Fábrica Vinil Brasil proporciona novos horizontes aos artistas independentes
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Ele é poeta, compositor, DJ e músico do gênero soul, ama o hip hop e, há quatro anos, movido pelo espírito “faça você mesmo”, tomou uma atitude punk .
Michel Nath é o idealizador da Vinil Brasil, uma fábrica de discos que já tem mais de 160 títulos produzidos, todos com padrão standard de qualidade. “A gente não faz qualquer coisa aqui”, diz Nath ao falar sobre o processo de produção da empresa, que tem consultor de áudio e o experiente engenheiro Rodolfo Puccione em sua equipe.
Situada na Barra Funda, na capital paulista, a Vinil Brasil tem cerca de 65 mil unidades lançadas desde setembro de 2017, quando empresa começou a atender clientes. Um dos últimos lançamentos é a edição comemorativa do disco ‘Antigamente Quilombos, Hoje Periferia’, do Z’África Brasil, que foi pra rua em 2002.
O COMEÇO
Em 2014, Nath resolveu lançar seu projeto autoral, Solar Soul, em vinil. O disco foi prensado na República Tcheca, mas o músico teve uma dor de cabeça enorme com a qualidade e a demora para receber o produto encomendado.
Em 2015, Nath encontrou prensas para produção de discos de vinil abandonadas num ferro velho. “Eram equipamentos da década de 1950, modelo Hamilton americano, pertenciam à gravadora Continental, que ficava na Avenida do Estado”, relembra.
Com um sócio, o músico empresário decidiu comprar e reformar os pesadíssimos equipamentos. A história da Vinil Brasil começava. Faltava o lugar para abrigar as máquinas. “Eu sou nascido aqui na Barra Funda. O local onde eu coloquei as máquinas para reformar é onde meus pais moravam. Eu nasci aqui. A rua Cruzeiro é aqui do lado”, diz Michel Nath.
Artista, colecionador e admirador da cultura do vinil, Nath não deu importância aos novos rumos que o streaming e as plataformas digitais impuseram ao do mercado da música.
“Na época em que comecei, eu não tinha noção do que ia acontecer. Eu não sou um cara que veio da indústria. Sou um músico que viu uma lacuna cultural que precisava ser cuidada”, afirma o empresário.
Foram nove meses numa garagem, período que Nath diz que foi embrionário. “No sétimo mês eu tomei a consciência. Demorei dois meses rodando a área e encontrei esse galpão.”
Ao ser questionado sobre qual foi a sua verdadeira motivação para criar a Vinil Brasil, Nath é assertivo.
“A minha questão é cultural. É óbvio, eu sou um dono de uma empresa. Se eu não cuidar da questão econômica, a gente não vai estar mais conversando aqui na Vinil Brasil. As duas coisas caminham juntas. Não desmereço a questão comercial, mas coloco o dinheiro no lugar em que eu acredito que ele tem de estar. É uma energia de troca para que as coisas floreçam e caminhem para frente. Eu sou um homem de negócios, entretanto, coloco a música em primeiro lugar […] Eu não vejo dinheiro nas máquinas. Eu vejo a capacidade de produzir música”, conclui.
SUPERAÇÃO
O empresário afirma que hoje é muito diferente do músico que no passado não tinha noção técnica de como cuidar de uma fábrica, que teve que amadurecer relações humanas e interpessoais. “A fábrica é muito mais que a prensa”.
“Pra mim neste 2019, é como eu estivesse me formando numa faculdade de cuidar de fábrica e de fazer discos. Agora, eu estou começando o meu masterclass, meu doutorado, minha pós-graduação”, afirma.
Segundo Nath, os possíveis fornecedores da Vinil Brasil não tinham a fórmula do PVC apropriado para a produção do vinil. A empresa lidou com fórmulas que foram utilizadas há 20 anos atrás aqui no Brasil.
“Hoje os componentes não são os mesmos, você tem 90% ali do PVC e você tem elementos que dão a liga para chegar ao PVC do vinil. O PVC milhares de formulações diferentes para finalidades diferentes. Os fornecedores não tinham mais o know how para a execução do serviço”, relembra.
Passamos por quatro fornecedores. tivemos fornecedores que nos deixaram na mão. graficamente falando, aconteceu a mesma coisa com as gráficas, no caso do rótulo.
ENTRE MÁQUINAS E CRIAÇÕES
Atualmente, o empresário tem em seus planos a criação de uma loja e um selo para trabalhar com os artistas que ele acha que são relevantes na cena da música e da cultura do vinil.
Com a correria da Vinil Brasil, Nath sente falta de trabalhar como músico e DJ. “É raro eu ter a oportunidade de tocar, de discotecar. Já faz um tempo que participei da Discopédia, toquei discos que foram produzidos na Vinil Brasil. Qual DJ tem um case de discos da sua própria fábrica?”.
Michel Nath- que como DJ carrega o nome Alquimix- diz que seu lado compositor não para. “À noite, em casa, vem alguma coisa, aí eu anoto e guardo num acervo. Uma hora eu vou realizar isso de novo”, diz.
MERCADO
De acordo com a consultoria Nielsen, o vinil ultrapassou 14 milhões de unidades comercializadas em 2017. Apesar de não termos estudos consolidados sobre o consumo de vinil No Brasil, especialistas da área afirmam que a demanda está em expansão.
Para o empresário, ter uma fábrica de vinil e ser da música por amor é seu grande diferencial. Sua maneira de pensar o mercado fonográfico conquista clientes e amantes do vinil. “Pra mim, a grande riqueza e o grande poder estão no nosso modo de produzir música bem produzida”.
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