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Memória BF | Entrevista com DJ KL Jay completa 18 anos

Memória BF | Entrevista com DJ KL Jay completa 18 anos

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Foto do encarte autografado

Esta semana é especial para o Hip-Hop brasileiro e por isso decidimos resgatar um conteúdo do mesmo nível. Isto porque KL Jay, um dos DJs mais importantes do país, fará o show de lançamento do seu terceiro disco solo. Nos dias 4 e 5 de julho, ocorre o lançamento, no SESC Pompéia, em São Paulo, do disco “KL Jay na Batida – Volume II – No Quarto Sozinho“.

Tenho certeza que ele nem imagina que em 2001, também na primeira semana de julho, publicamos no Bocada Forte uma entrevista exclusiva com ele sobre o seu primeiro disco, “KL Jay na Batida – Volume III – Equilibrio (A Busca)“.

Lembro dessa entrevista como se fosse hoje. Fiquei ansioso, nervoso. Afinal, estaria frente a frente com um ídolo, uma referência como artista e como ser humano. Em poucos minutos de conversa, esse ser humano diferenciado conseguiu espantar qualquer nervosismo que pudesse atrapalhar a ideia que a gente tinha pra trocar. Estavam junto comigo na entrevista os fundadores do BF, André e Fábio, minhas testemunhas. Além de estar frente a frente com alguém que eu só via no palco, sempre atrás de todo mundo, desde o início dos anos 90, pude conhecer melhor alguém que emana boas energias, que trata todos com respeito e educação independente de quem seja.

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Flyer do Lançamento em 24.06.08

A partir daí tivemos contato em diversas oportunidades. Tive o prazer de estar envolvido na organização do coquetel de lançamento e coletiva de imprensa do seu DVD e segundo disco, “Fita Mixada – Rotação 33“. Episódio que também será resgatado essa semana, com textos e galeria de fotos.

Fica aqui uma entrevista antiga e ao mesmo tempo atual. Algumas coisas não mudaram. Já KL Jay, evoluiu muito de lá pra cá. Interessante ler a entrevista e perceber que ele já tinha observado alguns talentos que se tornariam grandiosos, como DJ Primo. Ele também fala sobre alguns discos que estavam pra ser lançados, até mesmo sobre o disco do Racionais “Nada Como Um Dia Após o Outro Dia”, que estava em fase de produção. Finalizando, uma coisa é certa, suas atitudes e realizações mostram que ele continua a sua busca com muito equilíbrio!

Essa entrevista é um documento da história do Hip-Hop, mais um arquivo valioso do nosso vasto acervo. A entrevista está abaixo na íntegra, um conteúdo que essa semana completa a maioridade, são 18 anos! Leia, aprecie, curta e compartilhe!

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Kléber Geraldo Lélis Simões, 31 anos (quase 32), mais conhecido como DJ KL Jay do Racionais MCs. Ele acaba de lançar seu primeiro disco solo, “KL Jay na Batida Vol.3 – Equilíbrio a busca”. Em ENTREVISTA EXCLUSIVA concedida em sua loja (em sociedade com o rapper Xis), no centro de São Paulo, ele fala sobre esse projeto, sobre Mp3, alguma coisa sobre o novo disco do Racionais, 4P, Hip-Hop e porque deixou o Yo MTV Raps.

Entrevista publicada em 02/07/2001

Capa_01-300x300 Memória BF | Entrevista com DJ KL Jay completa 18 anosBocada-Forte (BF): Faz tempo que você queria lançar um CD seu e porque volume 3?
KL Jay: Já faz tempo que eu queria lançar uma parada minha, mas não era a hora ainda. E eu lancei esse ano porque eu achei que era o meu momento, que eu estava preparado e foi difícil fazer, não é fácil você reunir vários caras e produzir as músicas de acordo com o estilo de cada um. Então tem que estar preparado, tem que ter estrutura. Volume 3 por vários motivos, na época que eu tocava nas festas com o Fresh (SP Funk), a gente lançou duas fitas Vol.1 e Vol.2, a gente fazia a seleção das músicas que o pessoal mais gostava no baile, fazia uma matriz virando dos 2 lados e vendia as cópias no próprio baile. E também porque quando leio jornal, revista eu leio de trás pra frente e é também uma jogada de marketing, então acabou virando um conjunto. Misturou as fitas que eu tinha lançado com o Fresh, minha mania de ler de trás pra frente e essa jogada pro pessoal esperar o Vol.2 e o Vol.1 que eu vou lançar, é isso aí.

