‘Vaso Ruim’, um álbum de Rap avesso à ordem vigente
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“Nunca vou privar minha arte pra provar do gosto doce”
Lembrar que o Rap não é apenas um gênero para consumo, mas uma expressão artística que carrega uma força que vai na contramão e incomoda quem não gosta de ouvi-lo também em toda sua crueza e intensidade transgressora.
Nossos parceiros do Oganpazan bem registram: em uma cena onde o Hip-Hop brasileiro frequentemente se vê pressionado a suavizar suas mensagens, ‘Vaso Ruim’ — dos MCs Bonsai e Vector, produzido por Ciano e Gust — aposta em um registro sem concessões, voltando-se para as raízes do Rap e rimando com um olhar crítico. Preferindo explorar a complexidade e as ambiguidades que permeiam o cotidiano periférico, ‘Vaso Ruim’ é recipiente que não quebra com narrativas de ascensão pessoal e sucesso financeiro que predominam nas rimas da maioria dos artistas atuais.
Provocação lírica e métrica combinam universos coletivos e pessoais nas 16 faixas que compõem o disco. Bonsai e Vector trazem uma lírica afiada e provocadora, enquanto Ciano e Gust produzem uma trilha sonora que mescla diferentes formas instrumentais para o submundo do Rap, que aborda de forma serena a violência, a exclusão e as contradições dos sujeitos que habitam nas bordas das cidades e projetam seus sonhos e pesadelos sem filtros e fórmulas que buscam a fácil aceitação.
Vaso Ruim é ruptura, mas também se apoia na herança do Hip-Hop como uma cultura que questiona as normas – e não falamos dessa “subversão” apoiada pelo mercado. Não é uma ação sonora contra o entretenimento, mas apresenta rimas que convidam e interrogam quem está ouvindo. É como um desafio para transformar o Hip-Hop em algo que ele não deixou de ser, uma cultura que também valoriza a autenticidade e a crueza da experiência de rua. “Keep it real”, uma ideia forte que Bonsai, Vector – Coletivo Delta, Ciano e Gust tentam manter. E eles sabem que isso não quer dizer que ser alternativo é ser herói…
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