Origens Parte 2 | Aos 50 anos, Edi Rock lança seu 4º trabalho solo
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Praticamente um ano após o lançamento do álbum ‘Origens’ (leia resenha), Edi Rock chega às plataformas digitais com a sequência ‘Origens – Parte 2 (Ontem, hoje e amanhã)‘. Eu particularmente estava bem ansioso para ouvir o disco completo, como já escrevi aqui no Bocada, exatamente no dia 29 de maio de 2020 E.D.I me enviou duas músicas, uma delas era o primeiro single (leia matéria), que foi lançado na primeira semana de junho. No envio o papo foi reto – “você tem que dar sua palavra de não repassar e nem postar ainda”. Papo dado, promessa cumprida e fiquei na ansiedade até domingo (25.10), dia em que consegui ouvir – o álbum foi lançado na sexta-feira (23.10).
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Em meio a essas conversas ele já tinha adiantado alguma ideias e disse que seria um disco muito mais “cru” do que o anterior, com misturas, algumas surpresas e inovações, mas com foco no Rap estilo clássico, a sua raiz. Não achei tão “cru”, mas Edi Rock dificilmente decepciona, o tal “ontem, hoje e amanhã” está bem explicito na construção do álbum e até na ordem das músicas. É preciso, antes de qualquer coisa, destacar o trabalho gráfico que foi todo feito pelo Grupo Opni (Toddy e Val), Grafiteiros da zona leste de São Paulo.
Assista ao vídeo de “Vidas negras”
A faixa título, assim como no álbum anterior, dispensa explicações e pra mim é uma das melhores do álbum. Desde o seu primeiro trabalho solo Edi Rock vem com características de letras e levadas diferentes, mas nesse álbum em especial ele usou e abusou do jogo de palavras nas composições. Em “Dá um grito” ele joga na cara esse recurso, com pequena participação de Big Da Godoy no refrão. Ele brinca muito com as rimas, mas sem perder a ideia que é falar da loucura que é a sua terra natal. Em “Só Deus” é a mesma coisa, jogo de palavras nervoso e mantendo o entendimento sobre o tema central da letra – mentira e traição – essa foi o segundo single, veja o vídeo abaixo.
Outra, ou melhor, outras novidades desse lançamento são algumas participações, parcerias inéditas em sua caminhada. A primeira delas é Thiaguinho na faixa “Um novo amanhã”, não me lembro deles terem feito músicas juntos em suas carreiras solo. Gostei da música, legal ouvir o Thiaguinho cantando o refrão de um Rap, letra com mensagem positiva, inspiração pra seguir em frente. Já na faixa “Grão de areia” não tem participações, ele mesmo se arrisca no refrão, mais uma letra boa, aquela troca de ideia sincera e pra cima, tipo assim – “vou até ali, corro, conquisto, mas volto firmão”. Não é só o ineditismo de algumas parcerias que merece destaque, mas também um reencontro. Na faixa “Paranoia” temos mais um exemplo do “ontem”, Edi se junta novamente com Sombra – quem não lembra do clássico “Não seja mais um pilantra”?
Assista ao vídeo da faixa de abertura
Todas as músicas desse disco se conectam de alguma forma com o título e todo o conceito que Edi Rock pensou pra esse trabalho. Assim como o “ontem”, o “hoje” também está presente nas letras e participações. Por exemplo em “Angola” com Flacko, na romântica “Vai chover” com Guto GT – produção de DJ Will – e também em “Liberdade”, produção do DJ Cia com participação de Lourena e Morcego. Quando ele fala de “origem”, não é só de onde ele vem geograficamente, mas é a sua raiz na música, a raiz do Rap e por isso eu acho que tem tantas músicas com jogo de palavras e uma onde só isso se destaca, é a faixa “Tá tendo”.
Manifesto ‘Origens Parte 2’
Entre as últimas 4 faixas está a outra que ele me enviou em maio, “Som de Iemanjá”. São as suas origens por um outro olhar, é o “ontem”. As festas, os bailes, os rolês, os carros de época e claro o som das águas pra fazer jus ao título. Em “Vai” mais uma parceria inédita, muito bem vinda para a música brasileira, Edi Rock e Jorde Du Peixe (Nação Zumbi) juntos. Letra sobre a realidade atual, é a única com scratches e parece que vai ter vídeo em breve. Outra parceria nunca antes feita no Rap surge em “Dinheiro”, onde ele divide as rimas com MV Bill. Pra fechar as suas “origens” ele se conecta com a África em “Heads up”, que tem a participação de Meakue e produção do DJ Fredy Muks, ambos nigerianos residentes em Los Angeles.
Parabéns Edi Rock, não apenas pelo disco, mas também pelos 50 anos e toda contribuição que você já deu ao Rap no Brasil. Todos nós vivemos um momento muito difícil e a arte, no meu caso a música, tem sido mais uma vez de grande ajuda. Em meio a uma pandemia, onde muitos artistas estão se sentindo bloqueados pelos mais variados motivos, conseguir criar e finalizar um disco é pra poucos. Entendo que no caso dessa obra, de um artista já reconhecido, tenha sido menos difícil por conta de não ter shows, ter mais tempo livre e também o suporte de uma gravadora. Ainda assim, como ele mesmo me disse que respeitou o isolamento por um medo real de ficar doente, foram muitas limitações para produzir e gravar tantas participações. E essas limitações mais uma vez nos levam às origens do Rap por aqui, onde se tirava leite de pedra.
Ouça o álbum na íntegra
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