#ElasNoBF: Quatro artistas falam sobre problemas e superações durante a pandemia
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A pandemia pegou muita gente de surpresa em março de 2020 e desde então estamos há quase oito meses tentando obedecer protocolos de distanciamento social e cuidados orientados pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Um dos setores mais atingidos foi o entretenimento, que para gerar renda precisa da tal aglomeração, então shows, espetáculos e festas, que são o motor financeiro de muitos artistas, foram cancelados. E o pior, sem previsão de volta.
Um cenário que já era complicado para as mulheres, em virtude do machismo estrutural, foi dificultado ainda mais. As minas têm de lidar com festivais e “line ups” com pouca representatividade, além dos cachês mais baixos, entre outros problemas.
Neste contexto, vários artistas e pessoas que trabalham na área tiveram que encontrar maneiras de continuar mostrando sua arte e permanecerem ativos. As lives então ganharam força.
O site Bocada Forte entrevistou algumas artistas e produtoras que se viram neste novo cenário. A tônica foi se reinventar, o que é bom, entretanto sem muito apoio.
Exemplos como a DJ Yve, integrante do coletivo QG das Minas, que aproveitou o isolamento e o “boom” das lives para se dedicar mais ainda à sua sonhada carreira, entretanto, continuou trabalhando em sua área como designer.
A produtora Catarina Marçal, responsável pela festa A Punga também recorreu à produção de lives para manter seu time focado, com os DJs residentes da festa e convidados para sustentar sua marca e não perder o ânimo.
A jovem DJ Esteves, que mesmo feliz com as lives e conexões com outras DJs, ainda se viu precisando de um trampo para poder seguir.
As lives não foram a solução para todas, a cantora de R&B e integrante do grupo Rimas & Melodias, Tatiana Bispo lançou seu tão esperado primeiro trabalho solo, mas fazer o lançamento online não a animou tanto.
“A solução imediata para os artistas foi suprir a falta de shows com as lives, mas eu sinceramente fiquei desanimada de ter que trabalhar um lançamento – que é tão importante para mim – de uma forma diferente da que eu idealizei”
As minas continuam correndo por conta própria, por amor e sem patrocínio ou apoio de alguma empresa ou marca. Os “novos tempos” continuam os mesmos para as mulheres.
Tatiana Bispo, cantora de R&B. NeoSoul, integrante e uma das idealizadoras do grupo de “Rimas e Melodias
“A pandemia e essa fase de quarentena afetou profundamente o planejamento programado para lançamento do meu disco. Meu álbum foi lançado no começo disso tudo, em abril, e ainda não tínhamos ideia da gravidade da situação e nem suas consequências. Jamais eu iria imaginar que a gente viveria um isolamento social.
A solução imediata para os artistas foi suprir a falta de shows com as lives, mas eu sinceramente fiquei desanimada de ter que trabalhar um lançamento que é tão importante pra mim de uma forma diferente da que eu idealizei.
Acho que, nesse período, eu mais renovei ideias para os próximos meses do que trabalhei dessa forma online. Não significa que eu não vá me adaptar. Se realmente for o caso, não tem jeito. Mas como artista independente, sem apoio ou patrocínio, tudo fica um pouco mais difícil, então é o momento que eu tenho para acalmar o coração e pensar na melhor saída sem que a qualidade do trabalho fiquei comprometida”
Redes sociais – Instagram / FaceBook / Rimas e Melodias
DJ Esteves
“Pra mim a pandemia tem sido bem complicada, pois não consegui trabalhos remunerados, fui conseguir um job remunerado este mês, depois de 6 meses de pandemia, mas fora isso agradeço por estar bem e com saúde, meus familiares também!
Estou tentando movimentar fazendo lives, no começo fiz algumas no Instagram, e agora estou na Twich, que é uma plataforma que está ajudando muito nós DJs. Às vezes rola uma ajuda do nosso público pelo QR Code.
Eu, como não tenho todos os equipamentos, não tenho muita liberdade de fazer todos os dias, mas to tentando fazer pelo menos 1 vez na semana. Sobre os prós e contras de fazer live, um ponto negativo é que a gente fica meio cego, não da pra saber se as pessoas estão curtindo realmente, igual quando rola pessoalmente, que da pra sentir mais a pista.
E um ponto super positivo é que estamos podendo nos conectar com pessoas de vários estados, até mesmo de outros países. Conheci muitxs DJs nesse pouco tempo que estou fazendo live, essa conexão é muito foda!!”
Redes sociais – Instagram / Twitch
Catarina Marçal, publicitária, produtora, curadora de conteúdo e founder ceo da Festa Punga.
