2021: Nossa cultura militante precisa de apoio
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O caótico ano de 2020 teve grave impacto na vida e na arte dos integrantes do Hip Hop. Os artistas periféricos e militantes, aqueles que sobrevivem no rodapé da pirâmide do mercado cultural, foram os mais prejudicados.
Em meio ao ano que se inicia, a situação se complica. Com fim do auxílio emergencial e com a Lei Aldir Blanc não contemplando a grande maioria dos artistas e produtores culturais, entre outros que constroem a cena independente e alternativa, vem à mente um trecho da música “Matemática na prática”, uma parceria entre GOG, Japão e Dino Black: “se o futuro fosse hoje, seria embaçado…muito embaçado”.
Políticas de fomento à cultura serão implementadas neste 2021, os editais serão divulgados, mas o ano que passou mostrou como é frágil a estrutura dos que não estão no que parte da cena e do mercado cunhou como topo.
Não podemos criar ilusões, não há espaço para todos, entretanto, não podemos cair no fácil discurso da meritocracia reproduzido por parcela significante dos mais tocados nas plataformas.
“Parem de chorar, está ruim para todo mundo nesta pandemia”. Este é o resumo dos comentários contra quem faz a análise da realidade atual dos DJs, MCs, poetas e cantores periféricos nas redes sociais.
Num momento como este, é crucial a valorização da música que provoca indignação e esperança, parafraseando o sociólogo espanhol Manuel Castells. Não propomos boicote algum aos outros temas abordados pelos artistas mais populares. Não se trata de tê-los como inimigos que precisam ser destruídos, muitos têm as mesmas origens periféricas e negras, muitos ainda estão cercados pelo afeto dos seus iguais.
A questão é ampliar o discurso, retomar algo que está na essência do nosso Rap para dar relevo à uma realidade que todos conhecem, mas estão anestesiados por fatores que vão da política conservadora que domina nosso país ao mantra neoliberal que o Rap e o trap estão envolvidos.
“Por favor, todas as minhas canções são de cunho político-ideológico!! Não me peça um absurdo desse, não me peça para silenciar, não me peça pra morrer calado. Não é por ‘eles’. É por mim, meu espírito pede isso. E está no comando. Respeite ou saia. Não veja, não escute. Não tente controlar o vento. Não pense que a fúria da luta contra as opressões pode ser controlada. Eu sou parte dessa fúria. Não sou seu entretenimento, sou o fio da espada da história feito música no pescoço dos fascistas. E dos neutros. Não conte comigo para niná-lo. Não vim botar você pra dormir, aqui estou para acordar os dormentes”, disse o cantor Chico César ao internauta que pediu para que ele evite canções políticas.
Falando de trap e Rap internacional, reportagem do site da CNN (EUA) registrou a importância dos artistas de Atlanta para a derrota de Donald Trump nas eleições. “Foi o que aconteceu em novembro. A comunidade de Hip Hop de Atlanta foi às ruas e lojas de beleza e barbearias, levou para o Instagram e YouTube, e liderou os impulsos eleitorais para ajudar a transformar a Geórgia de vermelho para azul – e eles estão trabalhando para virar o Senado dos EUA nos segundo turnos do estado na próxima semana”.
Para não nos estendermos muito, precisamos também lembrar que muitos membros da cultura de rua brasileira, dos coletivos e movimentos sociais nunca baixaram a guarda, apesar de todas as dificuldades trazidas pela pandemia e pelo modelo econômico escolhido por nossos governantes.
Em São Paulo, integrantes do funk, trap e rap criaram a cypher “50 pelo certo”, declarando apoio ao candidatos Guilherme Boulos e Luiza Erundina, do PSOL, para a prefeitura da cidade. Os artistas também levaram propostas para a melhoria da vida do povo pobre, preto e periférico.
Nossa cultura militante vive…e precisa de apoio.
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