve com essa arte, aprendendo ou ensinando, ouvindo ou rimando. A perspectiva é que aumentem cada vez mais as opções, possibilidades e condições, mas sem dúvida é muito importante que a qualidade cresça junto. É fundamental que o hip-hop seja entendido em seus diversos estilos. Afinal de contas, somos porta-vozes em diferentes situações cotidianas e de formação. Porém, é importante que o espaço – que sempre foi pouco – seja usado com talento, sinceridade e verdade. Espero que essas reflexões no dia do hip-hop nos una para nos indicar caminhos, de forma que a mentira não se enraize entre nós.” (Max B.O., MC e apresentador de televisão. Conheceu o hip-hop em 1992)
“Na minha opinião, o hip-hop representa resistência, luta e conquistas. Cada dia é um capítulo diferente. São muitas dificuldades. Temos como referência principal os norte-americanos, mas lá a arte é reconhecida, é lucrativa, dá status ser rapper. Aqui, a sociedade ainda nos olha com desconfiança, mas não podemos negar que houve um grande avanço. Ver os grupos lutando para conquistar espaço e a mídia aos poucos cedendo esse espaço é muito bom. Eu tenho o hip-hop como um estilo de vida. Sou membro do proletariado, mas almejo conquistas no hip-hop. Espero que no futuro venham muitas conquistas e vitórias a todos que amam o movimento.” (Klandestino, MC. Conheceu o hip-hop em 1995)
“Mais do que fazer hip-hop, considero que eu sou o hip-hop. Tudo o que eu imaginei para a minha vida e o meu futuro dentro da música, de certa forma, eu consegui através do hip-hop. Eu já frequentava os bailes black de soul e funk quando surgiu o rap. No início, nem sabíamos direito o que era, e víamos como mais uma coisa efêmera, como uma tendência de verão. Mas, como sempre aconteceu com a música negra, o que era bom ficou. Aconteceu com o soul, o funk, e o rap, o hip-hop, também ficou como mais uma vertente. Na época, o acesso à informação era muito difícil, restrito. Os b.boys aprendiam movimentos que viam pela televisão, ou através de amigos que viajavam para o exterior e traziam fitas de vídeo, mesmo que nem videocassete em casa as pessoas tivessem direito.. Hoje, temos tudo na mão, com internet, Google, YouTube… Mas acho que hoje se perdeu um pouco a noção do hip-hop como cultura, muitos se referem a ele só como um estilo musical.” (Billy, MC. Frequentava os bailes black da década de 1970 e conheceu o hip-hop em 1982)
“Anos 1980, andando de skate pelo centro de São Paulo, tive os meus primeiros contatos com o a cultura hip-hop. Andávamos de skate nos mesmos locais onde os b.boys dançavam. Colocávamos nossos cassetes nos boomboxes deles e, desde sempre, o hip-hop interagia com outras culturas, como o punk e o new wave. A música tinha menos barreiras, era uma cultura livre, que desde o primeiro contato entrou no meu sangue e nunca mais saiu. Eu me identifiquei em todos os sentidos. Sinto que muita coisa mudou com o passar dos anos. Surgiu a ´ditadurado rap, impondo regras, barreiras, politizando, o que acabou ofuscando o espírito livre do hip-hop de verdade. Mas o tempo passou mais uma vez e parece que essa ´ditadura
está ficando velha e cansada. E, como um eterno romântico e amante do hip-hop de raiz e da cultura pela qual que me apaixonei e mudou minha vida, acredito muito que estamos caminhando para voltar às raízes e levantar o verdadeiro espírito de música e arte, sem regras e barreiras como o hip-hop que conheci e nunca mais deixei, há mais de 25 anos.” (Zegon, DJ e produtor. Conheceu o hip-hop em 1982)
“Desde que descobri o hip-hop, há quase 23 anos, ele tem sido meu mundo, minha vida, meu estilo de viver. Mudou minha forma de pensar, de me vestir, de agir, de valorizar a comunidade onde moro, os quatro cantos do Brasil e a periferia em um todo. Eu me tornei um homem melhor com o respeito, com o carinho fãs – meus e do DMN – através da minha arte que é rimar, pois hoje sou um rimador graças a esta imensa cultura que invadiu o mundo! Quanto ao futuro do hip-hop, não posso dizer exatamente qual rumo ele vai tomar, mas espero que os quatro elementos da cultura se profissionalizem cada vez mais, e que abram as mentes para o fato de que vivemos em uma outra época. Os anos de 1980 e 1990 foram importantíssimos, mas estamos em 2010 e até viramos do século XX para o XXI. Ninguém pode deter a evolução do mundo. Então, espero que não se limitem, pois, a meu ver, os limitados serão engolidos pelo tempo! Paz aos manos e beijos para as moças!” (Elly Pretoriginal, MC do grupo DMN. Conheceu o hip-hop em 1988)