BF: E qual foi o seu critério pra escolha das participações?
KL Jay: Eu quis selecionar os caras que representaram e colocaram o Rap no topo, os caras que colocaram a cara pra bater a milianos, como por exemplo o Funk e cia e o Posse Mente Zulu (P.M.Z), mais o Rappin Hood, que formou o P.M.Z depois. E também os caras que ajudaram o Rap a ficar mais forte como o SNJ, os caras que nesse momento são merecedores de estar no meu disco. Não é marra minha, nem prepotência, eu tenho meu disco e tenho que selecionar os caras que eu acho merecedores pra ele, pela história, pela caminhada e no 2 também eu vou colocar outros caras. Tem muita gente ainda pra pôr, já falei com o 509-E, já falei com GOG, com o Nil, os caras pro vol. 2 no momento são esses e outros, que eu já estou pensando.

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Foto do encarte do CD

BF: E na música “O sonho”, a parte que você canta você mesmo compôs?
KL Jay: Foi, e eu sempre quis fazer esse som porque é um sonho mesmo, um sonho que eu tive com Xis a milianos e eu quis chamar o L.F (D.M.N), porque ele fez parte dessa história, ele escreveu a letra 4P há 10 anos atrás e hoje a gente tá com gravadora, com loja, com cabeleireiro, fazendo show e um monte de gente conhece. Então eu queria escrever, mostrar o que eu penso, mas eu não sou cantor não, eu sou DJ!

BF: E a faixa do Kamau (Conseqüência) e do J.L (Território Negro) é ao vivo mesmo?
KL Jay: 90% é ao vivo porque tem erro, todas as passagens de um verso pro outro se você ouvir direito elas combinam com as viradas, quando o Kamau soletra o nome do grupo dele, dá pra perceber que eu fico esperando. Claro que tem parte que é editada, mas é muito pouco, por exemplo a hora que ele errou, ele errou mesmo. Pode ver que ele vem cantando, ele vem dando umas falhinhas, aí ele erra, no que ele errou eu já soltei no contratempo, aí ele parou eu falei pra ele voltar, essa parte a gente editou. Mas do começo ao fim, 90% foi ao vivo mesmo, eu aqui no estúdio, os caras lá do outro lado colocando a voz e eu fazendo. Foi louco o bagulho, por isso que chama “Ao vivo”. Mais pra frente o J.L também erra, mas a gente entrou no estúdio com muita sintonia, o Kamau tava de frente pro J.L, então eles sabiam a hora que cada um tinha de cantar, tô feliz pra caramba, foi ao vivo e deu certo.

BF: E a escolha da base?
KL Jay: Eu mostrei algumas bases pros caras e eles disseram que queriam a Correria (Edi Rock) foi unânime, aumentei a velocidade e combinou com o freestyle.

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Foto da contracapa do disco

BF: E o título do CD, é por causa dessa diferença de estilos entre os participantes?

KL Jay: O equilíbrio, a busca, são várias coisas, mas o motivo principal é o meu momento, é a busca do meu equilíbrio, é o controle da mente sobre o corpo. Se você tem isso, você controla tudo e no meu caso porque não equilibrar o CD? O primeiro disco é mais pesado, é mais rua, mais político e o outro mais diversão, é mais Hip-Hop e aí o equilíbrio mesmo vem com o Brown distante de todo mundo. De um lado tem Bill, L.F, Dina Di (Visão de Rua) do outro tem uns maluco mais tranquilo, mas tem o Brown no final pra equilibrar. Mas é o meu momento, tanto que na capa sou eu meio torto, porque ainda não encontrei o equilíbrio, o toca disco que é a minha vida, o que eu sei fazer, como se fosse um relógio, porque o tempo tá passando e pra tocar também tem que ter o tempo, o ritmo, são vários significados. Acho que o pessoal vai entender, tá bem nítido no disco.

