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Festival Zunido | The Last Poets e o fundamento do que conhecemos como Rap

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De 09 a de 19 de março aconteceu no SESC Pompéia, em São Paulo, o Festival Zunido. Com atrações nacionais e internacionais, o festival teve em sua programação Rodrigo OgiDr. Drumah, Maíra Freitas e Jazz das MinasMarcos Valle e AzymuthDJ Kid Koala & Lealani e Pupillo, artista que apresentou o projeto ‘Sonorado Apresenta Novelas’.

Consegui assistir a apresentação do DJ Kid Koala, que também conferi em sua outra passagem no começo dos anos 2000. Dessa vez foi bem diferente, ele veio acompanhado de Lealani e mesclou seus sets só com vinil – utilizando três toca-discos – com a apresentação dela tocando seus beats, guitarra e cantando faixas autorais. Koala também cantou uma música e, em certos momentos, os dois também fizeram sons juntos.

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Pela primeira vez, pude presenciar o baterista e beatmaker baiano Dr. Drumah se apresentar com banda, criando um grande show instrumental. Seria ótimo que ele viesse mais vezes e se apresentasse com MCs que ele já produziu, seja com banda ou DJ. Na mesma noite, Rodrigo Ogi subiu ao palco com o DJ Nato_pk e  banda.

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Sharrif Simmons – Foto por Erica Bastos

Confesso que o encerramento do Festival era o que eu mais esperava, com os The Last Poets. Jamais imaginei que um dia fosse assistir uma apresentação deles. Assistir o TLP é uma experiência única e foi um divisor de águas presenciar os precurssores do Rap. Ver esses senhores declamando suas poesias sobre revolução, amor, orgulho negro, contra o racismo e a violência – prestes a completarem 55 anos de carreira sem se render totalmente à indústria – é a certeza de que é possível continuar sua arte sem se entregar à mediocriade imposta pelo mercado.

Assista a versão restaurada do filme ‘Right on!’, de 1970

Vieram ao Brasil dois dos membros da primeira formação Abiodun Oyewole David Nelson, acompanhados de Sharrif Simmons, que é poeta, escritor, professor e músico, além do percussionista Baba Donn Babatunde, que já acompanha o grupo há algum tempo.

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Abiodun Oyewole, Baba Donn Babatunde, David Nelson – Foto por Erica Bastos

A simbologia de tudo que eles apresentaram é o que boa parte dos rappers e MCs abandonaram com o passar dos anos. Na abertura, rolou uma breve citação na voz de KRS-One, esse é o nível dos MCs que eles se aproximam e até fazem colaborações.

Assisti ao show do dia 19/03 (domingo). Antes que começasse, o MC Rodrigo Brandão fez as honras da casa, a pedido deles, e explicou que o primeiro a subir ao palco seria Sharrif, que não é qualquer um, o poeta tem uma caminhada respeitável junto à sua comunidade. Este fato, para os The Last Poets, é mais importante do que o tal “hype”.

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Abiodun Oyewole – Foto por Erica Bastos

Sharrif é o mais novo de todos eles. É também o membro mais recente a integrar essa formação. Sua apresentação foi com violão e as palmas do público acompanhando algumas de suas rimas, seu flow e até ajudando no refrão. Baba Donn Babatunde deu sequência a apresentação, literalmente abrindo os caminhos para a ancestralidade do canto falado dos fundadores Abiodun Oyewole e David Nelson. Eles tiveram o cuidado de contar brevemente a história e o surgimento do grupo, que foi em 1968, exatamente na data do aniversário de Malcolm X, no Mount Morris Park (hoje conhecido como Marcus Garvey Park) a motivação foi a morte de Martin Luther King Jr.. Abiodun disse que Gylan Kain, outro membro fundador, o ensinou a transformar a sua voz em uma arma. É isso que eles fazem até hoje com maestria.

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David Nelson – Foto por Erica Bastos

Falei sobre a simbologia, que foi uma das coisas que mais me chamou a atenção. Isso está na raiz deles, veja que a criação do grupo está fundamentada na vida e morte dos 3 Ms – Malcolm, Martin e Marcus. Ainda sobre este fato, os poetas apresentaram primeiro ao público o integrante mais novo. Antes que começassem de fato a apresentação, fizeram reverência a outros integrantes que já passaram pelo grupo. De ponta a ponta, foi uma demonstração de respeito, inclusive lamentaram o fato de não poder dialogar com o público em português e prometeram numa próxima vez voltar falando nosso idioma.

Se não me falha a memória, são poucos os artistas estadunidenses, principalmente do Rap, que já disseram no palco que se sentem mal por não poderem conversar com o público brasileiro em português.

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Baba Donn Babatunde – Foto por Erica Bastos

Quando a apresentação terminou, eu senti como se tivesse assistido os MCs e as MCs que mais admiro: KRS-One, Chuck D, Guru, Rakim, Black Thought, Dead Prez, Common, Nas, Akua Naru, Sa-Roc, Rita J, Bahamadia, e tantos outros e outras. De certa forma, foi o que aconteceu, porque ali no palco estava o fundamento do que conhecemos como Ritmo e Poesia, tudo que veio depois é derivado do The Last Poets. Insisto em mais um fato simbólico que aconteceu na mesma semana: enquanto os ancestrais vivos do Rap estavam em São Paulo, um grande nome do Rap, que um dia foi da rima, viralizou nas redes sociais se apresentando com uma banda de rock.

Nada contra, o que faço aqui nem é uma crítica negativa, é apenas um fato que mostra o quanto o mercado e a indústria capitalista destrói ou tenta destruir o que Abiodun Oyewole, David Nelson, Sharrif Simmons e Baba Donn Babatunde resistem e insistem em manter de pé.

[+] LEIA A ENTREVISTA E RESENHA DO SHOW NO OGANPAZAN

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Confira como foi o primeiro dia da apresentação

Veja algumas performances do grupo

 

Editor de conteúdo do Bocada Forte desde 2000, envolvido com a Cultura Hip-Hop desde o início dos anos 90. Sempre nas trincheiras, da quebrada pro mundo!