“Creio que a representação dos 36 anos de hip-hop se compara, de forma ´moderna` e bem menos sofrível, à luta do povo negro pela liberdade, pelo direito de ter direitos – a moradia, a ir e vir, a não ter de apanhar ou ser executado pela polícia ou quem quer que seja só porque está caminhando nas ruas. Vivemos um paralelo histórico e as ações e reações são as mesmas, o que muda são a época e o peso da pancada na carne. Estamos representando uma massa de jovens e de ´jovens há mais tempo´ que escolheram o hip-hop como estilo de vida. Temos a responsabilidade de levar uma ideia construtiva, de mostrar a realidade da população que mais sofre. De modo geral, somos humanos/as, temos falhas, mas acima de tudo dignidade para querer viver melhor e bem com a sociedade. Somos hip-hop, lutamos pelos interesses comuns: liberdade, igualdade e vida digna. Esse é o futuro que eu espero e quero.” (Tiely Queen, MC e ativista do Hip-Hop Mulher. Conheceu o hip-hop em 1989)
“O hip-hop é pra mim um elo entre arte e realidade. A partir dele eu me interessei por política, pelas Ciências Sociais, em geral, e na forma como processo informações. Devo ao hip-hop a sensibilidade que não tinha. Devo ao rap, especificamente, uma formação moral e visão mais ampla sobre as diversidades. Já, sobre o futuro de nossa cultura eu aposto no alargamento do raio de ação. E, Isso pode incluir parcerias, muitas vezes, taxadas de inapropriadas e descabidas, por serem estilos musicais a princípio divergentes, mas próprias de uma cultura em expanção. Por fim, desejo ao hip-hop toda a evolução e realização que lhe é merecida.” (Marcelinho O´Rapper, MC. Conheceu o hip-hop em 1989)
“São 36 anos de hip-hop! Já não é mais uma criança. A cultura foi construída por grandes e pequenos nomes, grupos, solos… Muitos permanecem, outros se perderam pelo caminho, mas o que importa mesmo é esta evolução que está evidente em cada beco, cada viela, fundamental para uma quebrada melhor. O DJ, com sua maestria, encantou e encanta multidões. O graffiti está espalhado alegrando e protestando nos quatro cantos. O hip-hop mudou minha vida, assim como mudou a de muitos. Respiro e vivo o rap. Com certeza, esta arte jamais morrerá. Os manos e as minas com amor, com paixão, estão produzindo, vivendo os elementos do hip-hop. Por esse motivo, digo que o futuro é agora. As portas se abrem a todo momento, e sempre estão chegando pessoas novas com um potencial incrível. O rap pulsa e movimenta multidões. Parabéns, hip-hop!” (Jairo Periafricania, MC e poeta. Conheceu o hip-hop nos anos 1980)
“O aniversário de 36 anos da cultura hip-hop significa amadurecimento, transformação, um processo evolutivo e seletivo completando mais um ciclo! O futuro do hip-hop será repleto de som, muito som mesmo. Hoje é fácil gravar, produzir, colocar um som na internet, e isso fará os rappers correrem mais para conseguir. Isso será bom, mas teremos que ser cautelosos pra não nos perdermos com ilusões.” (Eazy Kaos, MC e produtor do coletivo Reviravolta Máfia. Conheceu o hip-hop em 1990)
“O hip-hop é uma bússola que me orientou no meio de tanta coisa ruim que parecia ser maior que minha vida, maior que meus sonhos. No meio de toda aquela loucura estava o hip-hop e, dentro dele, o rap que mudou a minha vida para sempre.” (DBS, MC. Conheceu o hip-hop em 1992)
“Essa data representa anos de lutas e resistência de uma cultura de/para a periferia! Hoje, com uma nova roupagem e cada vez mais politizado. O hip-hop continua retratando o dia a dia da juventude, de homens e mulheres de todas as periferias. Com uma linguagem que se torna cada vez mais universal, retrata situações enfrentadas por todos nós. Sem dúvida, o que espero para o futuro é um hip-hop cada vez mais preocupado com suas comunidades, que defenda a garantia de direitos do povo da periferia e continue contestando as formas como a nossa sociedade se organiza.” (Giza Nascimento, grafiteira do coletivo Lila´s. Conheceu o hip-hop em 1996)
“Conheci o hip-hop aos nove anos de idade, quando, ainda na cidade do Rio de Janeiro, ganhei do meu pai o CD Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MCs. Lembro-me perfeitamente que naquela época as meninas mal ouviam rap, ou melhor, eu, como aluna de uma escola militar, nunca havia tido a oportunidade de escutar esse tipo de som. Lembro ainda que escutava a faixa 7 (“Diário de um detento”) várias vezes ao dia, e ali tive a oportunidade de me formar como cidadã. O rap, naquele momento, me mostrava que o país era bem mais do que aquele ´mundo militar`, julgado correto por muitas pessoas. A então importância do hip-hop na minha vida foi mais além, quando, no curso de jornalismo, resolvi seguir uma linha mais investigativa, uma linha que mostrasse a realidade das periferias. Hoje, sinto-me orgulhosa de poder fazer parte do mundo do hip-hop. Alguns