BF: Você pensa em fazer um disco que nem o Funk Master Flex?
KL Jay: Não tem instrumental suficiente pra fazer que nem ele, o CD dele tem 20 faixas. Ele produz 3, o resto é tudo virada. Então eu quis pegar um pouco do que ele fez e do que o Dr. Dre fez, um pouco de cada, mas do meu jeito. Eu acredito que vai chegar uma época que dê pra fazer, mas não é agora, os DJs tem que lançar os mix, vinil com instrumental, senão não dá pra fazer.

BF: As bases do disco são gringas ou produzidas por você?
KL Jay: A única gringa é a do B.A.D (Tribunal Popular), que é a base da música “Death Row” do Notorius Big, o resto é tudo nacional, eu que produzi. Assim, meio a meio, tem muito sample. A “O Sonho” é sample, a da Dina Di eu toquei tudo, mas tem sample também, a do Bill e do SNJ eu fiz inteiras, a do Voz da periferia é sample, a do Xis é sample e eu acho que o Rap é isso, não é só tocar. Eu gosto pra caramba de usar sample. Eu tava com uma aparelhagem muita boa na minha frente e eu quis tocar, eu acho que ficou bom, ficou a cara de cada artista.

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Foto do Acervo BF, KL Jay com Racionais em San Diego/2003

BF: E o que você acha desses caras que usam base gringa, mas colocam no CD que eles produziram?
KL Jay: É ruim isso, os caras acham que enganam as pessoas, mas os moleques não são bobos, eles compram fita de vídeo pirata, ouvem as rádios, eles conhecem. É claro que tem muita gente que não conhece. Mas eu acho que isso vai acabar, a tendência é essa, o Rap tá ganhando qualidade aqui. É foda que não tem condição, é difícil de pagar um produtor, arrumar um estúdio, mas mesmo assim tem que tentar ser original. Nem se você fizer uma música só com batida, mas tem que criar, que o Rap é originalidade também. Pegar uma base gringa e cantar no show ou quando você tá começando firmeza, mas usar no disco acho que já era, não funciona mais.

BF: E os clips?
KL Jay: Todo mundo quer fazer clip desse disco, mas eu vou ver, se Deus quiser. Vou procurar não gastar muito, mas eu tô pensando em fazer uns 4, 5. A do SNJ é uma que eu vou fazer, pensei em fazer um vídeo com animação que vai ficar da hora, é a cara deles, já falei e eles gostaram. A “O Sonho”, a “Tudo por você também”, quero fazer a da Dina Di e vamos ver outra aí, mas é foda que clip é caro. Se não der a gente mesmo faz e já era.

Assista ao vídeo da música “Mente engatilhada” com Dina Di e Lakers

BF: E aquele espaço no final do CD, antes da faixa do Brown, foi proposital?
KL Jay: O Brown tá com 31 anos, então eu quis colocar porque tem a ver com ele e ele é um cara que tá distante de todos os outros, é uma realidade. Todos eles rimam muito, mas o Brown é o Brown né mano, certo? E ele sabe disso e todo mundo sabe, então eu quis colocar ele distante dos caras, não por achar que ele é mais que os caras, mas que ele é melhor e todo mundo sabe isso. E todo mundo vai ver com o Racionais novo que vem aí. E coloquei pra equilibrar o CD também.

BF: Ele que quis só falar e não fazer música?
KL Jay: Eu falei pra ele que tava fazendo um disco e perguntei se ele queria participar, fazer uma música, uma introdução, falar alguma coisa, o que ele quisesse. Aí ele falou pra mim –  “Sampleia tal música do James Brown” – eu sampleei, caímos pro estúdio, ele perguntou – “Posso falar o que eu quiser?” – Falei, pode. Aí deu 16 minutos e meio e eu tô contente, o Edi Rock abrindo o disco e o Brown fechando, era o que eu queria mesmo.

