Opinião: Baco e a africanidade no rap | Por Geysson Santos
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Não tentarei fazer análises profundas do novo álbum do BACO, apesar de achar que merece. Gostaria, na verdade, de refletir um pouco sobre o que o disco “ESÚ” representa na minha concepção, para o rap brasileiro.
Antes de tudo, acho importante ressaltar que o Baco é muito bom de hype. Poucos dias depois de completar um ano do lançamento da música mais impactante que houve nos últimos anos no cenário nacional, “Sulicídio“, o Baco lança um álbum que tem tudo para se tornar um grande clássico do rap. Marcante desde quando lançou sua capa.
“E se eu tivesse morrido pós ‘sulicÍdio’, hoje eu seria um mito.”
O resgate da ancestralidade negra, no álbum do baiano Baco, deve ser vista com ótimos olhos – principalmente para os negros. Nos últimos anos, ressurgiu a polêmica da participação dos brancos no hip hop. É fato, também, que a aproximação da classe média/alta no hip hop, ocasionou um “embranquecimento do rap”. Se partimos do pressuposto que hoje há uma mercantilização da música rap, a indústria musical priorizará o consumo artístico dos brancos, já que vivemos numa sociedade racista. Os negros conseguem utilizar de forma mais eficaz as plataformas independentes, dessa forma, driblando, um pouco, as barreiras do racismo institucional.
Nesse contexto, acredito que o Baco, além de ousadia, teve muita inteligência na didática para lidar com todos esses problemas. A africanidade é latente no álbum do início ao fim. As influências negras dialogam perfeitamente com suas letras, que passeiam num misto de levada e samplers, muito bem trabalhados nos beats do Nansy e do Scooby – para não citar o mestre KL Jay.
“Eu tô brindando e assistindo Um homofóbico, xenófobo, apanhando de um gay nordestino. Eu tô rindo, Vendo uma mãe solteira espancando o PM que matou seu filho.”
Em tempos de discurso de ódio contra as minorias ganhando tanta força dentro do rap brasileiro, é importante se atentar para esses versos do Baco, que, sem dúvidas, marca uma transformação do próprio artista, que na música “Sulicídio” acabou perdendo alguns créditos sobre o debate de opressões.
Percebi que a maneira de se expressar do Baco, causa incômodo para aqueles que ainda acreditam que o rap é uma subcultura. Que bom! O álbum do Baco realmente não está compatível com a compreensão de todos. Os negros aplaudem de pé, Baco.
O incômodo não é apenas para quem trata o rap com desdém, e sim toda cultura negra. Não serei emocionado e dizer que esse será o álbum do ano, mas não tenho dúvidas, que em tempos de Liquidez do Rap, “ESÚ” permanecerá por longos anos, assim como são os grandes clássicos do rap.
No mais, obrigado Baco, nossa raiz ancestral acaba de ganhar mais força para fincar nesse movimento tão conturbado que é o hip hop.
Confira o álbum na íntegra!
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