#AlémDeMarço | Raiza: Tranças, conhecimento, trabalho e amor
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Na periferia habitam saberes, conhecimentos que vêm de África passados em conversas cotidianas que se desenvolvem longe dos olhos da grande imprensa ou dos influencers mais comentados nas redes sociais.
Entre o ativismo negro e o bate-papo informal, a ancestralidade pode estar na fala e na atitude dos moradores das quebradas, mesmo que não saibam disso.
Aos que pretendem mudar a realidade cotidiana, a dureza na vida das favelas e cortiços de São Paulo, cabe a iniciativa da criação de projetos sociais que, lutando contra toda a falta de estrutura, proporcionam esperança, mostram caminhos, ensinam e aprendem em parcerias com as pessoas contempladas.
Em relação ao trabalho da mulher negra, o resultado dessas ações também fortalecem empreendedoras que já vinham atuando nos bairros com atividades relacionadas à cultura preta. É o caso de Raiza, mãe negra, trancista e moradora do bairro do Rio Pequeno, na zona oeste de SP, que foi criada na zona sul.
Durante a pandemia, Raiza criou, em sua casa, o Enraizando Hair, que também tem perfil no Instagram. “Eu tranço há 16 anos, aprendi técnicas mais aprimoradas na minha adolescência, mas executo essa atividade profissionalmente há três anos”, afirma Raiza.
Após seis meses de existência do Enraizando Hair, Raiza conheceu o projeto Trançado Periférico, Mulher Negra Cultura Criativa, onde encontrou outras mulheres negras e periféricas que queriam conhecer o mundo das tranças e trocar experiências sobre suas vivências nas periferias da capital.
“O que mais me marcou no Trançado Periférico foi a troca de experiências. Nós viemos com histórias de superação, discutimos relacionamento afetivo, família, questões que envolvem os filhos. É muita luta, cada uma de nós tem uma história de luta. Quanto mais a gente vai conversando, vai se envolvendo, vai conhecendo as histórias de outras mulheres e se fortalecendo através disso”, conta a trancista.
Raiza conhecia a história negra trazida com as tranças, mas afirma que o Trançado Periférico proporcionou a busca por mais conhecimento. Conectada aos novos tempos, a trancista busca inspiração nas redes sociais de outras profissionais brasileiras, nigerianas e russas, entre outras referências. “São pessoas que acompanho atualmente, cada uma de uma região. A partir daí vou criando ideias”, conta.
Dos estabelecimentos brasileiros, Raiza cita Diáspora Black, Brunex Hair, Tranças da Sá, Ateliê Badu, entre outros.
Para a trancista, os principais obstáculos para o empreendimento das mulheres negras são a falta de oportunidade, acesso à infraestrutura e materiais para desenvolver os trabalhos e ensinar outras pessoas.
Ao ser questionada sobre o que é necessário para quem quer conhecer e trabalhar com tranças iniciar o aprendizado, Raiza é direta:
“É preciso saber que antes do ganho financeiro, vem o amor pelo que você está fazendo, empatia pela pessoa que está sendo trançada, paciência para executar várias e várias vezes. Consciência de que haverá evolução com treino constante para chegar ao nível de excelência. Depois de todos esses passos é que vem o ganho financeiro.”
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