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Foto do Encarte

BF: No disco 2 você começa dando uma ideia pro pessoal mais novo sobre sinceridade, ser verdadeiro. Você é no dia-a-dia aquilo que é nas músicas, nas entrevistas e tudo mais?
KL Jay: Claro, senão eu não falava. Eu não sou mestre, mas eu quis falar porque eu tô no barato há 15 anos, eu vi uma par de coisa acontecer e devido a tudo isso eu resolvi falar. Pra uma par de cara que tá começando agora e acha que é o foda, que hip-hop não é isso, falei o que eu pensava e um monte de gente gostou.

BF: E ter o Nelsão no CD, o que representa?
KL Jay: Mano fazer a música do Funk & Cia foi um dos maiores desafios pra mim. Os caras nunca lançaram nenhum disco solo. Mano, eu vi os caras dançarem aqui na 24 (Rua 24 de maio no centro de SP, local da entrevista). É uma puta referência, eu não podia fazer qualquer som pra eles, pelo respeito que eu tenho por eles. Não podia fazer uma música fraca e nem muito forte, tinha que ser bem a cara deles, bem funkeada, com a levada mais rápida, batida mais rápida e eu consegui, fiz a música e eles gostaram. E é um prazer ter o Nelsão e todos eles no CD, por ter feito parte da caminhada e por ter aceito participar do disco. Eles me chamaram pra fazer duas músicas deles e eu fiz, aí eu sugeri – Se vocês quiserem podem sair no meu disco também, aí eles – “Opa!!!”.

BF: E você escolheu o DJ Cia (RZO), porque ele é Bi-Campeão do Hip-Hop DJ?
KL Jay: Não só por isso, mas porque ele é de milianos, ele conhece de música, ele é humilde, é bom e é o melhor. Ele tem talento, ele é frio, é DJ de verdade, treina em casa, ouve as músicas e tudo mais. Uma par de cara fala que é puxa saco, não é! O cara é o melhor, é meu primeiro disco, tenho que pôr os melhores pra no segundo os caras já esperarem coisa boa, aí já vai ser outro, não vai ser mais o Cia.

BF: Que outros Djs você destaca no Brasil?
KL Jay: O Nuts (Nitro) é bom, o Negro Rico é bom, o King é bom, só precisa ser mais seguro, o Keffing, da minha quebrada que começou há pouco tempo, mas aprendeu rápido e tá evoluindo, meu filho toca muito, tem um maluco de Curitiba que é o Primo que é fudido, o Marco do P.M.Z que precisa evoluir, mas é bom também.

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Foto do encarte

BF: E fora do Brasil?
KL Jay: Ah, mano, aí é sem palavras, tem muito cara bom. Cash Money, que foi o cara que me inspirou, não acompanhou a evolução, mas é foda, o Premier, o Mr. Sinister eu pago mó pau pelo jeito dele de DJ mesmo, bem seguro, o disco pula, ele volta, não faz cara feia nem nada. Eu fico puto quando o disco pula e os caras ficam se lamentando, pulou volta e arruma. O Craze, que é DJ de drum’n’bass, mas é bom, já ganhou 3 DMC e tem muitos lá fora. O Mark, que é brasileiro e representa lá fora, não é Rap, mas representa e eu cito ele no disco.

BF: E a 4P tá de olho em algum grupo?
KL Jay: Não, a gente tem um compromisso com o Conseqüência e o Rota de Colisão e vamos primeiro lançar o disco deles. Eu particularmente tô de olho em uma mano que chama Street, que eu vi cantando no Green Express e achei bom pra caralho, rima bem e tem talento.

BF: Mas não tem nenhum grupo antigo, que ainda não gravou que você acha bom? Você deve receber vários trampos dos caras.
KL Jay: É foda mano! Recebo, mas tenho que rejeitar muita coisa porque os caras não são bons. É chato, mas é a verdade. Eu tenho uma gravadora e tenho que escolher os melhores, senão o bagulho afunda. Rap é que nem jogar bola mano, tem que ter talento, não é só rimar madeira com cadeira, falar da rua, da cadeia, de droga, é um conjunto. Tem que rimar bem, ter levada, saber conduzir a música. É que nem futebol, tem que ter o dom. Você vê o Dunga, ele era da seleção, mas era ruim, o Romário não treina, sai na balada e quando joga destrói. Então é isso, tem que ter talento e tem muito cara que não percebeu ainda que não tem. Não tô tirando ninguém, mas é a verdade e tem que falar pros caras né mano.

