Opinião: Afinal, o que é o capitalismo? | Por Arthur Moura
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O capitalismo é um sistema econômico em profunda mutação. Aliás, a sua principal característica é a flexibilidade e capacidade de adaptação. Mas, ele não se resume somente aos pressupostos econômicos. É claro que no período inicial de sua formação e desenvolvimento ainda não pressupunha a captura dos desejos. O capitalismo de hoje opera nas relações objetivas e subjetivas da sociedade moderna. Daí então, a dificuldade para se compreender e superar o sistema.
Michel Löwy, em Diálogo com Benjamin, afirma que o capitalismo na verdade é uma religião, onde o mediador universal (o dinheiro), e só através dele, permite o acesso ao grande elemento sagrado do capital: a mercadoria. A mercadoria, no capitalismo, possui dois atributos essenciais: valor de uso e valor de troca. É uma religião, portanto, não pode ser profanado. Expropriar uma mercadoria, ocupar espaços públicos é subverter a lógica de funcionamento do capital. Quem garante todo esse funcionamento no caso de profanação são os aparelhos de Estado, como a justiça burguesa e as forças coercivas.
Tem havido enorme esforço por parte dos liberais e ultra-liberais em suavizar determinadas leituras e entendimentos com a intenção de relativizar ou até mesmo (principalmente por parte dos ultra-liberais e consequentemente setores fascistas) inverter a compreensão do que vem a ser capitalismo, numa tentativa de legitimar o sistema em forte oposição às ideias de esquerda, produzindo uma leitura de que tal sistema é a última forma de sociabilidade humana. Na verdade esses setores querem manter as coisas como estão.
A luta de classes nessa leitura perde o foco principal cabendo ao indivíduo os rumos da sociedade. Essa é uma tentativa de negar o motor da história e da problemática relação entre capital e trabalho principalmente no que diz respeito à exploração direta dos trabalhadores que são os que verdadeiramente sustentam o sistema e não o empresariado como afirmam os liberais.
O fato é que estamos em guerra, ou melhor, o capital está em guerra contra os trabalhadores. Para que exista capitalismo, diz Afrânio Mendes, “faz-se necessária a concentração da propriedade dos meios de produção em mãos de uma classe social e a presença de uma outra classe para a qual a venda da força de trabalho seja a única fonte de subsistência.” Propriedade privada e divisão social do trabalho e troca são, portanto, características do capitalismo.
*Arthur Moura é cineasta,
graduado em História pela
Universidade Federal Fluminense,
mestrando em Educação pela
Universidade Estadual do
Rio de Janeiro.
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