dos entrevistados deste cenário tornaram-se grandes amigos, pessoas próximas, com as quais consigo trocar experiências, ouvir sons inéditos e conversar, claro, sobre o futuro das crianças da periferia. Não tenho dúvida que Tupac, Grandmaster Flash & The Furious Five, Afrika Bambaataa & The Soul Sonic Force mudaram a vida de muita gente, não só no seu país de origem, como também por aqui. Assim como não tenho dúvida de que Racionais MCs, Dexter, Thaide, RZO, e muitos outros nomes importantes agem na ideia de transformação. Uma transformação livre e revolucionária, digna de que tem a oportunidade de acompanhar a evolução das periferias.” (Yara Morais, jornalista. Conheceu o hip-hop em 1997)
“Sem o hip-hop, sem dúvida, eu não sei como eu estaria hoje, ou o que estaria fazendo. Houve momentos em que eu o enxerguei como a única coisa que eu tinha na minha vida. Pensamos muito no rap porque a música chega a mais lugares, atinge mais pessoas, mas penso que, hoje, os outros elementos têm vida própria. Vejo o breaking como algo muito organizado, e o graffiti é muito independente. O rap tem fases, e acho que o momento é de transformações na indústria musical, o advento da tecnologia… Não está fácil, mas vamos aprendendo. O rap é autodidata por natureza. Acredito que o trabalho vem antes de qualquer recompensa e haverá uma evolução natural. Quem trabalha sério e de forma correta terá seu merecimento, e não falo só do aspecto financeiro. A presença feminina ainda é pequena porque o rap retrata a realidade, é um recorte de uma sociedade ainda muito machista. Mas isso já melhorou bastante. Graças à mulherada que foi pioneira no hip-hop, hoje temos mais espaços de forma respeitosa, e isso continua melhorando. Por isso, é importante as mulheres também se apropriarem dos meios e ocuparem todos os espaços, não só no microfone, mas também tocando, produzindo música, organizando eventos, etc” (Lívia Cruz, MC. Conheceu o hip-hop em 1998)
“Há 36 anos, aconteceu a união de quatro elementos que já existiam, porém não tinham uma ligação entre si, a não ser a de que todos eram elementos culturais produzidos pelos(as) excluídos(as) do gueto. Desta união nasceu o movimento hip-hop, que vai muito além dos quatro elementos culturais: sua ação intervém positivamente na vida de milhares de jovens dos guetos pelo mundo. E é incrível pensar que, em apenas poucas décadas, um movimento originalmente juvenil tenha contagiado o mundo todo com o ´vírus` da paz, amor e união. Essa data, para mim, é um momento de comemoração, pelas grandes vitórias que tivemos aqui no Brasil. O hip-hop salvou e salva muitas vidas, eleva a auto-estima, incentiva a busca pelo conhecimento. Podemos esperar a continuidade dessa história e o seu reconhecimento como uma força sócio, política e cultural dos guetos.” (Re.Fem, MC, cineasta e ativista do Hip-Hop Mulher. Conheceu o hip-hop em 1998)
“Do jovem adulto ao ser humano maduro, 36 anos transita entre esses dois períodos da vida. Deixamos as ´inconsequênciasde jovem para trás e, definitivamente, nos conscientizamos da maturidade e da responsabilidade que ela traz em sua essência. O hip-hop está justamente nesse patamar de toda a sua caminhada. Ainda se encontra ´adolescente
, no sentido de amadorismo em setores como contratos, projetos e pagamentos. Mas, a cada dia, amadurece no sentido musical, com trabalhos de mais qualidade, mais arranjos, mais inteligência e refinamento nas letras (os ´culpados` são os saraus, ainda bem!). Um fato que me enche de orgulho é que, cada vez mais, os outros segmentos musicais estão dando valor e respeito para o nosso ritmo, se interessando e promovendo parcerias importantes.” (Ana Fonseca, produtora cultural. Conheceu o hip-hop em 1999)
“A cultura hip-hop deu rumo a minha vida. Não consigo me imaginar fazendo algo que não esteja diretamente ligado ao hip-hop. Aumentou minha auto-estima, me deu força para estudar, aprender sobre o meu passado, conhecer outras pessoas pelo mundo, que têm as mesmas intenções. O hip-hop fez com que eu me sentisse importante e me destacasse em num mundo excludente, segregador, individualista… Mesmo fazendo e pregando tudo ao contrário disso. O hip-hop é diverso, é coletivo, é cultural, é social, é comercial… Difícil definir uma linha única de futuro para o hip-hop, mas ele crescerá ainda mais nos próximos dez anos.” (Dudu do Morro Agudo, MC e produtor cultural. Conheceu o hip-hop em 1993)
*Deixe também o seu depoimento nos comentários. Informe seu nome e idade, o ano em que teve contato com a cultura hip-hop pela primeira vez e comente a importância dela em sua vida. Participe!
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