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A autoestima dos homens negros ‘da ponte pra cá’ (com Barão U)

A autoestima dos homens negros ‘da ponte pra cá’ (com Barão U)

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#HipHop #Resistência | Nessa terça-feira (06) os fãs de trap tiveram de engolir em seco a história de racismo vivida por Dfideliz, integrante da Recayd Mob. Em uma sequência difícil de assistir até o final no stories do Instagram, o MC conta de circulou no Facebook uma montagem com fotos suas com a legenda “bonito é esse homem aqui, vocês são no máximo arrumadinhos“. A publicação, porém, recebeu comentários preconceituosos e que inferiorizavam o MC.

É difícil saber o que dizer quando esse tipo de ação ocorre no hip hop, um movimento cultural criado no final dos anos 1960 por imigrantes negros e periféricos que viviam nos EUA e, desde então, se tornou um espaço de luta e enfrentamento justamente ao racismo e à desigualdade social.

Para comentar o assunto, conversamos com Barão U. Fã do trabalho de DfidelizBarão é MC de Santana de Parnaíba (zona metropolitana de São Paulo) e que, entre outros temas, fala em suas letras sobre as dificuldades intrínsecas de ser um homem negro em nossa sociedade:


A autoestima dos jovens negros tem uma ótica diferente ‘da ponte pra cá’. Não é preciso ir longe pra ver o quanto isso nos afeta. É só andar em uma rua do centro e reparar no olhar das pessoas a nossa volta. Estilo e personalidade fazem parte do jovem negro e o que vem com isso? O PRECONCEITO.

O que houve com o Dfideliz essa semana doeu como ser humano mas, como um rapaz preto, doeu 10 vezes mais. Abriu feridas que nunca cicatrizam e geraram lágrimas, oras de tristeza, oras de ódio. Nem consegui ver todos os stories. Tudo falado em tom de ‘brincadeira’, esconde verdades maldosas.

Deixar de sair de casa porque não se sente bem ao olhar ao espelho, deixar de ter um relacionamento por ser achar feio e insuficiente durante a vida por muitas e muitas vezes… O passar dos tempos nos trouxe autoestima e coragem pra enfrentar mas, por trás dessa figura de homem preto sempre é durão, camuflamos por vezes um coração ferido e sentimentos reprimidos que nem podem ser demonstrados pois aparentemente ser humano não cabe a nós. Somos indestrutíveis, marrentos, bravos e etc, o que não é verdade: apenas sofremos calados.

A verdade é que precisamos aprender a confrontar nossos demônios (ou nosso demônio chamado sociedade) e, ao invés de suprimir, expor ao mundo para assim sermos vistos como pessoas que também sentem a dor das ofensas e que não vão responder com agressividade a todo mal que nos é direcionado. Chorei vendo aquilo, chorei quando mais 2 amigos meus me chamaram e contaram que aquilo lhes feriu e, se já é difícil para um artista em ascensão, o que dizer das pessoas comuns?

Sejamos resistência, aliás sempre fomos, pois a nossa beleza é única e isso torna cada detalhe mais bonito vindo de nós, comemore a cada artista que lhe representa, se olhe no espelho e sorria, pois a ferida sempre esteve dentro de nós ninguém vai curar se não nós mesmos, se apoie em que lhe vê da forma que você é e te respeita e admira, além do físico no interior. Lute junto aos seus e valorize sua beleza e autoestima, pois já diria Jorge Ben: ‘O negro é lindo’“.

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