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Perfil: A caminhada de MC Don King e as conexões do projeto Sala Secreta

Perfil: A caminhada de MC Don King e as conexões do projeto Sala Secreta

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No final dos anos 1990, o Rap e o Hip Hop conquistaram destaque na mídia pelo discurso contundente e passaram a frequentar de maneira intensa as teses e discussões acadêmicas, que focaram as letras dos artistas periféricos.

Além de ser uma forma de protesto e resistência, o rap tem um desenvolvimento estético próprio e em constante mudança, seja por meio de novos equipamentos ou pela fusão com outros gêneros musicais.

Foi nesse contexto de transformação no Rap e na comunicação do Hip Hop, principalmente com o surgimento dos primeiros sites especializados no tema, que o MC Don King (DK), criador do projeto Sala Secreta e membro da cultura de rua desde a metade da década de 1990, iniciou uma caminhada que já dura vinte sete anos.

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Uma Trajetória de Raízes Periféricas

Don King tem uma longa história dentro do universo do Rap e do Hip Hop, uma jornada que começou em 1996, nas ruas do bairro Jardim Zaíra, na zona sul de São Paulo. Desde as suas primeiras rimas nas ruas, ele mostrou um talento que logo chamou a atenção do DJ Branco, então DJ da banda Pavilhão 9.

A partir desse encontro, DK entrou para o grupo Primeiro Suspeito, abrindo shows para o Pavilhão 9 e fazendo parte da cena que ajudou a consolidar o Rap nas periferias da zona sul de SP. Don King participa da faixa “Retrato de São Paulo”, que está no quarto disco do Pavilhão 9. O MC também está no clipe da música “Vai explodir”, do P9.

DJ Branco bateu na porta de casa e pediu para eu cantar pra ele. A partir daí, ele me convidou para fazer parte do grupo Primeiro Suspeito, que tinha como integrantes o B.O. (Banido Oficialmente), irmão do Doze, vocalista do Pavilhão, P.R. (Preto de Responsa) ou Paulo Rogério, que infelizmente foi assassinado em meados dos anos 2000. Dali iniciei minha caminhada no grupo, sendo o terceiro MC, substituindo o Doze, que havia assumido os vocais no Pavilhão

Rap, Parceiros e Projetos

Ao longo dos anos, o MC fez parte de diversos grupos, como Oitavo Pecado, em meados de 2001, e Heróis do Gueto, com o rapper Ricco, ex-integrante do Facção Anti-$i$tema. “O Heróis durou até 2007, participamos de algumas coletâneas e gravamos nosso álbum que só foi lançado oficialmente recentemente pelo selo Sala Secreta”, afirma DK.

Em 2005, Don King criou o 2ladujazz, juntamente com o produtor e baterista Pedro Silva, filho do tecladista Luiz Silva, da Groove Soul, banda de soul music gospel que fez sucesso nas décadas de 1990 e 2000 no movimento black gospel de São Paulo.

Já em 2007, o rapper lançou seu primeiro álbum solo, “Triunfando sobre a opressão”, produzido em parceria com Erick 12 e com participações de Lito Atalaia, Tate, do Eclesiastes, Don Pacheco, Ricco, Eazy Kaos, Erick 12, Fex Bandollero, Gilson Lemos e Dudu Nascimento.

Em 2012, DK gravou o projeto Coletivo 02, produzido por Filiph Neo, multi-instrumentista que já gravou grandes nomes da cena como Amiri, Rico Dalasam, Patricia Marx, 5 Pra 1, Rincon Sapiência, Slim, Sorry Drummer, entre outros artistas.

“Com Dee, Marcão, DJ Claytão e Nino Rapper produzimos além do disco, videoclipes com destaque para as músicas Tamu Junto, Vou Lutar, Teu Amor e Firme Fundamento. Participamos do extinto programa de Rap da TV Cultura Manos e Minas apresentado na ocasião pelo cantor Max B.O. com DJ Erick Jay e a Banda Projeto Nave”, relembra o MC.

