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O lado do Hip Hop sempre foi bem definido: você é que não entendeu

O lado do Hip Hop sempre foi bem definido: você é que não entendeu

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Foto: Felipe Malavasi/Foto Ativismo | Conheça o trampo em Foto Ativismo.

Estamos em um cenário assustador no Brasil. Politicamente, economicamente e socialmente falando. Nenhuma novidade até aqui. Mas a polarização do país chegou à alguns que se dizem parte do movimento Hip Hop.

Qualquer um que conhece as raízes do movimento sabe que ele foi muito repreendido pela burguesia conservadora e pela mídia. O papel do rap sempre foi muito bem definido: denunciar as mazelas sociais, colocar o dedo na ferida, incomodar quem deve ser incomodado. Mas não dá para ignorar o fato de que o rap atingiu outras camadas da sociedade e com isso, criou-se a liberdade para que outros temas também fossem abordados.

A questão é que com a polarização do país, o que foi taxado como coisa de esquerda é o combate à desigualdade social e racial, luta contra o racismo, a conscientização acerca do feminismo e de causas sociais. O histórico do hip hop é baseado em luta diária. Luta essa que prega o respeito e principalmente, a consciência de classe.

O Rap surgiu dividindo espaço com a cena punk, que também começava a crescer em São Paulo, por volta de 1980. O som não era aceito justamente por relatar o cotidiano periférico. Era música violenta. Sem massagem. Como aceitar como talento uma poesia que denunciava a violência policial, a repressão e a pobreza?

Vale lembrar que nessa época era recente o “fim” da ditadura militar no país. Uma das maiores contribuições do Rap foi mostrar que a ditadura militar não havia de fato acabado, ela continua viva, mas agora travestida de democracia. Uma democracia que tortura, reprime, e que traz consigo resquícios da ditadura e de um passado ainda não resolvido no Brasil. Não é à toa que boa parte dos raps narram a violência policial dentro das favelas e combatem os abusos de autoridade que são na verdade a continuidade do que aconteceu durante a ditadura.

Está circulando na internet desde 2017 uma música de um “MC” que se intitula reaça. Não citarei nomes para evitar visibilidade a esse tipo de conteúdo que é um desrespeito à cena. De repente, o MC resolveu cantar em apoio à Olavo de Carvalho, Bolsonaro, partidos políticos de direita, à polícia e a pátria. Parece piada. Mas é mais sério do que imaginamos. É uma tentativa de destruir anos e anos de história e colocar o povo contra o povo.

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Acerca disso ainda há os que defendem que manifestar essas ideias faz parte da liberdade de expressão. Entretanto, não passam de uma anomalia que surgiu no campo político e migrou para a música. Essas ideias devem ser combatidas porque passar pano para homofobia, racismo, desigualdade social com a desculpa de liberdade de expressão nada mais é que compactuar com isso.

Talvez você não tenha coragem de atacar uma pessoa por ela ser negra, gay ou seja lá o que for, mas ao propagar ideias que desrespeitam a vida desses grupos, isso vai chegar em alguém que tenha coragem de atacar. Desde o dia 30 de setembro, já foram registrados mais de 50 ataques a pessoas em nome desses ideais. Uma jornalista esfaqueada e ameaçada de estupro. Um carro jogado em cima de um jovem com camiseta do Lula que conversava em frente ao bar com os amigos. Uma jovem presa e agredida, jogada nua em uma cela da delegacia. Outro jovem recebe um adesivo colado à força nas suas costas, com um tapa, e depois recebe uma rasteira para cair no chão. Todas realizadas por apoiadores de Jair Bolsonaro, candidato do PSL que está à frente nas pesquisas eleitorais.

Isso mostra que as declarações de Bolsonaro que incitam a violência contra mulheres, LGBTs, negros e índios e a violência policial estão ecoando país afora e se transformaram em agressões físicas e verbais nestas eleições. O fascismo não é uma “opinião diferente”. É uma cultura de ódio que colabora para manter uma sociedade opressora em que minorias apanham na rua.

Boa parte dos seguidores de políticos conservadores aplica o velho discurso de que “bandido bom é bandido morto”. Eles sequer têm noção de que uma das principais virtudes da cultura sempre foi o de regenerar pessoas que cometeram crimes? Que poder o “rap de direita” teria de salvar vidas como sempre fez? O propósito dessas pessoas é recriar o hip hop para beneficiar e privilegiar quem sempre teve isso durante a vida toda? Qual o sentido disso?

O Brasil nunca se livrou da sombra e dos resquícios da ditadura. Durante essa época, a repressão a produção cultural perseguia qualquer ideia que fosse interpretada como contrária aos militares, mesmo que não tivesse conteúdo diretamente político. Mais atual do que pensamos. A censura só foi se moldando, de forma tão sutil que é preciso ser corajoso para enxergar e contestar.

Não há entre nós ninguém ingênuo o bastante para não saber que a militância do rap (essa que vem pensando, se repensando e agindo diretamente com tanta desenvoltura), é tão vigiada, mapeada, grampeada quanto os caras que a “justiça do estado de direito democrático burguês” prende e solta, prende e solta a toda hora. Não dá para esperar que a “milícia” (como afirmam as grandes mídias) bata o pé na porta do primeiro barraco para depois sair correndo atrás do “caveirão” com um habeas corpus nas mãos.

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Tão importante quanto a defesa dos direitos humanos dos moradores de favela é a defesa do direito de ser defensor dos direitos humanos e militante político favelado sem que seja despolitizado, criminalizado e preso ou morto por isso. Voltem para o que faziam até descobrir que poderiam esbravejar os ideais de vocês com rimas. Rimas, não rap. O rap está muito acima disso. Se não suportam a ideia de escutar quem prega igualdade, nunca entenderão nossa cultura.

“Porque somos pacatos pensam que somos covardes
Porque somos humildes pensam que somos submissos
Porque somos calados pensam que aceitamos sem reagir que espanquem, torturem, humilhem e chacinem nossos meninos
Porque rosnam e babam feito pitbull pensam que nos paralisam de medo nos botando terror
Porque amamos a paz pensam que tememos a guerra e fazem de nossa comunidade um campo de concentração
Pensam que ficarão impunes seus crimes perversos contra nossa favela
Porque trazemos os braços abertos e as mãos vazias e limpas pensam que não temos armas pra lutar em nossa legítima defesa
Maior que seu ódio e crueldade é nosso amor pela justiça e pela verdade
Eu que não desprezo o valor de outras armas, escolhi o poema, o funk, o hip hop e o samba”
[…]
Deley de Acari

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Futura jornalista. Anarquismo e caos verbal. Amante da cultura de rua, da poesia marginal e de toda forma de resistência.

6 comments

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Mateus

que texto trap muito bom

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Wendrick

Falaram bobagem ! Hip Hop é o Centro da oposição contra o sistema corrupto seja ele direita ou esquerda , se a sua pessoa se associa a um partido não quer dizer que todo um movimento de décadas vai assumir !

    comments user
    Monge

    Teu xx. Rap é coisa de esquerdista favelado e que odeia a policia. Bem se v~e que é contra o sistema, apoiando o Boulos e o Freixo.