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BF: E os caras que tem talento e não conseguem nada, e os que não tem, mas tem quem banca pra tocar a música na rádio?
KL Jay: Os que não conseguem nada são casos isolados e os que não tem talento vão sair do meio naturalmente, os outros vão passar por cima. Esses manos vão ficar sempre assim, limitados a música tocar no rádio, o grupo faz um show aqui, outro ali, depois some. Tem cara aí que não rima nada, não rima uma palavra com a outra e tá tocando e eu vou fazer o que? Vou fazer a minha mano. Você ouve meu disco os cara rimam até umas hora, aquele James do Potencial 3 rimando é uma brincadeira, mano ele empurra a música, ele já entra assim –  “Heeeeey!!!” Tipo, sai que agora sou eu e isso é que é o talento, é natural. No disco do P3 tem uma tal de “É o terror” que canta ele e o Xis que eu vou te falar, não é porque eu produzi não, mas o bagulho é o terror mesmo.

BF: E esse partido PPPOMAR, você também faz parte?
KL Jay: Eu tava no começo quando a ideia surgiu, mas aí eu prefiro ficar de fora e eu queria não comentar.

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Foto do encarte, Kl Jay e Paulo Brown

BF: E o que você acha da pirataria?
KL Jay: É um processo inevitável em um país de terceiro mundo, o pessoal não tem dinheiro pra pagar R$20,00 na loja, aí compra pirata por R$5,00. Eu tenho gravadora e não concordo com a pirataria, mas entendo. Porque o cara que não tem dinheiro, ele vai e comprar e eu não posso fazer nada. E o cara que vende, é o cara que mora na periferia, pega busão, tem família pra sustentar e não tem dinheiro. E quem ganha o dinheiro é o cara que faz as cópias. Eu não compro CD pirata, só se for em último caso, mas não tenho nenhum. Agora eu não posso falar do cara que quer comprar o CD, mas não tem dinheiro. Meu CD vai sair barato por ser duplo, R$ 25,00, R$28,00 no máximo. Na loja e tem CD normal que é 30 conto. Diminuir o preço é uma maneira de combater a pirataria.

BF: E o vinil?
KL Jay: Já mandei fazer, mas como só tem uma fábrica no Brasil e muito evangélico faz pedido, tem que entrar na fila. Daqui um mês, se Deus quiser, tá pronto.

BF: E mp3, você acha tão grave quanto CD pirata?
KL Jay: Eu não concordo com mp3, informação tem que ser passada pra todo mundo só que música é dinheiro, eu sou dono de gravadora, eu pensei em fazer um disco pro pessoal gostar de todas as músicas, aí o cara gostou de duas, ele puxa em mp3, não paga nada, grava no CD e é um comprador a menos. Eu não concordo, só se o cara pagar nem que for 2 conto, meu sócio é a favor? Firmeza, mas eu sou contra. O cara que tem computador tem condição de pagar, se o cara é pobre eu até entendo, você paga estúdio, paga artista, fica até de madrugada trampando, trampa 1 ano no disco, aí sua música tá lá de graça.

BF: Você como dono de gravadora e artista dá um tratamento, uma assistência legal pros grupos?
KL Jay: A gente não tem a estrutura de uma Sony de uma Warner, mas o que a gente se propõe a fazer, a gente faz. Não é fácil fazer uma música tocar na rádio, fazer vídeo clip, conseguir uma distribuidora e isso a gente tenta fazer bem. Pode perguntar pros grupos que passaram pela 4P que eles não tem o que reclamar da gente. Dentro das nossas possibilidades a gente faz.

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Foto do encarte

BF: E quem cuida de tudo?
KL Jay: Das roupas cuido eu e da gravadora cuida eu e o Xis.

BF: Por que você saiu do Yo MTV?
KL Jay: Sai porque os caras tiraram meia hora do programa. Eu consegui a meia hora e já não tava dando pra fazer com uma hora e meia. Sai muito clip lá fora e não dá pra passar, os nacionais são grandes e ainda tem que passar as informações daqui e lá de fora, as agendas. Então eu resolvi sair.