O rapper lançou o EP “Habeas Corpus” em 2014, trabalho gravado pelo MC Enésimo (PDD), dando o pontapé para a gravação do seu segundo álbum solo.

“In-Condicional”, foi lançado em 2016 e gravado no estúdio 77 Produz, por Fex Bandollero, com capa produzida por Man e Abel.“Neste álbum participaram Nino Rapper, Nayane Soares, Carol Nazareth, Fex Bandollero, DJ Claytão, Eazy Kaos, R. Soul e Eduardo Lima, com produções de Lucas Beatmaker, M2 Beats, Laudz, do Tropkillaz, Green Alien, Véi Beats e Dlamota. Destaco as faixas ‘Infinito’, ‘Rap é o som’ (com videoclipes no youtube) e ‘Liga Noiz”.

No ano de 2018, DK apresentou o EP Elivs Svntxs”, com 5 faixas e participações de Raffa Moreira, Dee Double Dee, Dener Miranda, Hazec, Lipeh e Ricco, Comparsa do, Gueto Organizado, Daniel KDT, QVDO e Véi Beats.

O rapper também fez parte da banca Reviravolta Máfia, lançando 2 coletâneas, 1 DVD e 3 videoclipes. “Também participei de shows e também fui MC de apoio do grupo FA$ durante a turnê do álbum 360 graus de destruição”, recorda.

O Surgimento do Projeto Sala Secreta

Em 2017, Don King sentiu que era hora de dar um passo além. Ele percebeu que havia atingido um nível de maturidade em sua carreira que o permitiria profissionalizar seu trabalho. Foi então que o rapper também mostrou seu lado empreendedor e criou o Sala Secreta, uma iniciativa que se propôs a ser muito mais do que um projeto musical. Com uma equipe que já o acompanhava em projetos anteriores, DK construiu uma estrutura que engloba a música, a moda e a mídia alternativa.

O nome Sala Secreta foi inspirado em pesquisas sobre sociedades secretas, teorias da conspiração e ficção científica. A ideia por trás do projeto é explorar o universo íntimo de cada um, extrair o máximo das capacidades intelectuais e artísticas em busca de um propósito maior. O número 33, escolhido como um símbolo para o Sala Secreta, carrega consigo significados profundos que refletem a abordagem do projeto: representando o passado, presente e futuro, a lei da atração, redenção e expansão da consciência.

As diferentes faces do Sala Secreta

Como selo musical, o projeto é responsável pelas carreiras de vários artistas, como o próprio Don King, o rapper Ricco e Nego Cal. Além disso, o Sala Secreta lança trabalhos de projetos anteriores, como 2ladujazz e Heróis do Gueto.

Na moda, a empresa periférica lançou uma coleção de roupas e acessórios com a marca Sala Secreta e “Nossa Marca é Atitude”, oferecendo itens que vão desde bonés até bermudas, todos com mensagens que refletem a essência do projeto. E na mídia, o site do Sala Secreta se tornou um espaço para matérias que vão além da música, abordando temas como política, cultura, arte, tecnologia e educação.

Desafios e Superando Obstáculos

Em meio ao cenário musical atual, DK reconhece os desafios que artistas independentes enfrentam. A indústria muitas vezes dita tendências e restringe espaços, gerando desigualdade.

No entanto, o projeto Sala Secreta segue a filosofia de criar primeiro para si mesmo e para um público que compartilha da mesma visão. Don King e sua equipe abraçam a independência, a liberdade criativa e a coragem de experimentar.

Em meio ao cenário repleto de novas tendências, o projeto tem planos desafiadores para o futuro, incluindo lançamentos de músicas, clipes e novos trabalhos de artistas sob o selo do Sala Secreta. A mensagem é clara: a música é mais do que entretenimento, é uma ferramenta de mudança e uma maneira de construir legados.

Conectado ao momento atual, mas sem cair em modismos, o Sala Secreta continua a construir sua história, explorando os cantos mais profundos da arte e da cultura periférica, com a missão de desafiar normas e elevar a voz de quem muitas vezes é silenciado. Um testemunho vivo de que a arte, a música e a determinação podem construir pontes para um futuro mais inclusivo e vibrante.