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ELASNOBF | Stefanie: 20 anos de carreira, um processo de cura e um legado no Rap brasileiro

ELASNOBF | Stefanie: 20 anos de carreira, um processo de cura e um legado no Rap brasileiro

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A MC Stefanie está prestes a lançar, ainda este ano, o seu tão aguardado disco solo. O trabalho, que era para ter o seu lançamento em 2024, acabou ficando para o primeiro semestre deste ano.

Da cidade de Santo André, no Grande ABC de São Paulo, Stefanie carrega duas décadas de uma trajetória que a levou a ser, hoje, uma das principais vozes do Rap brasileiro. A artista consegue traduzir as vivências de uma mulher negra, mãe e artista em resistência, com ritmo, presença de palco, atitude e, ao mesmo tempo, muita sensibilidade.

Em entrevista exclusiva ao site Bocada Forte, a MC falou sobre o processo de concepção do disco, no qual revisita suas histórias e cicatrizes, transformando-as em reflexões sobre racismo, questões de gênero, superação, luto e relacionamentos.

“Faz tanto tempo que eu quero lançar o disco, então acho que é melhor aguardar e deixar tudo alinhado da melhor maneira possível. Vai ser melhor. Sou suspeita para falar, mas fiz com muito carinho, muito amor. Meditei muito para escrever cada letra, cada linha.”

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Foto de Erica Bastos

Produção de Grou e direção de Daniel Ganjaman

Com direção musical de Daniel Ganjaman e produção de Grou, produtor com quem Stefanie já havia trabalhado no coletivo Rimas & Melodias, o álbum transita por alguns estilos. Do Rap raiz, passando pelo R&B, até o house e, logicamente, o bom e velho boombap. Assim, Stefanie mostra sua versatilidade sem perder sua essência.

“O disco é Hip-Hop, mas também há faixas na pegada de um house. Eu sou apaixonada por R&B, então trago muito disso para o disco. Tem uma dinâmica muito bacana com rimas: há músicas mais pesadas, outras mais tranquilas, algumas contemplativas, dedo na ferida, etc.”

Sobre o produtor Grou, Stefanie enaltece a relação estreita de amizade e muita sintonia. Ele já havia trabalhado com ela no coletivo Rimas & Melodias, projeto que contou com Alt Niss, Drik Barbosa, Karol de Souza, Tássia Reis e Tatiana Bispo, além de outras produções.

“Grou é incrível! Temos uma relação de amizade muito forte. Ele me liga para saber se estou bem, e vamos trocando ideias. É muito louco, passamos horas conversando. Esse projeto tem as pessoas certas, e todo o processo de produção está muito leve.”

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Foto de Erica Bastos

Racismo e autossabotagem

Stefanie também reflete sobre as marcas do racismo e os efeitos da autossabotagem. Afinal, a MC vive uma espera de vinte anos para lançar seu primeiro álbum. Muitas foram as barreiras, mas a principal, segundo ela, foi a autossabotagem. Durante muito tempo Stefanie não acreditava que era capaz, um sentimento que acompanha grande parte das mulheres negras.

“Talvez o álbum não tenha saído antes porque eu sempre achei que fazer Rap é uma responsabilidade muito grande. Expor suas ideias é algo sério. Agora sinto que estou muito preparada e confiante no que vou apresentar.”

O processo criativo foi mais do que composição: foi uma jornada de autoconhecimento, superação e cura. A ideia de abordar sua trajetória de vida no disco veio do diretor artístico Daniel Ganjaman, uma proposta que Stefanie abraçou completamente. Afinal, seu trabalho é marcado por letras e atitudes contundentes, mas também sensíveis e intensas, como ela é em sua essência.

“Foi um processo de cura. A cada verso, eu me curava e me preparava para entregar algo maduro, pesado, mas também sensível.”

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Foto de Erica Bastos

Uma história no Rap Brasileiro

Stefanie iniciou sua carreira em 2004, integrando o lendário grupo Simples, ao lado de Kamau e Rick. Posteriormente, fez parte do selo Pau-de-Dá-em-Doido, ao lado de Enézimo, construindo uma base sólida de respeito na cena. Em 2017, Stefanie deu mais um passo ao integrar o coletivo já citado Rimas & Melodias. O álbum homônimo marcou ao estabelecer uma nova era para as mulheres no gênero. Foi também no álbum Rimas & Melodias’ que Stefanie estreitou laços com o produtor Grou, que volta a ser uma peça-chave em seu trabalho atual.

Com sua história, Stefanie reforça a importância das mulheres no Rap, marcando seu nome ao lado de outras grandes vozes que abriram caminhos. O que vem por aí não é apenas um disco; é uma declaração, um legado e uma prova de que, apesar de todas as adversidades, Stefanie segue firme, quebrando barreiras e inspirando novas gerações.

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Erica Bastos é jornalista e fotógrafa. Filha de nordestinos, do sertão da Bahia, ama suas raízes e procura sempre trazer o olhar de quem está dentro da periferia para o mundo, sem estereótipos.

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