“Pra mim, a situação mais pesada é saber que não só eu que dependo de mim, meu time também, já que eu que estou à frente e fecho os trampos da Festa Punga.
Claro, que a situação é geral, mas é tenso. Junto com essa questão da mudança, veio o lance de se reinventar também, que eu achei muito positivo. A gente tem feito coisas absurdas de lindas, de uma maneira que a gente não tinha pensado antes, como as lives e eventos pelo zoom.
Esse movimento nosso, em prol da gente mesmo, tem sido muito massa. Só vou voltar com a Festa Punga presencial após tudo isso passar, então sinto que ainda há bastante pra gente se reinventar.
A dificuldade maior tem sido se adequar. Aprender algo novo literalmente do zero pra engrenagem girar.”
Redes Sociais – Instagram / Insta Festa Punga / FaceBook Punga
DJ YVE
Integrante do coletivo feminino de discotecagem QG das Minas, residente das festas Malemolência e Acenda o Farol, que homenageia Tim Maia. Atualmente tem o programa Grooves & Batuques na Uh Manas.tv e integra o Baile da Discordia, na Twitch.
“Quando começou a pandemia, aqui no Brasil, e a gente começou a quarentena, eu tinha recém saído do trabalho, porque além de DJ, eu também sou designer. Eu estava já querendo focar mais na carreira de DJ também.
Estava rolando vários eventos e festas, inclusive a primeira live que comecei a fazer foi dias antes do decreto oficial aqui em São Paulo. Tinha sido cancelado o evento da ‘Escadaria do Jazz’ que eu ia tocar dia 15 de Março, eu resolvi fazer uma live pelo Instagram.
Ali já comecei a entender a questão de direitos autorais que a plataforma tem, caí mas voltei. Acredito que não caí novamente porque toquei músicas não tão populares.
Enfim, depois disso, comecei a fazer outras lives aqui na varanda do meu apartamento, minha mãe mandava paro grupo do prédio para galera acompanhar no Instagram e muita gente achava que dava para ouvir pela varanda, porém o som não é tão alto assim, teve um morador do prédio que tinha equipamentos de som e iluminação, porque ele ja foi DJ de festas sociais. Então propuseram que eu tocasse para todo mundo aqui do condomínio que moro, que são 6 prédios de 25 andares.
Foi bem extraordinário o que ocorreu, no sentido de ser algo totalmente fora do normal, eu tocando lá de baixo do boulveard do condomínio para todo mundo ver pelas suas varandas. Todo mundo agitou muito, foi muito legal curtir esse momento.
Depois desse dia, ainda fiz mais umas três lives para o pessoal do condomínio, até as crianças dançavam e pediam música também. Eu transmitia pelo Facebook, porque lá a live não ficava caindo como no Instagram, da varanda o pessoal curtia na Internet e outras pessoas fora do prédio curtiam também.
Depois disso tudo, eu estava querendo voltar a fazer minhas lives em casa, porque era mais livre para fazer os sets do que nessas outras apresentações, nelas eu tocava música mais pop num setlist de festa de casamento.
O chato era esta questão de ficar caindo a conexão por conta dos direitos autorais, aí vi alguns grandes DJs como Zegon, fazendo live na Twitch, então estudei um pouco como era e resolvi fazer minha festa de aniversário transmitindo eu tocando de lá…
Foi muito legal porque comecei a entender a dinâmica de lá, a interação no chat e tudo mais. Fui evoluindo na questão técnica, o que foi uma dificuldade no início, saber quais cabos dariam para fazer o som direto e o melhor para imagem também. Isso foi em 22 de maio, muita gente ainda não estava sabendo sobre a Twitch.
Eu também faço parte do coletivo de DJs mulheres, QG das Minas, encabeçado pela DJ Vivian Marques, que desde do início da quarentena começou a fazer lives semanais – hoje estão um pouco mais esporádicas- também começamos no Instagram e eu dei a ideia de irmos para Twitch.
Fomos um dos primeiros coletivos femininos a estar por lá. Aos poucos fui melhorando as configurações, comprei microfone, cabos e passei a transmitir por um programa de transmissão. Antes eu fazia pelo celular.
Ainda surgiu o Uh Manas.tv, que reúne trabalhos de artistas e produtoras virtualmente, um coletivo que teve a ideia de ter um dia todo só com mulheres tocando na Twitch como programação semanal, em resposta à lines majoritariamente ou totalmente masculinas.
Acabou que em pouco tempo o Uh manas.tv começou a transmitir todos os dias e eu me inseri também. A parte ruim é não ter contato com o público direto e não estar rolando grana, mas como tenho outro trabalho…está tudo bem…Tocar tem sido minha hora de lazer”
Redes Sociais – Instagram / FaceBook / Twitch
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