BF: Por que os DJs aqui tocam pouco Rap brasileiro nas festas?
KL Jay: Porque lá fora tem muito cara pra tocar e muita música boa, aqui tem pouca música boa e as que tem pelo menos eu toco. Não dá pra tocar mais Rap nacional nas festas do que Rap gringo, eu vou tocar RZO que não tem nada novo? Não dá pra tocar “Paz Interior” e “Assim que se fala” a vida inteira! Não que seja ruim, mas já passou o tempo de tocar, então tem que tocar quem? SP Funk, APC 16, que lançou o vinil depois de 8 meses, SNJ, 509-e, que mesmo assim já foi a época de tocar, até toco, mas já foi a época. O que toca no rádio eu não toco, me nego a tocar, é muito ruim mano, os cara me pede eu falo não, não toco.

BF: Precisa de mais rádio que toque Rap?
KL Jay: Claro, precisa de mais umas duas rádios de ponta, mas que tenha boa intenção, mas que toque o Rap mesmo. A RCP toca rap o dia inteiro, tá certo que é os produtos deles, mas é bom né mano, você ligar o rádio qualquer hora e ouvir um rap. E quem sustentou o rap até hoje foram as comunitárias, só que comunitária acaba, tem que ter umas 2, 3 que pegue na cidade toda e tenha uma frequência fixa.

BF: Dos últimos lançamentos do Rap brasileiro o que você destaca?
KL Jay: SNJ, 509-e e a coletânea do Movimento de Rua.

BF: Na ideia que você dá no CD, você diz que rap e hip-hop é a mesma coisa, é isso mesmo?
KL Jay: Porque me salvou mano, eu dançava breaking, ocupava minha mente. Eu dançava breaking bem, até hoje eu sei alguma coisa, mas o que eu me identifiquei mesmo foi tocar os discos e é Hip-Hop também e é Rap. Então pra mim é a mesma coisa, tudo me salvou. Hip-Hop é da hora, tem que ter o respeito, porque o rap faz parte dele, mas a realidade é a seguinte: O que todo mundo ouve é rap e eu jamais vou menosprezar o Hip-Hop, mas a realidade é essa.

BF: E televisão vai fazer?
KL Jay: Bom, eu acho televisão importante pro rap, mas o programa certo, no canal certo, com a pessoa certa. Não gosto de Faustão, Gugu, nem Sérgio Malandro, quem quiser ir firmeza. Eu acho da hora o programa da Soninha, o da Marília Gabriela, mas eu não vou porque eu tenho que ser leal ao Racionais, certo? Eu sou o que eu sou por causa do Racionais, então pra amanhã ou depois ninguém contradizer, eu não vou. Até contrário a mim mesmo, mas não vou e firmeza total. Fiz o YO MTV porque era uma outra parada, era um programa específico, só de rap e  eu falava o que eu queria, assim 85% era o que eu queria, tinha uma puta liberdade e não queimou meu filme. O pessoal até hoje me cumprimenta na rua e diz que eu faço falta.

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Foto do encarte

BF: Você já participou de algum campeonato de DJ?
KL Jay: Participei do DMC há 10 anos atrás e fiquei em quarto lugar, até acho que fui injustiçado, só boy julgando né mano. E fiz uma batalha com o DJ Ka faz pouco tempo e eu fui mais ou menos. Eu queria entrar no Hip-Hop DJ, mas eu não posso participar do campeonato que eu mesmo faço.

BF: O que você pode adiantar do disco do Racionais?
KL Jay: Dá até medo de falar do Racionais, tem uma tal lá de “Jesus Chorou” meu amigo! E a “Vida Loka 2” do Brown! Tem uma do Edi Rock que chama “Guerrilha”, se prepara aí todo mundo. Sai em novembro, dezembro mais ou menos, os instrumentais já estão prontos é só cair pro estúdio.

Editor de conteúdo do Bocada Forte desde 2000, envolvido com a Cultura Hip-Hop desde o início dos anos 90. Sempre nas trincheiras, da quebrada pro mundo!

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